Projeto do arquiteto Christian de Portzamparc partiu do novo formato das cubas de concreto abauladas
Arnaldo Grizzo Publicado em 05/11/2018, às 16h00
O histórico Château construído por Jean Laussac-Fourcaud ainda no século XIX mantém suas linhas clássicas, no entanto, desde 2011, quando o projeto do premiado arquiteto Christian de Portzamparc ficou pronto, Cheval Blanc tornou-se, mais que uma lenda em vinho, um ícone da arquitetura moderna.
A ideia de reformar completamente a cantina do Château veio dos proprietários, Bernard Arnault e Barão Albert Frère, que não pouparam esforços para erigir um verdadeiro monumento em meio à paisagem vitivinícola de Saint-Émilion, uma das regiões mais tradicionais de Bordeaux.
O desenho da nova adega foi baseado na ideia que o enólogo Pierre Lurton tinha para criar novas cubas de concreto para o espetacular vinho da propriedade. Ele queria cubas abauladas de diferentes formatos para cada parcela do vinhedo de Cheval Blanc, propriedade de 39 hectares que, desde 1871, manteve sua configuração de vinhedos quase intacta. Lá, as 237.288 plantas são tratadas individualmente, portanto Lurton queria poder separar cada parcela em uma cuba específica.
A base curva dessas cubas ajudou o arquiteto francês de origem marroquina Christian de Portzamparc a elaborar as linhas do novo edifício, que abrigaria as 52 cubas encomendadas pelo enólogo. O vencedor do Pritzker Prize (equivalente ao Nobel de arquitetura) aproveitou ainda a ideia do material (concreto) para moldar o novo edifício.
Segundo ele, em sua composição “nenhuma linha é supérflua”. “Tudo contribui para o aperfeiçoamento do processo de vinificação e as ações que o quadro permite: a geometria de superfícies curvas e o material em concreto moldado, a atmosfera única que vem da luz natural descendo em direção ao solo, alisando paredes de rolamento que envolvem as grandes esculturas de concreto na cuba”.
Segundo Lurton, o formato e o tamanho específico dados a cada uma das 52 cubas favorecem a oxigenação, assim como uma taça de degustação. A adega das barricas fica abaixo, como uma cripta, em uma atmosfera totalmente diferente, alinhada com a parede de tijolo perfurado, para facilitar a ventilação natural. “Entre o interior e o exterior, a adega é um local de transformação e interação com a natureza. Estamos em um lugar onde um vinho excepcional é feito e onde, com a arquitetura, a modernidade se juntou à excelência de uma experiência muito antiga”, pondera Portzamparc, criador, entre outros projetos, dos maravilhosos edifícios da Filarmônica de Luxemburgo e da Cidade das Artes, no Rio de Janeiro.
Para quem vê de longe, a nova estrutura está completamente integrada à paisagem graças às suas curvas e ao jardim no teto, que deixa as estruturas ainda mais discretas. Uma escada dá acesso a essa área, que, ainda por cima, serve como belvedere no prolongamento do antigo Château.