Condições do clima no sul do Brasil tornaram a safra 2015 complicada e trabalhosa para viticultores e enólogos. Espumantes devem ser os astros da temporada
Por Arnaldo Grizzo Publicado em 13/04/2015, às 00h00
Para montar o panorama da safra 2015 no sul do Brasil, ADEGA conversou com mais de 20 enólogos que trabalham em diferentes regiões vitivinícolas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, como a Campanha Gaúcha, Serra do Sudeste, Serra Gaúcha e também suas sub-regiões como Vale dos Vinhedos, Pinto Bandeira e Altos Montes.
Apesar das óbvias diferenças climáticas e geográficas entre essas diversas regiões (de Dom Pedrito, na Campanha Gaúcha, até Bento Gonçalves, no coração do Vale dos Vinhedos, são quase 500 quilômetros de distância – e daí até São Joaquim, na Serra Catarinense, são mais quase 300 quilômetros), algumas características acabaram por marcar o ano e deram o tom da safra.
Tanto o Rio Grande do Sul quanto Santa Catarina apresentaram invernos bem menos rigorosos do que a média. Segundo medições da Embrapa enviadas pela pesquisadora Maria Emília Borges Alves (que classifica as condições meteorológicas deste ano como “anômalas”), a maioria das regiões (exceto a Campanha) registrou menos horas de frio (temperaturas menores do que 7,2°C) do que o desejado, o que teria antecipado a brotação. Da mesma forma, as temperaturas médias mantiveram-se acima das normais, o que reduziu a amplitude térmica, um dos fatores determinantes nas fases de coloração das bagas e maturação.
“As temperaturas mais elevadas anteciparam a colheita nos estados do sul do Brasil, surpreendendo as vinícolas, que tiveram que rever as férias de seus cantineiros. Os viticultores e o enólogos passaram as festas de final de ano rodeando os vinhedos”, lembra Marcos Vian, enólogo-consultor de vinícolas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais e Goiás.
“Uvas destinadas a elaborar espumantes não perderam qualidade se comparadas às safras anteriores. Para as uvas tintas, os vinhos apresentaram teores menores de álcool, menor volume de boca, vinhos com menor potencial de guarda”
Luciano Vian, enólogo da Don Giovanni
"As temperaturas mais elevadas anteciparam a colheita nos estados do sul do Brasil, surpreendendo as vinícolas"
Marcos Vian, enólogo
Além disso, outro fator complicador foi a chuva, considerada excessiva entre os meses de outubro e dezembro, e também acima da média em janeiro, especialmente nas regiões da Serra do Sudeste e Campanha – o que obviamente favoreceu o aparecimento de doenças e afetou a maturação. Por tudo isso, a colheita foi antecipada em cerca de 15 dias, em média, se comparada com “anos normais”. E, se as condições para vinhos tintos e brancos tranquilos talvez não tenham sido as melhores, elas foram muito adequadas para a elaboração de espumantes – fato que os enólogos consultados confirmam unanimemente.
“Diferentemente de anos anteriores, as chuvas perduraram por todo ciclo. Não se pode dizer que o clima favoreceu as variedades precoces ou as tardias. Foi uma safra complicada. O período de colheita foi estreito, exigiu uma flexibilização por parte das vinícolas, ampliando o horário de recebimento das uvas, recebendo inclusive nos finais de semana. Se fosse fazer um apanhado amplo da safra, diria que as uvas destinadas a elaborar espumantes não perderam qualidade se comparadas às safras anteriores. Para as uvas tintas, os vinhos apresentaram teores menores de álcool, menor volume de boca, vinhos com menor potencial de guarda”, afirma Luciano Vian, enólogo da Don Giovanni.
No entanto, mais do que um resumo geral, vamos aqui detalhar o que ocorreu em cada sub-região com a visão de quem acompanhou de perto cada etapa da safra nesses locais e pode dizer o que o consumidor deve esperar de melhor para este ano de cada lugar. Vale lembrar que, até o fechamento desta edição, a safra ainda estava em andamento na Serra Catarinense e em Campos de Cima da Serra, região mais ao norte do Rio Grande do Sul, portanto, as previsões para elas são mais incertas, tanto que, para esta última, não conseguimos reunir informações adequadas e, portanto, não a destacaremos.
"Manejos preventivos na vinha foram cruciais para que não ocorressem danos, de qualidade e quantidade, durante a colheita"
Miguel Ângelo Vicente Almeida, enólogo responsável pelos projetos Seival e Almadén
Segundo o enólogo Miguel Ângelo Vicente Almeida, responsável pelos projetos Seival e Almadén, da Miolo Wine Group na Campanha, o inverno na região foi ameno e curto, o que resultou em uma brotação antecipada em quase duas semanas para quase todas as variedades, o que, obviamente, também levou a uma colheita antecipada. No entanto, o que marcou mesmo a região foram as chuvas. Entre dezembro e janeiro, choveu o dobro do normal para a temporada e, já prevendo isso, os produtores intensificaram os trabalhos no vinhedo (especialmente na poda verde). “Manejos preventivos na vinha foram cruciais para que não ocorressem danos, de qualidade e quantidade”, apontou Almeida.
De acordo com Alejandro Cardoso, que presta consultoria para vinícolas na região, outro detalhe foi importante: “O verão se apresentou menos quente que no ano passado e com noites mais frias, o que contribui e muito para a qualidade da fruta. Dessa forma, tivemos uma safra de menos quantidade, porém de excelente qualidade para as uvas brancas de vinhos base de espumante, muito delicados e frutados”. E Cardoso diz ainda que o comportamento climático do fim da temporada colaborou com as tintas de amadurecimento tardio como Tannat e Cabernet Sauvignon.
“Posso afirmar categoricamente que 2015 é uma safra boa no computo geral, em que pequenas produções como a linha Quinta do Seival e o Vinhas Velhas Tannat irão de novo aparecer. Foi uma boa vindima, não excepcional como 2005, 2008 e 2011, mas boa. Muito consistente”, resume Almeida.
"Em geral, teremos vinhos brancos elegantes e sutis e tintos equilibrados e charmosos"
Daniel Salvador, enólogo da vinícola Salvador
O clima na Serra Gaúcha trouxe muita dor de cabeça para viticultores (que precisaram trabalhar duro na vinha para “corrigir os desmandos” da natureza) e também para enólogos (que precisaram ficar de olho no momento exato de colher cada variedade). Os enólogos consultados foram unânimes em afirmar que enfrentaram um inverno mais brando do que estão acostumados, além de alto índice pluviométrico, o que fez com que eles antecipassem a colheita em cerca de 15 dias.
“Não tivemos um inverno com horas de frio ideal, porém a primavera despertou as videiras de forma uniforme, favorecendo brotação e florada muito homogêneas. A fase de formação das bagas foi excelente graças às ideais condições climáticas no decorrer da primavera e início do verão. A maturação das uvas brancas ocorreu em um período com dias quentes e noites amenas. Já a maturação das tintas ocorreu em períodos distintos, intercalados por dias de muito calor, noites amenas e pluviosidade. Na região da Serra Gaúcha, o clima favoreceu as uvas brancas, tanto para base de espumante como para vinhos tranquilos. As uvas tintas necessitaram de manejo especial nas vinhas em vista dos índices de pluviosidade em distintos momentos. Houve a necessidade de maior atenção quanto à seleção de cachos e redução na produção. Em geral, teremos vinhos brancos elegantes e sutis e tintos equilibrados e charmosos”, explica o enólogo Daniel Salvador, da vinícola que leva seu sobrenome.
Irineo Dall’Agnol, da Estrelas do Brasil, lembra que a Serra Gaúcha é um terroir muito desafiador e é preciso esmero e dedicação para superar as anomalias climáticas que se abatem sobre a região. “E, em 2015, foi um desses anos”, aponta. “A precipitação pluviométrica, como era esperada em função do El Niño, foi acima das médias históricas, exigindo muito mais cuidados com o manejo do vinhedo, como desbrota; desfolha; frequência de tratamento fitossanitários para o controle do míldio etc. Todo esse manejo acarretou maior custo final de produção. Contudo, é fundamental para compensar o excesso de umidade e manter a planta equilibrada para não afetar a qualidade final da uva”, afirma.
Ciro Pavan, agrônomo responsável da Miolo Wine Group, corrobora essa visão afirmando que as chuvas primaveris “exigiram muito trabalho de manejo e tiveram reflexos importantes na sanidade da brotação e cachos”. No entanto, a Pinot Noir e a Chardonnay “maturaram com sanidade e ótima qualidade para a elaboração de vinho base para espumantes”.
O mesmo pensamento tem o enólogo Roberto Cainelli Jr., da vinícola que leva seu sobrenome e cujos vinhedos se localizam no Vale do Rio das Antas. “Algumas variedades antecipamos o momento de colheita devido às chuvas, justamente para manter a sanidade das uvas. É claro que perdemos um pouco de maturação, o que influenciou mais nos vinhos tintos, mas tivemos um produto dentro da média”. Para os espumantes, contudo, a história é outra: “Tivemos uma ótima maturação fenólica para Moscato Gialo e Prosecco, então teremos espumantes muito aromáticos e equilibrados, com boa refrescância. O nosso Chardonnay para vinho também atingiu um excelente grau devido à sua maturação ter sido no início de janeiro, período em que houve pouca precipitação”.
“A safra 2015 teve um aumento representativo no volume. No total, recebemos 65,6 milhões de quilos, que representa um crescimento de 15% sobre o ano anterior”, afirma Flávio Zílio, enólogo-chefe da Vinícola Aurora
"Foi uma colheita muito rápida, justamente para que a uva não apodrecesse. A uva amadureceu, mas houve uma diluição com as chuvas"
Lucindo Copat, diretor-técnico da Salton
Já Flávio Zílio, enólogo-chefe da Vinícola Aurora, apesar do clima, não viu problemas de quebra de safra. “A safra 2015 teve um aumento representativo no volume. No total, recebemos 65,6 milhões de quilos, que representa um crescimento de 15% sobre o ano anterior”. Sua visão sobre os vinhos da safra é: “Todos os vinhos base espumante e os mostos para Moscatel apresentam acidez presente que proporcionará espumantes de qualidade superior. Para vinhos tranquilos brancos, teremos um teor de álcool menor, mas com intensidade aromática muito boa. Nos tintos, teremos muito boa tonalidade de cor, álcool moderado e fruta bastante presente”.
Por outro lado, Lucindo Copat, diretor-técnico da Salton, revela que recebeu menos uvas este ano, especialmente tintas. “O ano climático não foi fácil. Quando as uvas começaram a amadurecer, vieram as chuvas. Nesse momento, começamos a colher e foi uma colheita muito rápida, justamente para que a uva não apodrecesse. A uva amadureceu, mas houve uma diluição com as chuvas e as uvas tintas mais tardias tiveram problemas. De qualquer forma, serão vinhos agradáveis, maduros, mas um pouco diluídos”, aponta. Mas, ao falar sobre os espumantes, Copat comemora: “Vamos ter um base de espumante de Pinot Noir espetacular. Ele atingiu uma sanidade muito boa, tanto na Serra Gaúcha quanto na Campanha, com uma boa acidez, uma cor salmão boa. E tivemos Pinot para vinho que também ficou muito bom, com madurez excepcional”.
Ao comentar a safra 2015, Juliano Perin, enólogo da Chandon e presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE), disse já ter experimentado os vinhos base elaborados pela vinícola e afirma: “Vemos que eles apresentam, de modo geral, bom equilíbrio em boca, uma acidez bem amalgamada com os elementos que dão volume e suavidade, e com aromas finos e delicados”.
“Teremos espumantes com excelente frescor, já que a maturação das uvas para esse tipo de vinho foi adequada e permitiu bons níveis de acidez. Para os brancos tranquilos e tintos, esperamos vinhos com características mais jovens e não tanto para guarda”
Ricardo Morari, enólogo da Peterlongo
"O comportamento climático foi atípico e com muitas variações em seus vários períodos"
Antonio Czarnobay, enólogo
Pouco mais ao norte e à oeste da Campanha, a safra na Serra do Sudeste, especialmente na região próxima à Encruzilhada do Sul, também foi complicada. O enólogo Antonio Czarnobay resume: “O comportamento climático foi atípico e com muitas variações em seus vários períodos. Primeiramente, na brotação, houve um pequeno excesso de chuvas, que trouxe alguns problemas na quantidade a ser produzida. Depois, na floração, ocorreu o mesmo tipo de problema, com os mesmos resultados. Ou seja, tivemos uma safra menor em quantidade do que o normal. Já no período de maturação, houve alternância de temperaturas elevadas com outras bem mais baixas e precipitações excessivas em sequência, alternadas com períodos de curta estiagem. Isso causou alguns problemas na maturação, especialmente nas variedades tintas”. Ele lembra ainda que, devido à umidade, houve problemas com oídio e outras doenças fúngicas, fato confirmado por Ricardo Morari, enólogo da Peterlongo.
No entanto, novamente, a conjuntura, se não foi ideal para os vinhos tintos, mostrou-se ótima para os espumantes. “As uvas para espumante, em geral, apresentaram-se com teor de açúcar moderado e boa acidez, características que favorecem a elaboração de vinhos base e espumantes de alta qualidade”, aponta Morari, que prevê: “Teremos espumantes com excelente frescor, já que a maturação das uvas para esse tipo de vinho foi adequada e permitiu bons níveis de acidez. Para os brancos tranquilos e tintos, esperamos vinhos com características mais jovens e não tanto para guarda”. Visão similar à de Czarnobay: “A safra teve muito boa qualidade para os vinhos base de espumante, muito boa ou boa para as uvas de maturação intermediária (especialmente Merlot) e nem tanto para as de maturação tardia”.
“Quem não tinha um vinhedo protegido e com um trabalho de manejo vitícola de excelência, pode ter tido problemas de sanidade”
Carlos Abarzúa, enólogo da Cave Geisse
"Não me recordo de uma colheita tão rápida. Praticamente em duas semanas se realizou toda a colheita das uvas base para espumante"
Luciano Vian, enólogo da Don Giovanni
A região de Pinto Bandeira, que está prestes a se tornar uma Denominação de Origem, sofreu da mesma forma que outras áreas da Serra Gaúcha com o clima “anômalo” do ano. Segundo Luciano Vian, enólogo da Don Giovanni, o que ocorreu na primavera (quando ocorre a brotação e a formação dos cachos) foi crucial para o desenvolvimento da safra. “Ela se deu sob um volume médio/alto de chuvas, mas o principal diferencial foram as elevadas temperaturas, principalmente as mínimas, diminuindo o diferencial térmico e provocando uma aceleração no desenvolvimento dos frutos, antecipando o ponto de colheita das uvas”, afirmou.
“As primeiras uvas, as destinadas à elaboração de espumantes principalmente, foram colhidas a partir da primeira semana de janeiro (algumas poucas empresas receberam uva ainda em dezembro), mas os volumes foram poucos, e o período de colheita foi acelerado, devido à rápida evolução da acidez das uvas. Pessoalmente, não me recordo de uma colheita tão rápida. Praticamente em duas semanas se realizou toda a colheita dessas uvas”, comentou Vian.
Carlos Abarzúa, enólogo da Cave Geisse, garante: “O fator técnico foi muito importante”, e completa: “Esse fator técnico se refere à capacidade de realizar uma vindima rápida e definir muito bem o ponto certo de colheita”. Ele diz que, em Pinto Bandeira, as uvas para a elaboração de vinhos base para espumante, principalmente Chardonnay e Pinot Noir, iniciaram o período de colheita por volta do dia 5 de janeiro, “quando o normal ocorria a partir da segunda quinzena de janeiro”. “A parte positiva é que, nessa época, consegue-se fugir do período maior de chuvas que atrapalham a colheita”, afirmou.
Segundo ele, devido às condições climáticas, “quem não tinha um vinhedo protegido e com um trabalho de manejo vitícola de excelência, pode ter tido problemas de sanidade”. No caso da Geisse, porém, ele diz que a produtividade desta safra foi de 15 a 20% maior do que a média. “Colhemos uvas com boa sanidade e com uma graduação alcoólica que chegou entre 10 a 11 graus de álcool e uma acidez muito mais elevada que os outros anos, o que é muito bom para elaboração de espumantes, com resultados muito positivos em degustações prévias, apresentando boa acidez e bons aromas”, animou-se.
“Fizemos tratos culturais adaptados para quantidades maiores de chuvas (mais poda verde, por exemplo), tratamentos preventivos e uma atenção triplicada nas previsões do tempo. Saímos na frente para o pior, mas a notícia boa é que o El Niño chegou com uma intensidade fraca e em pontos isolados”
Edegar Scortegagna, enólogo da vinícola Luiz Argenta
"Era para ser uma super safra, mas, na época da colheita, não teve aquele sol que se esperava. Foi um clima mais ameno, um sol meio apático"
João Valduga, enólogo da Casa Valduga
Segundo Edegar Scortegagna, enólogo da vinícola Luiz Argenta, em Farroupilha, região de Altos Montes, a previsão de que “El Niño” chegaria no começo do ano trazendo chuvas para o sul do Brasil fez com que todos se precavessem. “Fizemos tratos culturais adaptados para quantidades maiores de chuvas (mais poda verde, por exemplo), tratamentos preventivos e uma atenção triplicada nas previsões do tempo. Saímos na frente para o pior, mas a notícia boa é que o El Niño chegou com uma intensidade fraca e em pontos isolados”, afirmou.
Como em todas as regiões, lá a colheita também foi antecipada em 15 dias. “Aqui, geralmente colhíamos no final de janeiro e, este ano, começamos na metade de janeiro. Claro que, começando antes, terminamos antes, e terminar antes é muito bom, pois fugimos dos dias mais frios do final de março, que dificultam a maturação principalmente das uvas mais tardias como Cabernet Sauvignon”, revela.
Para Scortegagna, no geral, a safra foi muito boa. “Temos bases de espumante com ótima acidez e muito equilibrados, vinhos brancos de médio teor alcoólico e com bastante elegância e frescor. E os tintos, como o Merlot e o Pinot Noir, com presença de taninos maduros que levaram a uma boa maturação”, resumiu.
“Se eu falasse que foi uma safra excepcional, estaria sendo tendencioso, mas foi dentro da normalidade”, admitiu João Valduga, enólogo da Casa Valduga, que começou a colher suas primeiras uvas para base de espumante no Vale dos Vinhedos na véspera do Natal, cerca de 20 dias antes do normal, muito devido ao inverno ameno que antecipou a brotação. “Era para ser uma super safra, mas, na época da colheita, não teve aquele sol que se esperava. Foi um clima mais ameno, um sol meio apático”, lamentou Valduga, que, no entanto, comemora o fato de a região ter sido pouco afetada por granizo, vendavais ou temporais.
Se espumantes e brancos tiveram ótimos resultados diante desse quadro, os tintos nem tanto. “As variedades mais tardias ficaram um pouco prejudicadas pelas chuvas. Todo fim de tarde caia um pancada de chuva. Mas, para as intermediárias, como Merlot, Marselan, Arinarnoa etc, foi satisfatória”, diz Valduga. Flávio Pizzato, enólogo da Pizzato, concorda: “Apesar de algumas chuvas esparsas durante a colheita, o balanço de qualidade para o Vale dos Vinhedos foi muito positivo, destacando-se a ótima sanidade da fruta para a elaboração de espumantes e vinhos brancos. Dentre as tintas, a Merlot novamente esteve acima da média geral, apresentando um belo potencial durante a colheita”.
Para Daniel De Paris, enólogo da Dom Cândido, os espumantes deste ano serão “muito frutados, finos, equilibrados e encorpados”. Ele conta que algumas variedades chegaram à maturidade até 30 dias antes do normal. Apesar disso, para alguns produtores, a colheita se estendeu até fins de março. “Faz 15 dias que não chove. Acabou a uva, veio a seca. Como pode? Por que não ocorreu isso um mês atrás?”, gracejou Valduga dias depois de encerrar o recebimento de uvas na vinícola.
"Pode-se avaliar o ano como bom para as variedades precoces e, se o tempo continuar estável, muito promissor para as variedades intermediárias e tardias"
Anderson De Césaro, enólogo da Villaggio Bassetti
“Um inverno menos severo que o de 2013, e primavera sem nenhum problema com geadas. Um ano bastante tranquilo em relação a eventos climáticos adversos, sem geadas nem ocorrência de granizos. Porém mais chuvoso que o normal durante a brotação e floração, o que fez com que a videira se desenvolvesse rapidamente, tornando todo o trabalho de manejo em verde mais exaustivo”, resume a temporada na Serra Catarinense Anderson De Césaro, enólogo da Villaggio Bassetti, em São Joaquim.
“Nesta safra, ficou evidente que o investimento feito em equipamentos de vinhedos de última geração para fazer a desfolha, desponte e os mini tratores foi importante, pois não perdemos nenhum cacho por míldio ou oídio, e a sanidade das folhas e das uvas estava perfeita”, garante o enólogo Jefferson Sancineto Nunes, da Pericó.
Assim como no Rio Grande do Sul, a colheita em Santa Catarina também foi antecipada. Luciano Vian, que presta serviços para a Pericó, afirma que “variedades tardias como Cabernet Sauvignon, que seriam colhidas em final de março, início de abril, foram colhidas na primeira dezena de março”, por exemplo, pois temperaturas mais elevadas, assim como o granizo que afetou mais as folhas do que os cachos, anteciparam a maturação.
“No que diz respeito à qualidade das uvas, para as variedades precoces, como Chardonnay e Pinot Noir para base de espumantes, a safra foi muito boa, a acidez ficou equilibrada e o teor de álcool menor que no ano passado, porque foi necessário antecipar a colheita para que o teor de ácido málico ficasse dentro do padrão”, aponta Nunes, que, até então não havia colhido as uvas tintas – “a análise de laboratório mostra que a quantidade de polifenóis e de cor está dentro da normalidade”. Já Vian aposta: “Os tintos serão de menor teor alcoólico, menos intensidade de cor, assim como ocorreu nas demais regiões. Também vale ressaltar que foi uma safra onde os custos de produção das uvas foram mais elevados, devido à necessidade de práticas culturais mais intensas”. “Pode-se avaliar o ano como bom para as variedades precoces e, se o tempo continuar estável, muito promissor para as variedades intermediárias e tardias”, afirma De Césaro.