Os vinhos da Quinta da Figueira, produzidos em Florianópolis, recebem mais de 90 pontos dos degustadores de ADEGA
Eduardo Milan Publicado em 30/07/2021, às 18h00
Rogério Gomes, o cientista da computação, ou melhor, o enólogo responsável pelos vinhos
Para quem está acostumado ao “tradicional” mundo dos vinhos, talvez não seja fácil compreender tanto o trabalho quanto a mente perspicaz de Rogério Gomes, o cientista da computação, ou melhor, o enólogo responsável pelos vinhos do seu disruptivo (adjetivo que realmente resume bem a ideia) projeto Quinta da Figueira.
Apesar do termo “pomposo”, trata-se de uma vinícola de garagem – literalmente –, na ilha de Florianópolis, cujo nome é uma homenagem à herança portuguesa e à figueira centenária da Praça XV na cidade.
É difícil apontar qual seria seu grande diferencial. Depois de trabalhar mais de 20 anos na área de tecnologia “quase sempre em pesquisa de desenvolvimento e inovação”, Rogério não atuou de forma diferente na enologia – criando desde vinhos laranjas até “vinhos de liquidificador”. Na vinicultura, cultiva variedades pouco convencionais, no inexplorado “terroir” da ilha catarinense.
O nome é uma homenagem à herança portuguesa e à figueira centenária da Praça XV em Florianópolis
A experimentação está no DNA de quem começou fazendo vinhos por curiosidade com os famosos “winekits”. Depois se especializou com bases técnicas no curso de winemaking da UC Davis e supervisão de laboratórios de enologia.
Assim, desde 2008, quando fez seus primeiros vinhos em apartamento, foi criando e experimentando.
Dessa forma, deparou-se quase que acidentalmente com os vinhos laranjas, com as talhas, até chegar a algo menos convencional como liquidificador e mixer (sim, as uvas são trituradas neles). O resultado dá vida a vinhos realmente inovadores, que, segundo Rogério, “tiram os degustadores da zona de conforto”. Realmente, não são vinhos convencionais, mas ainda assim, diversos chamaram a atenção, merecendo destaque.
Hoje, aos 48 anos, Rogério diz viver um momento de transição em seu projeto da Quinta da Figueira, já que seu foco tem sido desenvolver o incipiente terroir de Florianópolis. Foi ali, afinal, onde ele plantou as primeiras mudas em 2013 na praia de Lagoinha, extremo norte da ilha.
Rogério começou a produzir vinhos em seu apartamento em 2008
Em 2018 precisou replantar e seu vinhedo – também pouco convencional em sistema de condução e manejos – cultivado com 500 plantas com castas como Maria Gomes, Rabigato, Loureiro, Bobal, Airén (“escolhidas a dedo”) e até a georgiana Saperavi. Ele começou agora a dar frutos para que dê origem a safras com uvas próprias. “Em 2021 foi minha primeira safra de verdade, colhi 400 quilos. Quem sabe um dia possa transformar a ilha de Santa Catarina em um novo terroir”, diz.
Seu objetivo, no futuro, é “deixar a garagem”, dar vida a uma vinícola propriamente, com vinhedos, restaurante etc., (uma “quinta” quem sabe). E mostrar a capacidade do vinho local, mantendo o foco na inovação. “As pessoas estão sempre dentro de um quadrado e querem que o mundo seja aquele quadrado. E pensar disruptivo é quebrar paradigmas”, finaliza.
Esse 100% Sauvignon Blanc é fermentado com os cachos inteiros e ainda passa 3 meses em barricas, o resultado é um vinho maduro, mas com acidez vibrante e testura firme.
Um 100% Merlot sem passagem em madeira que mostra o porquê veio, frutado e ao mesmo rústico tem taninos firmes e granulados.
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