A capital inglesa traz uma cena gastronômica incrível e pode, ou deve, ser apreciada com grandes vinhos
Eduardo Milan e Wendy Elago Publicado em 30/09/2022, às 08h20
Ao contrário de França e Itália, a Inglaterra não costuma ser historicamente lembrada pela boa mesa. Quanta bobagem! A cena gastronômica londrina, por exemplo, é bastante rica.
Desde as opções mais informais dos mercados, como Borough Market, até os imperdíveis Barrafina (espanhol) e Noble Rot (wine bar), come-se e bebe-se muito bem na terra da eterna Rainha, sim.
No final de abril deste ano, por ocasião do julgamento do Decanter World Wine Awards, eu e minha mulher pudemos nos deleitar em uma série de lugares que valem a visita. Destaque para o premiado Trivet.
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Com a bagagem de vasta experiência vinda de suas passagens pelo The Fat Duck, o chef Jonny Lake e o master sommelier Isa Bal uniram-se para abrir o Trivet, em Berdmondsey, que não conquistou sua estrela Michelin em 2022 à toa. Tudo no restaurante parece certo, desde o ambiente elegante, porém sem afetações, até os pratos, que saem de uma cozinha aberta para o salão, onde a equipe dispõe de ingredientes de primeira qualidade para prepará-los com maestria, como se fosse uma orquestra silenciosa.
O serviço de vinhos, sob a batuta do simpático Isa Bal, não fica atrás. A carta é extensa (conta com mais de 350 rótulos, de países tão diversos como Geórgia, Armênia e Turquia, mas também Itália e França, e tanto produzidos por métodos naturais quanto convencionais), porém clara e bastante objetiva.
Cada um dos vinhos é descrito de forma didática e também divertida, através de uma legenda de pequenas imagens, que os descreve como biodinâmico, orgânico/sustentável, vegan, laranja/contato com as peles, funky (desafiadores/sem sulfitos/contato com as peles, etc.).
Apesar dos tantos vinhos incríveis, disponíveis em safras premiadas, não havia como não aproveitar a oportunidade para explorar e provar rótulos inusitados e raros de encontrar. De início, para acompanhar os biscoitos crocantes (com a textura que lembra a de um mandiopan) de beterraba, malte e mostarda e as azeitonas kalamata e gordal com zahtar, uma taça de espumante rosé de método tradicional produzido na Inglaterra, pela premiada vinícola de pequena produção Coates and Seely. Por sua textura firme e cremosa, e sua pulsante acidez, casaram muito bem com a diversidade de sabores das entradas.
Seguimos o jantar com pratos que pediam um branco. Dada a celebração pela primeira viagem pós-pandemia e pelo final de dias proveitosos de julgamento, a escolha foi um Champagne cult de pequeno produtor, o Assemblage S.A. Sans Année Autre-Cru, do Domaine Novack, que, por sua versatilidade e frescor, escoltou muito bem tanto os primeiros pratos (uma massa tipo pici com caranguejos e barba de frade, e um robalo curado com bacalhau vermelho, cevada tostada e grãos de milho verde jovem, sementes de mostarda e quinoa), quanto os principais (um frango cozido em molho de vinagre e peito de frango Cotswold assado com tardivo – uma espécie de radicchio – grelhado, e um peixe rodovalho no vapor com abobrinhas trombetta, picles de rabanete e molho de manteiga e Chardonnay).
Para o curso de queijos (quatro ingleses – Stichelton, Sinodun Hill, Winslade e Rollright – e um irlandês – Coolea), a recomendação do premiado sommelier foi uma taça de Almacenista Amontillado del Puerto, da Lustau, uma harmonização mais arriscada pela diversidade dos estilos, mas que teve sucesso pelo peso de boca e acidez do vinho.
Para finalizar o jantar, a sobremesa foi um cremeux de chocolate Tulakalum 75%, creme de whisky, angostura e laranja (sim, como um old fashioned), sorvete de pipoca de caramelo acompanhado, ao invés de vinho, justamente de um old fashioned, mais uma dica infalível de Isa Bal. E não é que essa harmonização também ficou incrível?