O complexo de edifícios da família López de Heredia ganhou similaridade das intermináveis catedrais européias
por Claudia Manzzano
A bondade do clima e a severidade da terra se encontram na cidade de Haro, capital de La Rioja Alta, Espanha. Bodegas López de Heredia, uma das mais antigas vinícolas da região, esnoba os visitantes com a posição de seus vinhedos, as variedades existentes e a extraordinária arquitetura.
O labirinto das instalações impressiona pela robustez, solidez e grandiosidade de um conjunto tectônico que mereceu a denominação "Catedral do Vinho".
#R#Hoje, as instalações constituem um modelo, em uma área total de 53 mil m². Destes, 19.718 m² estão edificados, com 3.433 m² na parte subterrânea, onde destaca-se El Calado de até 200 metros de cumprimento e mais de 10 metros de profundidade perfurados no coração de um enorme bloco de pedra, em que os lados prolongam fileiras intermináveis em torno de 15 barris bordaleses. Também merecem menção os 72 barris de carvalho de diversas procedências (Cántabro, Bosnia, Allier, Norteamericano, etc.), construídos com capacidade de 60,100, 200, 480 e até 640 hectolitros.
Assim como as mais famosas catedrais, a construção completa dessas obras nunca terminam. O esforço de cada geração dos López de Heredia, a partir do enorme impulso do fundador, deixou suas marcas nessas criptas que se conhecem como Bodega Vieja, Bodega Nueva, Bisiesta, Dolorosa, Bodega de las Reservas, El Caladillo, El Frontón, El Cementerio e El Calado.
Pabellón: barris cobertos de gesso |
El Cementerio
Vinacoteca familiar criada pelo filho do fundador, Don Rafael López de Heredia e Aransáez, e batizada pelos operários da empresa, em 1941, pela primeira vez em La Rioja, com o nome de O Cemitério, em razão de sua disposição de armazenamento. Hoje em dia, o local continua descansando garrafas das colheitas de 1883, de coleção de marcas desaparecidas como Viña Zaconia, Viña Medokkia ou Vendimia Especial, tanto brancos como tintos. A família decidiu restringir o acesso ao público para preservar o patrimônio enológico das peças ali armazenadas.
El Calado
Quando conseguiu certa estabilidade financeira, Don Rafael investiu com verdadeiro afã na realização de seu projeto, começando a construir um grande espaço para armazenar vinhos crianza encravado na rocha, cuja principal galeria, denominada Calado, atravessa a montanha com 140 metros de comprimento e 12°C de temperatura durante todo o dia. Esta obra megalítica, com preciso sentido de expressão, se fez com uma equipe de operários arrancando as enormes pedras que logo serviram para levantar os muros.
La Bodega Vieja
Diante da necessidade de espaço para armazenar garrafas em envelhecimento, D. Pedro López de Heredia, a terceira geração da família, sacrificou parte da abóbada original para dar lugar a um ("garrafeiros", em tradução literal) ou Adega de Reservas. As garrafas armazenadas neste espaço, hoje coberto de mofo, são a mais absoluta garantia de antiguidade dos vinhos e constatação da história desta família.
El Calado |
La Bodega Nueva
É conhecida com este nome a parte da vinícola construída depois de El Calado, executado entre 1890 e 1892. Alí foi aberto um grande poço e, em seguida, fechado com uma tampa de concreto sobre colunas no mesmo material. A obra foi realizada entre 1904 e 1907 pela empresa Construcciones Hidráulicas y Civiles dirigida por Eugenio Ribera Dutaste com a colaboração do engenheiro Julio Martínez Zapata. Estes autores haviam realizado a Ponte Monumental de São Sebastião sobre Urumea, junto com Mariano Benlliure, amigo íntimo da familia López de Heredia Landeta. A realização da tampa de concreto da Bodega Nueva é uma das primeiras obras em cimento armado (estrutura de concreto com armações de aço) de caráter não público de toda Espanha.
A fachada exterior é construída a um nível mais alto e foi desenhada por Julio Martínez Zapata. No ano 1941 se retomou a idéia da fachada pelo arquiteto Francisco Arzadun e, finalmente, ficou concluída em 1976 com o motivo do centenário da vinícola em 1977. O desenho desta fechada serviu no passado para ilustrar a etiqueta da marca Rioja Alta, que foi elaborado até 1920.
El Cementerio |
Como seu nome indica, é ali que acontecem as primeiras fermentações dos vinhos tintos, em 35 barris de carvalho de diferentes origens e tamanhos. Direcionada ao noroeste, de onde precede o vento dominante na região, a construção foi pensada para ser refrigerada de forma natural e impedir, dessa forma, que os vinhos fermentem em altas temperaturas.
Pabellón 1
Construído em 1878, o interior deste edifício guardava 12 barris para armazenagem e, a seu lado, a primitiva máquina de colheita de uvas. Esses barris foram substituídos por cinco de tamanho grande, encomendados em Zaragoza para Monreal, em 1899. Esses mesmos barris estiveram ao ar livre cobertos de gesso para protegê-los das inclemências do tempo até 1907, ano em que o carpinteiro de Haro, Juan Sagredo, colocou um teto em todo edifício seguindo o projeto de Julio Martínez Zapata.
Las Oficinas
Os escritórios conservam um modo impecável de estilo do século XIX. É uma viagem ao passado. Piso amarelo, vidros chanfrados, janelas onde se pode ler "caja" ou "pedidos". A visão e o cheiro de madeira de verniz velho nos transmitem cenas do passado. A família construiu outros escritórios, no quais atende atualmente. Porém, conservou nos antigos, o mesmo estilo arquitetônico original.
La Galeria
A Casita ou o Chalé Suíço, como chamava Don Rafael a sua casa - e que desde 1896 se incorporou à vinícola - já estava construída em 1886. A família cresceu até chegar a 14 descendentes, em 1903. Nesta data, estava sendo construída a galeria que unia as duas casas da vinícola, para alojar a nova prole. A obra foi concluída em 1903, quando o vidreiro Basilio Paraíso de Cristalería La Veneciana, de Zaragoza, colocou os vidros coloridos e esculpidos em ácido. O local está sendo restaurado para, em breve, ser a recepção da vinícola.