Balasto 2018: como o “vinho bailarina” coloca badalada vinícola uruguaia em outro patamar

“Este vinho tenta ser uma expressão autêntica do terroir”, diz Germán Bruzzone, enólogo da Bodega Garzón

Redação Publicado em 06/06/2021, às 16h00

Balasto é o vinho ícone da Bodega Garzón

“Tive que perder um pouco do preconceito. Durante todo o processo do Balasto, precisei também mudar a mentalidade”.

As palavras são do enólogo Germán Bruzzone, após apresentar a nova safra do vinho ícone da Bodega Garzón, no Uruguai.

Diz ele, não é fácil sair da inércia de pensar em vinhos superestruturados, mas “Balasto, desde o começo, teve a ideia de não ser comparado aos grandes vinhos do Novo Mundo” em termos de potência.

Bruzzone aponta que a safra 2018 foi ideal, um ano fresco em que a fruta amadureceu no ponto exato e, com isso, chegou-se a uma expressão de extrema finesse em Balasto.

“Este vinho tenta ser uma expressão autêntica do terroir.” A maturação da uva é lenta, graças à proximidade com o oceano e a fermentação também lenta. Tudo isso entregar frescor, além da fruta madura.

O blend varia um pouco ano a ano, mas tem a Tannat como variedade central

Estamos nos aproximando muito do conceito de ‘bailarina’, com músculo, mas com elegância excepcional. E é uma satisfação que as pessoas notem. Isso mostra que os caminhos tomados estão dando frutos”, aponta. 

Além da elegância, é possível notar ainda uma ligeira queda no volume alcóolico.

“Manejamos isso com irrigação, mantemos a hidratação da planta e damos tempo para que a fruta madure os taninos. E também usamos técnicas de elaboração com menos extração, macerações mais curtas”, conta Bruzzone. 

Além disso, percebe-se o vinho mais acessível quando jovem. Seria “culpa da Merlot”? “Atribuiria não à Merlot, mas às plantas em geral. Todas as variedades estão entregando taninos cada vez mais ricos. As raízes penetram mais no solo. Trabalhamos muito o subsolo, isso é a chave da evolução dos vinhos de Garzón. Todos os anos revolvemos o solo. É uma técnica que trouxemos da Itália”, diz. 

Sobre o blend, que tem variado um pouco ano a ano, mas mantido a Tannat com variedade central – o que teoricamente mostraria um contrassenso, pois ela tende a ser mais potente –, ele revela:

“Temos 70 hectares de Tannat plantados dispersos por todos os lugares. Fomos buscando os lugares que chamam a atenção. Tem que começar a entender o solo e todas as características que influenciam. Tannat é a variedade mais tânica, mais robusta, é uma contradição complexa, e vê-se que isso não é uma contradição quando se compreende o vinhedo”. 

Vista aérea dos vinhedos da Bodega Garzón

Sobre os próximos anos, o diretor geral Christian Wylie adianta que não haverá Balasto da safra 2019. Diz ele, foi uma temporada bastante tumultuada apesar de ter tido excelentes resultados. Ainda assim, não alcançou o nível para o ícone da vinícola.

Já para 2020, a safra foi tão excepcional, com tantas variedades incríveis, que “talvez, pela primeira vez a Tannat não seja a casta principal”. 

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