Com larga tradição na cultura da uva e do vinho, a maior ilha do Mediterrâneo possui uvas nativas como a Nerello Mascalese, cultivada desde a Antiguidade
Eduardo Milan Publicado em 23/02/2021, às 20h00
A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo, separada da Itália pelo Estreito de Messina. Devido à sua posição geográfica, ao longo da história exerceu papel de grande importância estratégica e, por isso, acabou sendo tomada – e, consequentemente, influenciada – por diversos povos. Fenícios, gregos, romanos, góticos, mouros, normandos e espanhóis teriam passado por lá.
Na Antiguidade, os vinhos sicilianos eram bastante conhecidos e sua principal característica era a doçura. O mais famoso deles era o Mamertino – o preferido do imperador Júlio César – feito no nordeste da ilha, nos arredores de Messina. Durante os séculos II e III, grande parte das videiras foi substituída por outras agriculturas, especialmente as destinadas à produção de grãos. Após a queda do Império Romano, a vitivinicultura permaneceu dormente. Somente no Renascimento a produção de vinhos foi retomada com força. Tanto que, no século XV, o Mamertino era o principal produto exportado para o continente.
Os primeiros registros da vitivinicultura no local remetem aos fenícios. Entretanto, os gregos teriam sido os responsáveis pela introdução de vinhas de melhor qualidade e também de melhores técnicas de cultivo das videiras. Como as condições climáticas eram favoráveis, a produção de vinho foi iniciada na Sicília.
A Sicília hoje é conhecida pelo vinho Marsala. O fortificado começou a ser produzido na região em 1773 por John Woodhouse, um mercador inglês, o que se tornou um marco na história da vitivinicultura. Mas nem só Marsala existe na Sicília. De fato, atualmente a ilha já possui maior relevância no cenário mundial vitivinícola e está em pleno processo de modernização, iniciado na década de 1980.
A geografia – terrenos acidentados e montanhosos, com solos pobres, encostas com boa exposição solar – e o clima – verão intenso e baixa pluviosidade – fazem da ilha um local ideal para o cultivo de videiras. Além disso, há uma série de uvas autóctones (ou nativas), as quais apresentam real personalidade. A maioria dos produtores locais dedica boa parte de seu trabalho a essas cepas e, há alguns anos, vêm produzindo vinhos de ótima qualidade a partir delas.
Provavelmente, a mais conhecida dessas variedades indígenas é a Nero d’Avola – tinta de cor profunda e taninos robustos e estruturados. Uma das preferidas para compor blends, a Nero d’Avola tem sido usada na produção de varietais que se tornaram clássicos sicilianos. Tradicionalmente plantada como um pequeno arbusto, a Nerello Mascalese é a variedade mais difundida na área do Monte Etna.
O Etna, vulcão mais ativo da Europa
Mais recentemente, outra autóctone ganhou destaque, a Nerello Mascalese. A cepa é muito antiga, tendo sido citada por Sestini em escritos do século XVIII. Tradicionalmente plantada como um pequeno arbusto, a Nerello Mascalese é a variedade mais difundida na área do Monte Etna, local onde vem sendo cultivada desde tempos imemoriais. Acredita-se que ela tenha ligação com os antigos vinhos do Etna, tão celebrados por Homero e historiadores latinos.
Ainda mais recentemente, a Nerello Mascalese costumava entrar na composição de blends, normalmente com pequena participação. Porém, o que se tem visto com o passar dos anos é o aumento de sua proporção nos cortes e até mesmo a aposta em vinhos varietais, ou seja, elaborados só com essa casta, que produz vinhos elegantes e com bastante personalidade, com tendência a serem tânicos, de cor vermelho-rubi com reflexos granada e boa estrutura, o que possibilita seu envelhecimento.