Conheça a história do Montrachet, um dos vinhos mais caros do mundo e o mais famoso branco da Borgonha
Arnaldo Grizzo Publicado em 06/09/2023, às 13h13
O Montrachet é o mais famoso vinho branco da Borgonha e sua fama só se compara ao de Romanée-Conti em relação aos tintos. Em pouco mais de 9,5 hectares, entre as vilas de Puligny-Montrachet e Chassagne-Montrachet, fica o “local sagrado” dos brancos da Borgonha.
Se o Grand Cru de Romanée-Conti é um monopólio, o terroir de Montrachet (sem contar seus outros topônimos como Bâtard [10 ha], Chevalier [7 ha], Bienvenues [3 ha] e Criots [1,5 ha]) é cultivado por mais de 30 produtores.
A família Montrachet consiste, na verdade, em cinco Grands Crus cultivados nas vilas de Puligny-Montrachet e Chassagne-Montrachet. Estas compartilham as denominações Montrachet e Bâtard-Montrachet. Chevalier-Montrachet e Bienvenues-Bâtard-Montrachet pertencem somente a Puligny, já Criots-Bâtard-Montrachet pertence a Chassagne.
Historicamente, antes da adoção desses nomes de localidades, o termo Montrachet podia ser aplicado genericamente a toda a superfície da colina que se estendia, de norte a sul, entre a aldeia de Chassagne e a aldeia de Blagny.
O documento mais antigo referente ao desenvolvimento agrícola da colina pela abadia cisterciense de Maizières data do ano de 1250, mas a existência de vinhas no local antecede esta primeira menção. De fato, o abade cedeu naquele ano vinhas já exploráveis “no território de Mont Rachas” a um certo Pierre, conhecido como Boers, de Puligny. A partir de então encontram-se menções a doações de “Montraschat, Montraichat etc”.
Há menção de vinhas brancas pertencente a Antoine le Noble desde 1451 em Montrachet. E já naquela época há citações de exportação de vinhos de “MontRachat comprados à jovem Huguete Porter e à senhora de Monthelon” pelos priores de Saint-Vivant, sendo “transportados e levados para Flandres”.
Entre 1577 e 1596, Charles de la Boutière, marido de Catherine de Ferrières, comprou todas as parcelas de Montrachet. Pelo menos desde o início do século XVII, toda a superfície atualmente classificada como Grand Cru estava nas mãos de um único proprietário, o senhor de Chassagne, que administrava “cem ouvrées lieudit En Morachet”, quatro vezes o tamanho de Montrachet atualmente.
O abade Claude Arnoux, em 1728, explica que “Morachet é um pequeno terroir entre Chassagne e Puligny na planície, que possui um veio de terra que torna seu terroir único em seu tipo; produz o mais curioso e delicioso vinho branco da França”. É interessante, contudo, notar que, até então, Montrachet não possuía a mesma fama que Clos de Bèze e Chambertin – considerados os climats mais antigos da Borgonha.
Em cerca de 10 anos, Montrachet passou do quase total anonimato ao status de local de origem do melhor vinho branco da França. Desde então, todos os manuais relativos ao comércio de vinhos do país citam Montrachet como o vinho mais prestigiado e caro da Borgonha.
Durante muito tempo, as castas tintas competiram com a branca na região, mas, desde o início do século XVIII, Montrachet foi aclamado como um grande vinho branco, e a questão da escolha da variedade de uva (Chardonnay, às vezes confundida com Pinot Blanc) neste terroir foi definitivamente resolvida.
Se os documentos do século XVII não mostram nenhum interesse particular pelas vinhas de Montrachet, os do século XVIII falam frequentemente do cuidado rigoroso de cada proprietário.
Foi nesta altura, em 1713, que o Conde de Clermont-Montoison, por exemplo, promulgou as condições muito específicas para o cultivo da sua vinha de Montrachet, válidas para todos os viticultores que se sucederam.
Os rendimentos foram limitados: a colheita de “10 folhas” em 1762 indica um rendimento naquele ano de cerca de 26 hl/ha. O decreto de demarcação da denominação de origem de 1937 limitava a produção de Montrachet e Chevalier-Montrachet a um máximo de 30 hl/ha.
Atualmente, o Grand Cru de Montrachet produz cerca de 35 mil garrafas por ano, sendo que a “família toda de Montrachet” pode chegar a aproximadamente 150 mil. Para efeito de comparação, em Montrachet, os solos são finos e repousam sobre calcário duro atravessado por uma faixa de marga avermelhada. Em Chevalier, os solos são rendzinas finos e pedregosos derivados de margas e calcários margosos. Em Bâtard, os solos são calcários castanhos mais profundos e, no sopé da encosta, mais argilosos.
Para se ter uma ideia do prestígio de Montrachet, na lista dos 50 vinhos mais caros do mundo do site Wine-Searcher, que vasculha preços de revendedores do mundo todo, há simplesmente oito Montrachets diferentes, sendo um deles produzido pelo mítico Domaine de La Romanée-Conti.