Descubra todos os detalhes sobre o que é dupla decantação e para que serve
Arnaldo Grizzo Publicado em 07/11/2018, às 17h00 - Atualizado em 02/01/2023, às 18h00
Decantar um vinho é quase sempre um dilema para quem ainda não está 100% familiarizado com a “arte da decantação”.
O ‘problema’ já começa em identificar qual garrafa deve ser decantada. Dessa forma, há quem decante absolutamente qualquer vinho, pois, mais do que achar que a bebida merece ser levemente aerada – para desprender aromas, suavizar sabores etc –, gosta mesmo de servir nesses belíssimos recipientes cristalinos. Há, por outro lado, quem jamais decante uma garrafa, por mais fechado que o vinho esteja – e o máximo que se permite é tirar a rolha com certa antecedência e aguardar um tempinho antes de começar a degustar.
Mas não vamos aqui voltar à discussão de que tipos de vinho podem ser decantados, pois já fizemos isso em diversas edições.
Primeiramente, lembraremos que a decantação tem duas funções primordiais. Uma delas é colocar o líquido em contato com o oxigênio para que ele possa “aerar” e assim desprender mais facilmente moléculas de aroma e, teoricamente, suavizar taninos (tese com a qual nem todos os especialistas concordam). Por isso, por exemplo, tendemos a decantar vinhos muito jovens, com taninos mais marcantes e maior sensação de adstringência. A outra função é decantar mesmo, na acepção da palavra, ou seja, separar sedimentos. Por esse motivo, decantam-se vinhos antigos com muitas borras formadas pelo tempo de guarda ou por não terem passado por processo de filtragem, por exemplo.
Dito isso, a dupla decantação nada mais é do que trasfegar a bebida da garrafa para um decanter e depois voltá-la novamente para o recipiente original, agora já sem os sedimentos.
Dessa forma, essa técnica de decantação não apenas separa os sedimentos, como aera a bebida duas vezes – a primeira quando o líquido é vertido no decanter e a segunda quando volta para a garrafa. Contudo, a principal ideia por trás da dupla decantação não é somente a aeração mais intensa do líquido, mas também a retirada dos sedimentos e a possibilidade de servir o vinho em seu recipiente original, livre de borras.
Por isso, esse método é muito usado em restaurantes e eventos de produtores para que os degustadores saibam exatamente quais rótulos estão provando. Por aumentar o contato com o oxigênio, nem sempre ela é a mais indicada para garrafas demasiadamente antigas, que podem sofrer muito com o processo de oxidação, pois tendem a ser mais delicadas e sensíveis ao contato extremo com o ar. Porém, a técnica é bastante usada em rótulos de safras jovens de produtores de prestígio, pois, mesmo que não haja borra, as duas decantações ajudarão o vinho a se abrir mais rapidamente do que somente com uma decantação simples.
O método da dupla decantação não é tão complicado quanto se possa supor. Primeiramente, você deve fazer a decantação convencional. Ou seja, abra a garrafa e despeje cuidadosamente o líquido dentro do decanter. Se houve borra, lembre-se de deixar a garrafa em pé por algumas horas antes, abra, verta lentamente o líquido no decanter tendo uma fonte de luz (uma vela ou lanterna) sob o gargalo para controlar a saída dos sedimentos que estão no fundo. Se quiser aproveitar cada mililitro da bebida, termine a operação passando a borra por um filtro.
Com o vinho dentro do decanter, é hora de lavar a garrafa para retirar os sedimentos que ficaram grudados no fundo ou nas paredes do vidro. O ideal é usar água sem cloro – água mineral é uma opção – para não interferir na bebida. Coloque um pouco de água, feche a garrafa e agite bem para limpar. Deixe a garrafa de ponta cabeça por alguns instantes para retirar toda a água. Em seguida, acrescente uns 20 ml do vinho para avinhar a garrafa e garantir que não sobrou água. Dispense esse “resíduo”. Caso não haja borra, essa etapa de limpeza é desnecessária.
Feito isso, o vinho pode ficar no decanter por quanto tempo você quiser antes de retornar para seu invólucro original. Caso acredite que o líquido precise “respirar” por mais tempo do que apenas as duas ações de trasfego proporcionarão, deixe-o descansando até o momento ideal de voltá-lo à garrafa. Para isso, o ideal é ter um funil à mão. Se a rolha estiver íntegra, você pode até mesmo encaixá-la novamente no gargalo e servir a bebida como se nada tivesse acontecido.
Portanto, se você acha que precisa decantar um vinho, mas quer servi-lo em sua própria garrafa, experimente a dupla decantação.
*Texto foi originalmente publicado em novembro de 2018 e republicado após atualização.