A hora e a vez do Bordeaux 2002

Com preços mais acessíveis, os vinhos da safra 2002 estão prontos para a taça

por Euclides Penedo Borges

foto-montagemNo mundo dos vinhos diz-se, em tese, que um ano excelente é aquele em que o clima local proporciona condições ideais de amadurecimentos das uvas, com chuvas esparsas na primavera e um verão continuamente seco e quente.

Na prática, uma grande safra em Bordeaux é aquela em que se alcança excelência na qualidade em todas as vinícolas tradicionais da região, desde as mais modestas e pouco conhecidas até as mais importantes e famosas.

Nas melhores safras de Bordeaux – 1985, 1990, 2000, para citar as mais recentes - resultaram vinhos excelentes tanto nos pequenos e médios châteaux quanto nos Grand Crus Classés. Isso aconteceu, por exemplo, em 2000, um ano clássico para a Cabernet Sauvignon e para a Cabernet Franc e uma referência para os tintos do Médoc. Mas o fato não se repetiu nos dois anos seguintes.

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Uma safra difícil
A safra bordalesa de 2002 foi considerada de regular para boa, apenas. Um inverno seco, um início de junho frio e úmido dificultando a floração e dias de céu nublado em agosto colaboraram para isso.

Os produtores de vinho de Bordeaux já tinham se preocupado, na época, com a falta de procura “en primeur” para a safra 2002. Na ocasião dessa venda antecipada – março, abril, maio - os negociantes chegaram a oferecer descontos de vinte e cinco a trinta porcento em alguns vinhos. Dizia-se que só se conseguiria vender por antecipação se os preços fossem “escandalosamente baratos”.

Deve-se reconhecer, porém, que o problema com tais vendas antecipadas, em que os americanos são players muito fortes, tinha a ver mais com a situação política e econômica (guerra no Iraque, Euro valorizado) do que com a safra.

Elegância e longevidade
Com o clima problemático, somente as melhores propriedades conseguiram uvas de ótima qualidade e vinhos superiores, destacando-se a costumeira excelência em Pauillac, St. Estèphe e St. Julien na margem esquerda e St. Emilion e Pomerol na margem direita.

Somente chegaram à perfeição em 2002 os vinhateiros com vinhedos excepcionais, independentemente da casta. As melhores localizações não foram muito afetadas e essas propriedades dispõem de pessoal dedicado, com conhecimento suficiente para enfrentar condições adversas e fazer o ajuste fino na vinificação.

Apesar desses sucessos, permanece o fato de que grandes vinhos exigem clima adequado e que o ano de 2002, em Bordeaux, apresentou dificuldades. Ao lado de muitos tintos um tanto diluídos alguns mostraram aromas frutados, bom corpo, taninos nobres e frescor acima da média devido à acidez mais elevada. Por tudo isso é de se esperar dos Bordeaux 2002, muita elegância e pouca longevidade.

Não há porque esperar mais para prová- los, passados seis anos. Além disso, comparando com os preços de 2000, certamente os de 2002 estarão mais em conta.

Alguns exemplos
Apontemos, em uma pequena lista despretensiosa, alguns dos inúmeros Bordeaux tintos da safra 2002 disponíveis no mercado brasileiro:

até US$ 100
Châteaux : Corbin (St. Emilion), Brown Rouge (Péssac Leognan), La Tour Canet (Haut Médoc), Rolland Maillet (St Emilion), Yon Saint Martin (St. Emilion), Le Boscq (St. Estèphe), La Garde Rouge (Graves), Fonrazade (St. Emilion).

de US$100 a US$ 500:
Châteaux : Branaire Ducru (St. Julien), Calon-Ségur (St. Estèphe), Cantenac- Brown (Margaux), Gruaud-Larose (St. Julien), Le Sartre Rouge (Péssac Leognan), Petit Villages (Pomerol), Yon Figeac (St. Emilion), Magrez-Tivoli (Bordeaux).

acima de US$ 500:
Châteaux : Haut Brion (Péssac Leognan), Latour (Pauillac), Cos d’Estournel (St. Estèphe), Leoville Las Cases (St. Julien), Pavie (St. Emilion).

Está ainda muito cedo para que os grandes Bordeaux 2000 estejam no ponto. Foi uma safra excepcional, esperemos pelo menos mais dois ou três anos. Mas, como vimos acima, não há porque esperar pelos Bordeaux 2002. Está na hora deles.

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