Em 'Era uma vez em Hollywood', o personagem Rick Dalton exagera no coquetel que marcou época e se perde na cena
Pedro Landim Publicado em 25/04/2021, às 13h00 - Atualizado em 26/04/2021, às 10h17
Leonardo DiCaprio em cena no filme Era uma vez em Hollywood...
É 1969 e Hollywood ferve. Tempo de mudanças no mundo e na vida de Rick Dalton (Leonardo DiCaprio), ator de faroestes de segunda que reflete sobre a carreira em decadência no balcão do Musso & Frank Grill, restaurante mais antigo da capital do cinema, onde ficção e realidade se misturam. Enquanto seu parceiro e dublê Cliff Booth (Brad Pitt) vai de Bloody Mary, o talo de aipo mergulhado na taça, Rick bebe seu Whiskey Sour com dois canudos, a cereja no fundo do copo.
Spoiler: é apenas o primeiro dos oito que o personagem vivido por Leonardo DiCaprio derrubaria no mesmo dia, no início do filme Era Uma Vez em Hollywood, de Quentin Tarantino, indicado em dez categorias para o Oscar 2020.
O clássico coquetel norte-americano, nascido no século 19 e feito nas linhas mestras com bourbon, limão, açúcar e gelo, é homenageado pelo diretor como um retrato da cultura alcoólica de Hollywood no fim de uma época de ouro - não custa lembrar, o cão do dublê Booth, que desempenha papel importante na trama, chama-se Brandy.
A sequência que começa no Musso & Frank, onde Rick tem conversa frustrante com o agente vivido por Al Pacino, termina na casa do personagem em Hollywood Hills. Enquanto fuma um cigarro e estuda seu texto em voz alta, ele prepara os whiskey sours vertidos em insólita caneca cervejeira de cerâmica, de uma coleção de souvenir trazidos do filme trash de guerra que rodara na Alemanha. E mostra habilidade ao quebrar um ovo e deixar cair na mistura apenas a clara - ingrediente às vezes contestado na receita.
A noite termina com o protagonista boiando em espreguiçadeira na piscina, mas a ressaca é explosiva no dia seguinte. Depois de enfiar o rosto numa bacia de gelo, ele esquece as falas na hora de filmar e vive um acesso solitário de cólera no trailer:
"Oito 'fucking' whisky sours! Por quê?!", grita, chutando a mesa e jurando em vão que vai parar de beber.
A cena, considerada pelos críticos um ponto alto do longa-metragem, foi toda improvisada por DiCaprio, segundo Tarantino contou em entrevista: "Nunca tinha visto o Leo nervoso daquele jeito".
Muita calma nessa hora. É certo que não precisamos de oito drinques, mas um whiskey sour é boa sugestão para depois de uma sessão, em casa ou no cinema, da última aventura do premiado diretor e roteirista, com seu senso único de humor e tradução peculiar da cultura norte-americana.
Aberto em 1919, o Musso & Frank é até hoje especializado em drinques lendários
O Dry Martini, por exemplo, servido em pequeno decanter enterrado no gelo ("mexido, jamais batido", enfatiza o menu), forma que conquistou a nata de Hollywood.
Além de Tarantino, nomes como Charlie Chaplin, Marilyn Monroe, Alfred Hitchcock e Steve McQueen costumavam parar na casa para um drinque e um ribeye steak. Ou a famosa chicken pot pie. Desde a época do cinema mudo, com Buster Keaton, a casa serve de locação para filmes como Ed Wood e La La Land, e séries como Mad Men.
O barman Kenneth "Sonny” Donato é uma celebridade atrás do balcão, listado nos créditos de Era Uma Vez em Hollywood. É ele quem serve os drinques para os personagens de DiCaprio e Brad Pitt, e contou que passou uma hora e meia fazendo 20 whiskey sours para cena, às 7h da manhã. Tarantino fechou a casa durante cinco dias para as filmagens.
O primeiro registro escrito do Whiskey Sour apareceu em 1862, no clássico How to Mix Drinks, de Jerry Thomas. Até os anos 1960, foi um drinques de popularidade quase imbatível nos EUA, preparado e consumido no dia a dia.
Ingredientes
(1 drinque)
- 60 ml de bourbon
- 22 ml de suco de limão
- 22 ml de xarope simples (mesma parte de açúcar e água)
- 15 ml de clara (um ovo pequeno)
Preparo
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