Por Christian Burgos Publicado em 22/06/2015, às 00h00
Ao contrário da maioria dos Châteauneuf-du-Pape tintos, que têm preponderância da variedade Grenache, o ícone Château de Beaucastel tem coluna cervical à base da Mourvèdre. O proprietário, François Perrin argumenta que os grandes vinhos se fazem nas regiões-limite, as mais difíceis, como o norte de Châteauneuf. Nesta região, a família Perrin trabalha com cultivo orgânico desde 1960 e biodinâmico a partir de 1970. Fazem isso sem utilizar o tema como um apelo de marketing, mas como uma ferramenta para fazer o melhor vinho que se possa produzir. Em abril, ADEGA foi convidada para uma vertical exclusiva de Châteauneuf-du-Pape tinto de Beaucastel.
Esta degustação nos permite algumas conclusões. É linguagem comum dizer que o Châteauneuf-du-Pape é um vinho difícil quando jovem e que precisa de muito tempo em garrafa para se mostrar. Se pudermos extrapolar o que analisamos nesta degustação para outros vinhos, podemos afirmar que as safras recentes de Châteauneuf-du-Pape já proporcionam imenso prazer ao serem bebidas mais jovens. Confirmamos porém que vale a pena, e muito, guardar estas garrafas, pois ganham uma imensidão de complexidade com o tempo. O mais interessante foi uma grande constatação, como raras vezes vemos em outros vinhos, de como a safra se faz tão presente na definição de seu perfil e o seu caminho de evolução ao longo dos anos. Isso revela um vinho fiel a seu terroir, com cultivo orgânico e baixíssima intervenção, e gigantesca capacidade de evolução em seus melhores anos. Num exercício de tentar compreender o conjunto, agruparia 2007, 2001 e 1970 num mesmo estilo, 2008 e 2003 em outro e 2005 em seu estilo individual.
Ao contrário da maioria dos Châteauneuf-du-Pape tintos, que têm preponderância de Grenache, o Château de Beaucastel tem base em Mourvèdre
AD 93 pontos
Château de Beaucastel Châteauneuf-du-Pape 2008
Château de Beaucastel, Rhône, França (World Wine 759). Complexo, com fruta vermelha vibrante e um belo toque defumado. Na boca, tem exuberância e seus taninos, presentes, conferem profundidade e textura. Um vinho de um ano mais quente, que já pode ser saboreado hoje, sobretudo por quem gosta de vinhos com mais estrutura e taninos de qualidade. CB
AD 97 pontos
Château de Beaucastel Châteauneuf-du-Pape 2007
Château de Beaucastel, Rhône, França (World Wine - Não disponível). Sua cor já demonstra sua profundidade. No nariz, é extremamente complexo e profundo. Encontramos muito mineral, grafitado, um toque a sangue, chá. A fruta é deliciosa, ameixa madura tirada da árvore. O mais longevo de todos. Longo e vertical, com um fim de boca encantador. Austero. O tempo o tratará muito bem. Tem uma força interior, uma coluna cervical que não é aparente, mas quando prestamos atenção, está lá em toda sua potência. Se o que mais encantou hoje foi o 1970, em mais 45 anos o 2007 vai superá-lo. Definitivamente, um colecionável. CB
AD 94 pontos
Château de Beaucastel Châteauneuf-du-Pape 2005
Château de Beaucastel, Rhône, França (World Wine - Não disponível). Mais aromas de flor e um mineral a butano. Os taninos polidos por uma década de vida acompanhados pela fruta sexy e exuberante. Consegue ser quente e poderoso, ao mesmo tempo com muita elegância. Estaria no mesmo perfil do 2008 nesta degustação, mas ainda tem mais capacidade de vencer o tempo. Continuou abrindo em taça e revelando aromas terciários trufados deliciosos. CB
AD 91 pontos
Château de Beaucastel Châteauneuf-du-Pape 2003
Château de Beaucastel, Rhône, França (World Wine - Não disponível). Um belo vinho, mas que fica ofuscado pela presença dos irmãos. Desde o nariz já revela ser mais quente e opulento. Em boca, tem os taninos mais evidentes e um delicioso toque medicinal de retrogosto. Acredito que o tempo pode ajudar os componentes deste vinho a se encontrarem. CB
AD 95 pontos
Château de Beaucastel Châteauneuf-du-Pape 2001
Château de Beaucastel, Rhône, França (World Wine - Não disponível). Como é comum nos Châteauneuf, os taninos sempre capturam nossa atenção. Neste 2001, os taninos confirmam seu papel estruturante e o fato de que estão aqui como guardiões da capacidade de evolução deste vinho. Os aromas são únicos, com as frutas ladeadas de ervas e um toque de aspargos. Bela estrutura de taninos e acidez, com fim de boca variando entre a mineralidade do talco e as ervas. Tem um delicioso retrogosto de grama. Com o tempo em taça, surgem os aromas de trufas e cogumelos. Delicioso. CB
AD 95 pontos
Château de Beaucastel Châteauneuf-du-Pape 1999
Château de Beaucastel, Rhône, França (World Wine - Não disponível). De todos os vinhos desta vertical, este 1999 tinha os aromas mais evoluídos. De cara um sous-bois e um passeio pelo porão. Com um pouco mais de atenção, sentimos sua mineralidade e aroma claro de pedra de isqueiro. Na boca, a fruta é um mero coadjuvante e os brilhos ficam por conta dos taninos finos e polidos com vibração e textura deliciosa. No retrogosto, o perfil mais foxy volta à tona. O fim de boca, volta a marcar pelo foxy. Entretanto, com o tempo em taça, a cortina de aromas antigos deixa transparecer um pouco da fruta de sua juventude. CB
AD 97 pontos
Domaine de Beaucastel Châteauneuf-du-Pape 1970
Château de Beaucastel, Rhône, França (World Wine - Não disponível). Na sua garrafa magnum, ostentava o rótulo Domaine de Beaucastel. Este 1970 é um vinho que chega a emocionar. Complexo e com uma finesse incrível que faria os amantes da Borgonha mudarem de time. Os taninos ainda estão aí para garantir que este highlander continue evoluindo por anos (não ouso tentar determinar quantos). Junto aos taninos, encontramos ainda traços de sua bela fruta, que foi cedendo espaço muito lentamente aos aromas terciários. Mais jovem do que seu irmão de 1999, é impossível atribuir 45 anos a este vinho. Já estava aberto há quase duas horas quando foi servido e, em taça, não morre nunca, continua evoluindo sem parar. Até agora foi o melhor vinho que degustei este ano. CB