Moscatéis mediterrâneos, da Espanha à Grécia

Descubra a riqueza dos vinhos mediterrâneos elaborados com a uva moscatel e marcados pela cor dourada e perfume intenso

Euclides Penedo Borges Publicado em 14/12/2006, às 07h17 - Atualizado em 02/12/2024, às 09h55

Málaga é uma região famosa pela produção de Moscateis - Divulgação


Sobremesas doces à base de nozes e avelãs, pudins e tortas com frutas cristalizadas. Qual é o vinho que você escolheria para acompanhá-las? Certamente um moscatel, doce e aromático, estaria entre suas opções.

A Moscatel é uma uva branca, de aroma floral e penetrante, quase um perfume que, curiosamente, permanece no vinho após a fermentação, o que é uma raridade. A maior parte dos países vinícolas tem pelo menos uma variedade de uva Moscatel originando vinhos de sobremesa populares, em locais de verões quentes e secos, com solos calcários, como os encontrados na costa mediterrânea, que vai do sul da Espanha às ilhas gregas.

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Nessa área ocorrem três clones da Moscatel: o de menor tamanho, conhecido como Moscatel Pequeno (ou Muscat à Petits Grains); o intermediário padrão Moscatel de Alexandria; e o Moscatel Grande (ou Moscato Grosso), conhecido como Zibibbo, na Sicília.

O Moscatel de Valência não é um vinho na acepção da palavra, mas uma 'mistela

Na Espanha... entre Málaga e Valência

A cidade de Málaga, na costa andaluza, tem forte apelo turístico. Até os anos 1980, a estrela da costa espanhola era o Moscatel de Málaga. É obtido com mosto não prensado, de cor âmbar, medianamente doce, com graduação alcoólica entre 14 e 20%. A partir da década de 1990, o Moscatel de Málaga perdeu posição no mercado, e alguns produtores fecharam as portas. Ainda é uma delícia de vinho doce para as 'malagueñas' e para os turistas que abarrotam a cidade no verão.

Mais ao norte, a meio caminho entre Málaga e Barcelona, a cidade portuária de Valência tem seu nome ligado a uma região vinícola do interior. Moscatéis doces de cor ouro velho, com teores entre 14 e 18%, são elaborados na região por várias cooperativas. Porém, o Moscatel de Valência não é um vinho na acepção da palavra, mas uma 'mistela', obtida pela adição de aguardente vínica ao mosto fresco de uvas Moscatel de Alexandria.

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Os Muscat de Rivesaltes apresentam aromas florais e frutados, lembrando Moscatel, cítricos e mel

Na França os vinhos doces naturais

A costa mediterrânea francesa apresenta os vins doux naturels, assim chamados para diferenciá-los dos botritizados, como os do tipo Sauternes, e dos fortificados, como os do tipo Porto. Ocorrem no Roussillon, perto da fronteira com a Espanha, e no Languedoc, entre as cidades de Perpignan e Narbonne.

No Roussillon, encontra-se Rivesaltes, com a maior extensão de cultivo de Moscatel de Alexandria entre as áreas aqui citadas. São quase 5.000 hectares de terrenos acidentados, com solos xistosos, secos e magros. Os Muscat de Rivesaltes apresentam aromas florais e frutados, lembrando Moscatel, cítricos e mel. São vinhos delicados, para serem consumidos no seu primeiro ano e que enfrentam galhardamente um Roquefort.

No Languedoc, a variedade predominante é o Muscat à Petits Grains, entre os quais estão os vinhos de Frontignan, Mireval, Lunel e Saint-Jean-de-Minervois, todos recomendados para consumo dentro de dois anos após a safra. Acompanham uma gama de sobremesas como o melão bem maduro, bolos de chocolate e tortas de frutas cítricas.

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O Muscat de Frontignan, ocupando 800 hectares de terrenos com pedregulhos calcários sobre base argilosa, é um vinho licoroso, rico e dourado, com aromas de tília e mel, aliados ao caráter 'muscat'.

O Muscat de Mireval, cultivado em uma área com menos de 400 hectares, tem os mesmos pedregulhos calcários de Frontignan, seu vizinho. Trata-se de um vinho licoroso, dourado, com nuances de mel, frutas natalinas como damasco e figo secos, além de moscatel.

O Muscat de Lunel tem a mesma área de Mireval, com as argilas vermelhas e os pedregulhos característicos de várias comunas vizinhas. É um moscatel de grande finesse, equilibrado e perfumado, com aromas de passas e flores, elaborado nas cooperativas de Lunel.

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O Muscat de Saint-Jean-de-Minervois está situado mais para o interior, próximo a Carcassonne, e não ocupa mais do que 150 hectares de terrenos calcários com xistos. Trata-se de um vinho licoroso, fino e vivo, com aromas florais, mélicos e cítricos, elaborado na Cave Cooperative local.

A ilha mediterrânea de Pantelleria, onde a Moscatel é chamada de Zibibbo, é considerado um dos melhores brancos doces de tota a Itália

No Sul da Itália

"A Itália permanece no centro da praça da civilização como uma fonte barroca jorrando continuamente vinhos de todas as cores e tipos." A expressiva frase de Hugh Johnson nos diz bem sobre a multiplicidade dos vinhos italianos. O país é pródigo em vinhos doces. Somente em torno da Sicília encontramos quatro moscati dignos de menção: Siracusa, Noto, Villa Fontane e Pantelleria.

A pequena ilha mediterrânea de Pantelleria, onde a Moscatel é chamada de Zibibbo, orgulha-se de dois moscatéis lendários elaborados com uvas secas ao ar livre. O Moscato di Pantelleria, um dos melhores brancos doces italianos, equilibrado, persistente, com graduação entre 15 e 16%. E o Passito di Pantelleria, amadurecido por seis meses em carvalho e por mais oito ou dez em garrafa, concentrado em aromas, com álcool mínimo de 14%. Haja Gorgonzola...

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Moscatéis gregos no continente e nas ilhas

Após ingressar na Comunidade Europeia nos anos 1980, a Grécia esmerou-se em adotar métodos franceses de vinificação, depois de séculos de isolamento no mundo dos vinhos. Ainda que a Grécia continental tenha exemplares de moscatéis - como é o caso do Moscatel de Patras, feito no estilo do Beaumes de Venise francês - os famosos moscatéis gregos doces fortificados, de caráter tradicional, são provenientes das ilhas gregas.

O mais afamado é o Moscatel de Samos, com sua gama de estilos, desde o suave até o extremamente açucarado, elaborados com uvas passificadas. A versão intermediária do Moscatel de Samos tem o mesmo caráter do vin doux naturel francês.

Mais ao norte, na ilha de Lemnos, são elaborados moscatéis doces diversos, incluindo um especial: o Moscatek de Lemnos resinoso, vinificado ao estilo do Retsina, ou seja, com adição de resina de pinheiro ao mosto em fermentação. O travo amargo da resina no vinho, entretanto, é somente para o paladar de iniciados. Estou fora!

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