O óleo de oliva está enraizado na cultura dos imigrantes libaneses e sírios que desembarcaram no Brasil
João Calderón Publicado em 05/04/2016, às 12h20 - Atualizado às 19h52
No final do século XIX começaram a desembarcar no Brasil imigrantes árabes, em sua maioria de origens síria e libanesa. Esse fluxo foi crescendo ao longo dos anos até tornar-se importante no século passado. Um grande exemplo disso são os diversos nomes e sobrenomes árabes que passaram a fazer parte do nosso cotidiano: Salim, Nazira, Farah, Tufik e tantos outros.
E por que eles escolheram o Brasil? Não se sabe ao certo, já que o País era uma nação quase desconhecida no mundo árabe. Alguns dizem que muitos deles imaginavam estarem viajando para os Estados Unidos (a América) e que só descobriam que a América que imaginavam era a América do Sul quando aportavam no Brasil.
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Também existe uma vertente de que as primeiras levas de imigrantes árabes por aqui foram atraídas pelo Imperador D. Pedro II, que havia realizado uma viagem diplomática para o Oriente Médio e adquirido certo carinho pela cordialidade e cultura local.
Divergências à parte, o fato é que após séculos dominados pelo Império Turco-Otomano, os árabes enxergavam a emigração como a melhor saída para "combater" as violentas dominações turcas, principalmente quando a situação era agravada pelas crenças religiosas, uma vez que turcos de fé islâmica perseguiam os árabes cristãos.
Foi por volta de 1880 que sírios e libaneses começaram imigrar para o Brasil, em um número que só foi crescendo. Até 1920, com os problemas socioeconômicos agravados no Oriente Médio, já viviam no País mais de 50 mil árabes. Em pesquisas mais recentes, estima-se que a quantidade de descendentes de sírios e libaneses some mais de 5 milhões de pessoas.
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A grande diferença dessas correntes migratórias é que os sírio-libaneses, majoritariamente, não vieram para trabalhar nas lavouras, e sim recomeçar suas vidas como mascates. Aos poucos, eles foram se tornando grandes varejistas, principalmente na região sudeste. Foi em São Paulo o maior reflexo disso, fazendo parte da criação do maior comércio popular do Brasil, a 25 de Março, conhecida também, no século XX, como a "pequena Bagdá".
E por que falar disso? Porque, como acontece em toda grande imigração, a população do Brasil recebeu uma enorme injeção de riqueza cultural e a mais difundida delas foi a tradição dos árabes na cozinha. Quibe, esfiha, homus, babaganoush e tabule, por exemplo fazem hoje parte da cultura paulistana - uma cozinha que não existe sem o azeite de oliva.
Dois terços de todas as oliveiras libanesas estão no norte do país. E é principalmente nessa região que muitas comunidades possuem a olivicultura como sua principal economia, tanto para o consumo local quanto para a exportação. O azeite tornou-se, portanto, muito importante para o Líbano. Sua produção, no entanto, é feita em uma pequena área e não consegue alcançar grandes volumes.
Na primeira década dos anos 2000, a média da produção libanesa de azeite de oliva foi de aproximadamente 5,5 mil toneladas por ano. Outro fator que também atrapalha as exportações libanesas é a competição com outros exportadores mais baratos, os seus vizinhos sírios, por exemplo.
É por esses motivos que o país, com o auxílio de alguns organismos internacionais, vem tentando modernizar os seus lagares, para que seu azeite extravirgem ganhe espaço no mercado internacional pelo ganho de qualidade. Dentre os aproximadamente 30 mil ha de oliveiras plantados, a grande predominância é do cultivar Souri, utilizado tanto para a elaboração do óleo quanto para o consumo de azeitonas de mesa. Seu azeite costuma ser suave e adocicado já que, na maioria das vezes, é colhido tardiamente.
A produção síria de azeite está concentrada, principalmente, nas regiões costeiras e no norte. Mesmo com a constante guerra desde 2011, a exportação, apesar de crescente, ainda fica aquém de suas vendas internas, e continuam muito concentradas no Oriente Médio, em países como Irã e Arábia Saudita. Com isso, a Síria decidiu investir na produção de óleos de qualidade, apostando principalmente em dois de seus cultivares: Zait e Sorani.