Pesquisa analisou vinhos das duas regiões e descobriu que o fenômeno está agindo de forma acelerada
Redação Publicado em 04/02/2022, às 19h00
Estudo traz resultado surpreendente
Segundo pesquisadores do Institut des Sciences de la Vigne et du Vin (ISVV) e da UC Davis, dados climáticos mostraram um aumento significativo nas temperaturas médias da estação de cultivo tanto em Napa quanto em Bordeaux, particularmente desde a década de 1980. Mas, até agora, as condições mais quentes geralmente contribuíram para uma melhor qualidade média do vinho. No entanto, eles questionaram por quanto tempo isso iria durar.
“Em Napa e Bordeaux, a viticultura se adaptou com sucesso a um clima em mudança drástica até agora, mas as métricas baseadas em frutas levantam preocupações de que estamos nos aproximando de um ponto de inflexão”, apontaram. Eles disseram que pesquisas anteriores mostraram que temperaturas mais altas podem aumentar o teor de açúcar das uvas e diminuir as antocianinas, as moléculas que ajudam a dar cor ao vinho tinto. Depois de analisar amostras de cinco safras de Cabernet Sauvignon da Califórnia, os autores sugeriram que a perda de cor começou depois que um determinado nível de açúcar foi atingido.
O professor Gregory Gambetta, do ISVV em Bordeaux e co-autor do estudo, disse que uma questão fundamental era o ritmo da mudança e como encontrar maneiras mais precisas de medir o impacto. “Uma coisa que é chocante para mim é que a mudança de temperatura [desde os anos 1980] não tem sido gradual. Nós meio que sempre acreditamos que será gradual e que haverá tempo para se adaptar. Com que rapidez os produtores podem mudar se as temperaturas subirem novamente em outro período de 10 anos?”, questiona.
Embora não haja sugestão de os vinicultores abandonarem as variedades de uva tradicionais ainda, as denominações Bordeaux AOC e Supérieur ganharam a aprovação para o uso experimental de seis variedades diferentes, incluindo Touriga Nacional. “Aumentar a diversidade em qualquer sistema é sempre melhor, mas os cultivares existentes são bastante adaptáveis”, afirmou Gambetta.
Apesar do foco do estudo ter sido nos indicadores de qualidade da uva, ele também apontou que a quantidade de produção é um grande problema. Os cientistas vincularam as mudanças climáticas a condições meteorológicas extremas mais frequentes, como tempestades de granizo, geada ou seca, sendo esta última também considerada um fator de risco específico para incêndios florestais.
» Receba as notícias da ADEGA diretamente no Telegram clicando aqui