Conheça o Dão e veja seus melhores vinhos degustado por ADEGA

Berço da Touriga Nacional, o Dão está de volta à tona na vitivinicultura portuguesa e sua força se comprovou com uma degustação inédita de vinhos que remontavam à década de 1960

Eduardo Milan Publicado em 22/01/2013, às 08h24 - Atualizado em 13/10/2023, às 12h00

O Dão é uma das mais antigas regiões vitivinícolas de Portugal, situada no centro-norte do país, logo abaixo do Douro, que carrega a reputação de produzir alguns dos melhores tintos portugueses. Nas palavras de José Saramago, famoso escritor português, "tudo nestas paragens são grandezas".

O Dão é ainda conhecido como o berço da Touriga Nacional. De fato, dentre as tintas, a Touriga Nacional tem se mostrado a casta mais emblemática de Portugal, apresentando grandes qualidades para a vinificação e agindo como uma espécie de porta-voz da vitivinicultura do país. Plantada desde o Douro até ao Alentejo, é no Dão que a cepa se revela plenamente.

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Em 1908, o Dão foi oficialmente reconhecido como "Região Demarcada". Na década de 1940, entretanto, a região sofreu fortes intervenções governamentais. O intuito inicial era o de melhorar a qualidade dos vinhos e, por isso, novas regulações foram instituídas pelo governo de Salazar, criando um programa de participação de cooperativas no setor.

Veja abaixo a lista com os vinho do Dão degustados recentemente pela Revista ADEGA

Essas cooperativas tinham exclusividade na compra das uvas produzidas no local; empresas privadas podiam somente comprar vinhos já prontos. Infelizmente, os efeitos dessa política não foram positivos e a indústria do Dão, sem competição, acabou por produzir vinhos de qualidade inferior, com padrões de higiene por vezes abaixo do ideal.

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Após a entrada de Portugal na Comunidade Econômica Europeia, a legislação que então vigorava - monopolista e, obviamente, não alinhada aos princípios do bloco - foi revogada. Novos empreendimentos viníferos foram montados e um grande número de novas propriedades deu início ao renascimento do que havia sido uma das mais conhecidas regiões produtoras de vinho do país. Em 1990, o Dão se tornou uma Denominação de Origem Controlada.

O TERROIR

Cercada por altas montanhas de granito por três lados - Serra da Estrela, Serra do Caramulo e Serra da Nave -, a região fica protegida da influência do Oceano Atlântico. Assim, o clima local se mantém temperado.

Os verões são secos e quentes, enquanto os inversos, frios e chuvosos, com grande amplitude térmica. Além disso, os solos são arenosos, de origem granítica e xistosa, bem drenados. Em conjunto, esses são fatores propícios para a obtenção de vinhos de alta qualidade.

No Dão planta-se uma grande variedade de cepas e é notável o fato de a região ser rica em espécies autóctones. A maior parte dos vinhos é, todavia, produzido a partir de Touriga Nacional, Tinta Roriz, Jaen (conhecida na Espanha como Mencía), Alfrocheiro Preto e Encruzado.

De fato, dados apontam que 80% da produção da região é de tintos, sendo que pelo menos 20% desses rótulos leva Touriga Nacional. A Encruzado é a principal cepa branca, por vezes combinada com Malvasia Fina e Bical.

Os tintos do Dão são geralmente vermelho-rubi, com aromas frutados delicados e maduros, além de taninos finos, balanceados com boa acidez e, assim, apresentam bom potencial de envelhecimento. Os brancos, por sua vez, normalmente apresentam médio corpo e acidez refrescante, sendo cheios de caráter, em especial quando levam Encruzado em seu blend.

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Os rótulos de qualidade superior podem receber a denominação "Dão Nobre". Em outro patamar, tintos que apresentem no mínimo 12,5% de álcool e passem pelo menos dois anos envelhecendo em barricas levam a designação "Garrafeira". No caso dos brancos, a graduação mínima exigida é de 11,5% e o período de maturação em madeira de seis meses. De qualquer forma, exige-se que a produção seja de no máximo 70 hl/ha para tintos e 80 hl/ha para brancos.

A certificação DOC Dão envolve a prática de determinados métodos de produção e, especialmente, o uso de castas recomendadas. De acordo com a Comissão Vitivinícola Regional do Dão - CVR Dão -, entidade responsável pela certificação e autenticação dos vinhos por meio da atribuição de selos de garantia, as cepas destinadas à produção dos vinhos DOC Dão dividem-se entre as categorias "autorizadas" e "recomendadas". São elas:

VARIEDADES TINTAS VARIEDADES BRANCAS
Recomendadas Autorizadas Recomendadas Autorizadas
Alfrocheiro Água-Santa Barcelo Alicante Branco
Alvarelhão Baga Bical Arinto do Interior
Aragonez (Tinta Roriz) Cabernet Sauvignon Cerceal Branco Assaraky
Bastardo Camarate Encruzado Dona-Branca
Jaen Campanário Malvasia Fina Esganoso
Rufete Castelão Rabo de Ovelha Fernão Pires
Tinto Cão Cidreiro Terrantez Jampal
Touriga Nacional Cornifesto Uva-Cão Luzidio
Trincadeira Malvasia Preta Verdelho Malvasia Fina Roxa
  Marufo   Malvasia Rei
  Monvedro   Pinot Blanc
  Pilongo   Síria
  Pinot Noir   Sémillon
  Tinta Carvalha   Tália
  Touriga-Fêmea   Tamarez
      Verdial Branco

 

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