A ilha italiana possui 23 denominações de origem de vinhos bastante diferentes
Arnaldo Grizzo Publicado em 04/09/2021, às 14h00
A bela ilha italiana da Sicília
Séculos de explorações, dominações e invasões.
Não à toa, a Sicília, apesar de pertencer à Itália, é uma miríade de culturas diferentes, o que se reflete em seu povo, seus costumes, sua culinária, sua arquitetura e, obviamente, seus vinhos. É preciso ter em mente esse mosaico criado por tantas culturas para compreender a essência dos sicilianos.
Mas falando essencialmente de seus vinhos, é necessário lembrar que a Sicília, apesar de ser uma ilha, na ponta da bota da Itália, tem um território bastante vasto, com cerca de 25,5 mil quilômetros quadrados. E há ainda as ilhas e arquipélagos vizinhos como as Eólias, Ustica, as Égadas, Pantelleria e as Pelágias.
Além da cultura com influências romanas, gregas, árabes, bizantinas entre outras, o território tampouco é uniforme, com menos de 15% de planícies (a maior parte na região da Catânia). Na parte leste, os Apeninos sicilianos continuam a partir dos Apeninos da Calábria, e no centro e oeste há maciços isolados, com exceção do vulcão, o Monte Etna (3.350 metros) e da cordilheira Madonie, que inclui o pico mais alto da ilha: Pizzo Carbonara (1.979 metros).
Os principais rios da ilha são o Salso (ou Imera Meridionale) e o Platani, com níveis de água extremamente baixos no verão. A Sicília possui clima mediterrâneo, com verões quentes, invernos amenos e chuvosos e estações do ano muito variáveis. Na costa, especialmente no lado sudoeste, o clima é fortemente afetado pelas correntes africanas, resultando em verões tórridos.
Vinhedos ao pé do vulcão Etna
A miríade de tipos de solo, majoritariamente basálticos, também ajuda a criar uma enorme variedade de terroirs. Aliás, a Sicília apresenta nada menos que 23 denominações de origem.
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Diz-se que os fenícios introduziram a vinha na Sicília, embora a videira selvagem já estivesse presente na flora espontânea.
Durante séculos, os fenícios comercializavam vinho siciliano em todo o Mediterrâneo. A colonização grega começou com a fundação de Naxos e Siracusa em meados do século VIII a.C. Outras importantes cidades foram posteriormente construídas, fundadas por cartagineses, como Zyz, Mothya e Solunto, e pelos Elimi, como Eryx e Segesta. Os gregos difundiram o cultivo da videira.
A primeira menção na Europa da presença de uma cultura de vinha encontra-se na Odisseia, nas passagens dedicadas à ilha dos Ciclopes, identificada no arquipélago das Égadas.
O Vale dos Templos de Agrigento com construções do século 5 a.C.
A Sicília teve períodos com alternância de diferentes culturas, dos bizantinos aos muçulmanos, passando pelos normandos, chegando aos aragoneses e espanhóis. Mais tarde, os movimentos das frotas inglesas, durante o período napoleônico, favoreceram o surgimento de uma produção vinícola no porto de Marsala.
Enfim, é por tudo isso que hoje a Sicília oferece uma vasta gama de vinhos de diferentes estilos.
Embora as variedades internacionais tenham muito destaque em determinados vinhos sicilianos, deve-se apontar algumas uvas indígenas como as responsáveis por alguns dos vinhos mais originais da ilha.
Entre as tintas, as mais comentadas são: Nero d’Avola, Frappato e Nerello Mascalese.
A Nero d’Avola é mais cultivada e dá origem a vinhos de cor e sabor profundos, com boa estrutura, acidez e taninos não muito pungentes. Esta casta é principal da única Denominazione di Origine Controllata e Garantita (DOCG) da ilha, a Cerasuolo di Vittoria.
A Frappato, embora normalmente misturada com outras cepas, também pode ser engarrafada sozinha. Ela tende a gerar vinhos fáceis de beber com taninos suaves, mas também pode apresentar mais corpo dependendo da vinificação. Já a Nerello Mascalese ocupa segundo lugar em volume. É uma uva que prospera nos solos vulcânicos do Etna e costuma ser misturada com a Nerello Cappuccio, uma variedade mais rústica.
Entre as brancas, pode-se citar as indígenas Catarratto, Grillo, Inzolia e Carricante, por exemplo. A Catarratto é a branca mais plantada e já teve fama de produzir apenas vinhos de volume, mas vem sendo mais bem tratada recentemente. Grillo e Inzolia são muitas vezes usadas na base do blend do tradicional vinho Marsala, mas têm ganhado destaque em vinificações monovarietais, especialmente a Grillo, graças ao seu estilo bastante cítrico. Já a Carricante é a variedade que mais se destaca ao redor do Etna, com vinhos de boa acidez.
A Sicília tem nada menos que 23 denominações de origem controlada em seu território, sendo que a DOC Sicilia, genérica, abarca toda a ilha.
Vindima na vinícola Donnafugata na Sicília
Ela foi criada em 2011 e é bem ampla, aceitando as mais diversas variedades locais, como Grillo, Nero d’Avola, Frappato, Catarratto, Inzolia, Grecanico, Perricone entre outras, assim como também as internacionais como Chardonnay, Cabernet Sauvignon e outras.
Contudo, há denominações específicas em microrregiões. Destacamos algumas.
Nem é preciso dizer que o Etna é a principal referência para tudo na Sicília.
Seu solo fértil é favorável a diversas culturas, inclusive a vinha. O clima é quase alpino, com luz solar intensa, mas também com o dobro da precipitação das regiões ao redor. As principais uvas são Nerello Mascalese, considerada a “Pinot” do Etna, devido à sua capacidade de transmitir o terroir; e a Carricante, para os brancos, que tendem a ser bem minerais. Pelas regras, a Carricante pode ser misturada com outras brancas locais como a Catarratto, por exemplo.
Já a Nerello Cappuccio é geralmente misturada com a Mascalese. Os blends da DOC devem conter no mínimo 80% de Nerello Mascalese, com no máximo 20% de Nerello Cappuccio. A região é marcada pelos terraços de pedra que seguem antigos fluxos de lava e que, de certa forma, acabam por criar os “Crus” locais.
Em comparação com a região do Etna, o canto sudeste da Sicília tem altitude mais baixa e temperaturas mais altas. Aqui é a casa da única DOCG da ilha, denominada Cerasuolo di Vittoria.
Seus vinhos são blends que devem ter Nero d’Avola entre 50% e 70%, com o restante de Frappato. A Nero d’Avola traz cor, estrutura e profundidade à mistura, enquanto a Frappato oferece aromas e frescor. Existem duas categorias de vinhos: o Rosso e o Classico.
O primeiro deve ser envelhecido por cerca de oito meses, enquanto o segundo, que deve ser feito a partir de uvas cultivadas na chamada zona tradicional, deve ser envelhecido por, pelo menos, 18 meses.
Marsala é um vinho histórico da Sicília.
A cidade de Marsala fica na parte sudoeste da ilha e foi um porto importante durante séculos. As uvas-base de seus famosos vinhos fortificados tendiam a ser Inzolia e Catarratto, mas a Grillo também tem ganhado proeminência. Contudo, são permitidas 10 variedades, que incluem as tintas Nerello Mascalese e Nero d’Avola.
Os vinhos são feitos em um método semelhante ao Jerez, ou seja, com sistema de solera.
E como Jerez, Marsala tem várias categorias relacionadas à idade:
A cor e o açúcar residual também são anotados e os matizes são divididos em:
E ainda quanto ao teor de açúcar:
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