Será que há uma relação entre a quantidade de álcool e a qualidade do vinho?
Redação Publicado em 27/10/2022, às 06h00
“Sempre ouvi dizer que quanto maior o grau alcoólico, melhor é o vinho. É verdade?”, pergunta o leitor Adilson Moura.
E respondendo, é provável que essa falácia possa ter tido um fundo de verdade antigamente.
E a explicação se deve à relação costumeira entre o grau de açúcar natural da fruta presente nas uvas antes da fermentação e o grau alcoólico resultante. Em um passado não tão distante assim, considerava-se que, quanto mais maduras as uvas (ou seja, mais álcool era produzido na fermentação), consequentemente melhor era o vinho.
Essa percepção se reflete em muitas regras de denominação europeias, por exemplo, em que alguns vinhos podem receber status mais elevado (Reserva) se superarem uma porcentagem de volume alcoólico. Mas esse pensamento tornou-se ultrapassado há muito tempo. As datas de colheita e a madurez das uvas (e consequentemente o álcool) dependem do estilo de vinho desejado.
Vale apontar que o teor alcoólico pode variar de região para região (as mais quentes geralmente produzirão vinhos com mais álcool) e de variedade para variedade, ou seja é uma questão de genética da uva e não de qualidade. Primitivo provavelmente vai apresentar volume de álcool maior do que Pinot Noir (apesar de isso não ser uma regra exata).
Além disso, hoje os enólogos buscam um equilíbrio de maturação das uvas, em que a maturidade fenólica esteja congruente com a dos açúcares. Sim, a sobrematuração, algo bastante comum até pouco tempo atrás, já não é tão bem vista, pois como se supõe, produz muitos açúcares (e dessa forma mais álcool) e, às vezes, desequilibra os outros componentes fenólicos.
Portanto, a ideia de que um vinho com maior teor alcoólico é melhor está completamente errada. Essa relação definitivamente não existe. Há grandes vinhos com volumes de álcool dos mais variados. Se o álcool fosse um fator determinante de qualidade, só beberíamos Vinho do Porto ou outros fortificados, não?