A montanha de Baco

ADEGA acompanhou o Encontro Internacional do Vinho no Espírito Santo, em Pedra Azul, onde os amantes da bebida se fartaram de boas degustações, ótimos cursos e belas harmonizações

por Marcelo Copello

fotos: Marcelo Copello

Os devotos de Baco sabem. Todos os anos, a primeira semana de agosto marca uma peregrinação quase religiosa à montanha de Pedra Azul, na região serrana de Vitória, ES. Trata-se do Encontro Internacional do Vinho no Espírito Santo, palco das mais raras degustações do país. Promovido pela Sociedade dos Amigos de Vinho do Espírito Santo (Soaves), presidida pelo incansável Dr. Roberto Serpa, o evento chegou ao seu 8º ano consecutivo entre os dias 4 e 7 de agosto passado.

A programação deste ano foi arrebatadora. A maratona de quatro dias foi composta por 12 degustações de altíssimo nível, cursos (que começam diariamente às 8 horas da manhã) e refeições harmonizadas. A revista ADEGA, é claro, esteve lá, fazendo seu lançamento. A nova publicação foi saudada com alegria por todos, como a grande novidade do evento deste ano.

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Euclides Penedo BorgesRoberto de la Motta e Pierre Lourton

Dentre muitas degustações inesquecíveis, algumas se destacaram. Oportunidade única foi a de assistir a palestra "Carvalho: o ingrediente X", com Pascal Marty e Louis Blanchard. Este famoso enólogo francês, que já assinou rótulos como Château Mouton Rothschild, Opus One e Almaviva, se uniu ao compatriota Blanchard, representante da Seguin-Moreau (mais importante fabricante mundial de barris), para falar de um tema muito em voga: a influência da madeira no vinho. A aula foi ilustrada com a degustação de 9 amostras do mesmo vinho, agrupados de três em três. A primeira bateria trouxe amostras amadurecidas em barris de três tipos de carvalho: francês, americano e do leste europeu. O segundo grupo mostrou a influência da porosidade da madeira, com amostras passadas em barris de grão extrafino, fino e médio. Finalmente, comprovamos o efeito da tosta dos barris, com degustação do mesmo vinho amadurecido em madeira de tosta leve, média-plus e alta. Melhor impossível.

Outra prova memorável foi a "Montrachet: o ápice da Chardonnay", dedicada à Borgonha e seus maiores brancos. Jorge Lucki, talvez a maior autoridade brasileira em Borgonha, não poupou nossos corações apresentando seis vinhos de sonho. O evento mostrou que se o mercado nacional é de tintos, o é apenas por falta de conhecimento (e bolso) para provar brancos como esses. Sempre didático, Lucki falou dos cinco Grand Crus das comunas de Chassagne e Puligny-Montrachet, que são Criots-Bâtard- Montrachet, Bienvenues-Bâtard-Montrachet, Bâtard-Montrachet, Chevalier-Montrachet e Le Montrachet.

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fotos: Marcelo Copellofotos: Marcelo Copello
Javier Garbarain e membros da ABS-CampinasPascal Marty e Phillipe Mevel

O primeiro a ser degustado foi o Chassagne Montrachet Marquis de Laguiche 2002, de Joseph Drouhin. Apesar de ser da fraca safra de 2002, mostrou-se bem, bastante mineral e seco, com toques de carvalho e um bom corpo. Depois veio o Puligny Montrachet 1er Cru les Perrières, de Louis Carrillon, que mostrou mel, florais, aliando corpo, maciez e elegância. O meu predileto veio a seguir, o Bienvenue-Bâtard-Montrachet 99, do Domaine Leflaive. Um branco encorpado e fascinante, elaborado com a filosofia da biodinâmica. Com muitos tostados, dos seus 14 meses em barricas novas, e amanteigados, mostrando frescor, frutas tropicais e toques de gengibre. Do mesmo produtor, também foi provado o Chevalier-Montrachet 98, mais delicado mas não menos envolvente. Contrastando com o Chevalier-Montrachet, o Bâtard Montrachet 2003 do négociant Verget, foi o seguinte. Muito encorpado, ainda jovem e um pouco fechado, com acidez mediana. A "chave de ouro" foi o Le Montrachet 2001 da Domaine Jacques Prieur, um branco com potência e elegância, mostrando caramelos, frutas maduras, mel, com grande complexidade e presença no palato. Um espetáculo.

Em clima de disputa aconteceu a prova "Chile x Argentina - um clássico sul americano". De um lado Rodrigo Soto enólogo, da chilena Viña Matetic. Suas armas: Neyen Espiritu de Apalta 2003, Matetic EQ Syrah 2003, Antyal 2003. Do outro, Roberto de la Mota, um dos maiores enólogos da Argentina, responsável pelo Cheval des Andes. O arsenal argentino também impôs respeito: Cheval des Andes 2002, Achaval Ferrer Finca Altamira 2002 e Caro 2002. Quem ganhou a contenda? Os quase 300 felizardos que a assistiram a peleja e puderam provar essas novidades.

A maior atração deste ano foi a presença de Pierre Lurton, enólogo responsável pela elaboração de dois vinhos míticos, o Château Cheval Blanc e o Château d'Yquem. Ele conduziu uma vertical com seis safras Château Cheval Blanc, 2001, 2000, 1998, 1995, 1989 e 1988. Ao final foi oferecido o Château d'Yquem 2001, que recebeu nota 100 de Robert Parker. Perfeito.

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