O navio mercante Libourne afundou na costa da Cornualha quando fazia o trajeto entre Bordeaux e Liverpool
André De Fraia Publicado em 06/06/2022, às 10h45
Em 29 de setembro de 1918, seis semanas antes do fim da Primeira Guerra Mundial, o navio mercante Libourne partia de Bordeaux com uma carga de vinho, Champagne, Cognac e licor Beneditino com destino a Liverpool.
Porém o navio nunca encontrou seu destino final.
Submarinos alemães responsáveis por manter a zona de exclusão, ou seja, uma linha de proibição de comércio que isolava as Ilhas Britânicas, afundou o navio mercante e toda sua preciosa carga.
Agora, mais de 100 anos após o colapso do Libourne, caçadores de tesouros subaquáticos estão atentos a ele. O local exato do navio foi descoberto em 2015, porém, apenas agora os mergulhadores conseguiram levar câmeras para explorar o interior da embarcação.
E a surpresa foi enorme quando fotografias e vídeos feitos revelaram que, dentro dos restos apodrecidos do Libourne, e espalhados no fundo do mar ao lado dele, havia muito mais do que as 1.900 garrafas mencionadas no manifesto.
Havia dezenas de milhares – se não centenas de milhares – de garrafas, e não apenas conhaque e champanhe. A escrita nas rolhas revelou que eles incluíam vinho tinto e branco também, além de beneditinos.
Os caçadores de tesouros solicitaram a devida permissão ao governo britânico para resgatar as garrafas, uma operação cara e difícil, envolvendo mergulhadores altamente especializados que viveriam debaixo d'água em uma cápsula pressurizada por 18 dias enquanto realizavam a operação de recuperação.
Mas a missão foi afundada antes mesmo de poder ser lançada. O governo recusou-se a conceder-lhes permissão para montar uma operação de salvamento, apesar de o grupo se comprometer a doar parte dos lucros para a Lizard Lifeboat Station e para uma organização sem fins lucrativos de pesquisa de história marítima chamada The 1421 Foundation.
“Investimos muito dinheiro e fomos em frente com o mergulho exploratório sabendo que a lei permitia. Mas depois fomos informados de que o Governo, apesar de não assinar o tratado da Unesco, aplica a sua política”, explicou Daniel Jayson, um dos chefes da expedição, falando sobre o tratado da Unesco de 2001 que proíbe a exploração de destroços subaquáticos para fins comerciais não assinado pela Grã-Bretanha.
“Eles nos disseram que podemos trazer algumas garrafas para avaliá-los - mas isso é financeiramente impossível, você não pode obter investimento para apenas algumas garrafas”, finalizou Jayson.
Mas é provável que a carga seja valiosa depois de 100 anos no fundo do mar?
Especialistas em vinho ouvidos pela equipe de Caçadores de Naufrágio acreditam que sim. Casos semelhantes de vinhos encontrados em águas suecas recentemente tiveram sucesso em leilões e vendas privadas com algumas garrafas ultrapassando os 50.000 Reais.
Ian Hudson, um historiador naval que acompanha a expedição, acrescenta: “O oceano profundo é a adega perfeita; está escuro e a temperatura é fria e constante. Muitas casas de vinho estão armazenando vinho debaixo d'água agora. Conversei com especialistas que provaram vinhos previamente recuperados de naufrágios e o sabor é incrível. A garrafa pode ser vendida por 25.000 euros”, avalia o historiador.
Outro argumento que os exploradores usam para tentar a aprovação do projeto é a questão científica: “Nunca foi encontrado nada dessa idade ou quantidade ao largo da costa em águas do Reino Unido. Poderíamos aprender como o vinho é afetado em profundidade, se as rolhas são empurradas pela pressão ou se há bactérias nelas”.
As rolhas do champanhe permanecem firmes no lugar seguras pelas gaiolas de arame que estão intactas.
Por enquanto, a equipe só pode adivinhar a qualidade do vinho porque nenhum detalhe de suas safras foi mencionado no manifesto. Mas como a remessa foi enviada de Bordeaux, possivelmente para mantê-la fora das mãos dos alemães – e apenas os ricos bebiam vinho na Inglaterra naquela época – é provável que fosse altamente valioso.