Vertical de vinhos Secret Spot

Degustamos todos os vinhos Secret Spot

Eduardo Milan Publicado em 09/04/2019, às 17h00 - Atualizado em 26/06/2019, às 11h10

A ideia é interessante e ousada: elaborar um vinho sempre de vinhedo único, porém, de um lugar diferente, escolhido a dedo a cada safra por suas uvas de qualidade excepcional. O vinhedo, a região e o país também podem variar, tudo em função da excelência das uvas. O que não varia é a decisão dos dois mentores do projeto de revelarem somente a região, mas nunca a localização exata do vinhedo, nem o tipo e o regime de madeira utilizado e, muito menos, as variedades que compõem o vinho.

Assim nasceu Secret Spot, um projeto dos enólogos Rui Cunha e Gonçalo Sousa Lopes, em 2004. Consultores de diversas vinícolas em Portugal desde 1994, Cunha e Lopes sempre tiveram acesso e conhecimento de diversas vinhas velhas e excepcionais espalhadas pelo país. Em abril, Cunha, que é neto do fundador da famosa casa Ramos Pinto, esteve no Brasil e contou o pouco que podia sobre o projeto e seus vinhos em uma degustação exclusiva.

Nascido em 2004, Secret Spot é um projeto dos enólogos Rui Cunha e Gonçalo Sousa Lopes

Ele diz que o nome foi ideia de Lopes, que também é surfista. Segundo Cunha, é muito comum que os surfistas mais experientes não revelem a localidade de uma praia especial para o surfe, para não perderem a privacidade e a exclusividade do local, passando a chamá-la simplesmente de “secret spot”. E quando afirmamos que detalhes sobre os vinhos nunca são revelados, é nunca mesmo. Foram muitas as tentativas durante a degustação de saber mais informações sobre os rótulos provados, como localização exata dos vinhedos, variedade das uvas etc, mas Cunha, de um jeito sempre descontraído e divertido, foi firme e nada revelou.

ADEGA degustou ao todo 10 Secret Spot, sendo oito tintos e dois Moscatéis do Douro. Dos tintos, seis são do Douro, safras 2004, 2005, 2006, 2007, 2009 e 2011, sendo que somente em 2005 e 2011 vêm do mesmo vinhedo velho. O tinto da safra 2008 vem do Alentejo e o 2010 de Rioja, na Espanha. Mas, este último não recebe o nome Secret Spot meramente por questões legais da DOC Rioja. Assim, chama-se Dione. Para cada Secret Spot, é escolhida uma cor de rótulo para representar a vinhedo de origem.

Primeiramente, foram degustados os vinhos do Douro, seguidos pelos do Alentejo e de Rioja, terminando com os dois doces. Conseguimos extrair, depois de muita conversa, que, no campo dos tintos, Cunha busca o mínimo de intervenção, usa prensa vertical, levedura indígena, sempre fermenta em madeira de tanoarias francesas, com estágio em barricas novas entre 16 e 20 meses, dependendo da safra. O resultado são vinhos de qualidade acima da média, que têm, antes de tudo, muito sentido de origem e um estilo polido, preciso, compacto, bem acabado e, além disso, são balanceados e cheios de finesse.

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Os segredos do enólogo português Rui Cunha

AD 93 pontos
SECRET SPOT 2004
Secret Spot Wines, Douro, Portugal. Este vinhedo não existe mais, foi arrancado em 2007. Super jovem para quase 10 anos de garrafa, cor íntegra, boca complexa, com frutas compotadas como ameixas e cerejas. Impressiona pela textura de taninos, pela acidez vibrante e pela frescura, mesmo tendo esse perfil de fruta mais madura, que se confirma na boca. Muito longo e cheio e ao mesmo tempo, sempre num contexto de elegância. Álcool 13,5%. EM

AD 94 pontos
SECRET SPOT 2005
Secret Spot Wines, Douro, Portugal. Nariz mais mineral envolto por notas herbáceas, uma fruta vermelha, com notas de eucalipto. Mais austero, menos cheio, com a madeira mais perceptível, com o mineral se refletindo também na boca, associado a toques salinos. Depois foi abrindo e mostrando diversas camadas. Foi o mais pronto para beber de todos os vinhos degustados da vertical e, segundo Rui Cunha, foi a primeira vez que ele preferiu o 2005 ao 2004. Álcool 13,5%. EM

AD 91 pontos
SECRET SPOT 2006
Secret Spot Wines, Douro, Portugal. Nariz foi mudando e evoluindo com o tempo de taça. Muito floral, toques de eucalipto, mas também pleno de frutas maduras, quase em compota. No palato, confirma esse perfil mais maduro, mas mostrando também acidez refrescante, que traz certa vivacidade ao conjunto. Um pouco mais diluído e menos persistente, talvez em virtude do final chuvoso na safra 2006. Álcool 15,5%. EM

Enólogos não revelam a localização do vinhedo, tampouco as variedades que compõem o vinho

AD 90 pontos
SECRET SPOT 2007
Secret Spot Wines, Douro, Portugal. Aromas licorosos e de especiarias doces dominam o conjunto. No palato, confirma este estilo opulento e untuoso, sobrando um pouco de álcool no final. É cheio, tem ótima textura de taninos e final suculento e persistente. Álcool 16,5%. EM

AD 93 pontos
SECRET SPOT 2009
Secret Spot Wines, Douro, Portugal. Exuberantes aromas de cassis e ameixas estão envoltos por notas mentoladas e florais, além de toques minerais e de tabaco. União da potência e suculência do 2004 com o equilíbrio, o frescor e a finesse de 2005. Ainda está jovem e deve ficar ainda melhor com mais uns cinco anos de garrafa. Álcool 16,5%. EM

AD 95 pontos
SECRET SPOT 2011
Secret Spot Wines, Douro, Portugal. Vem do mesmo vinhedo do 2005. Está super jovem, um pouco fechado e difícil ainda, mas com o tempo na taça foi se abrindo e se mostrando, com suas frutas negras, especiarias doces, notas florais, tudo num contexto de precisão, equilíbrio e finesse. Compacto, impressiona pela qualidade e textura de taninos, tem acidez vibrante e final vertical e persistente, com toques de grafite. Mais um grande vinho dessa fenomenal safra 2011 no Douro. Álcool 14,5%. EM

AD 91 pontos
SECRET SPOT 2008
Secret Spot Wines, Alentejo, Portugal. As uvas vêm de um solo xistoso, com condução em gobelet (foram as únicas informações que consegui arrancar de Rui Cunha). Típico Alentejo, frutado, exuberante, suculento e gostoso de beber. As frutas negras são acompanhadas por notas florais, herbáceas e de especiarias doces, tem boa acidez, ótima textura e final persistente e agradável, pedindo mais um gole. Álcool 14,5%. EM

AD 94 pontos
DIONE 2010
Secret Spot Wines, Rioja, Espanha. A uvas vêm de um vinhedo de um amigo de Rui Cunha. Grande surpresa da degustação. Uma ótima interpretação, num estilo menos “clássico” do que se espera de Rioja, mas lembrando, sem exageros, os vinhos de Benjamin Romeo, o que não deixa de ser um ótimo sinal. Esbanja fruta de excelente qualidade como cerejas e framboesas, seguidas de notas florais, defumadas e de sangue, além de toques terrosos e de especiarias doces. Limpo, preciso e profundo, tem gostosa acidez, taninos de grãos finos, com textura lembrando giz e final vertical e suculento. Álcool 14,5%. EM

AD 92 pontos
SECRET SPOT MOSCATEL DO DOURO 10 ANOS
Secret Spot Wines, Douro, Portugal. Fortificado branco doce, tem nariz complexo, cheio de laranja, frutos secos e especiarias doces. Mostra ótima cremosidade, bom volume de boca, acidez refrescante e final persistente, com cascas de cítricos. Álcool 17%. EM

AD 95 pontos
SECRET SPOT MOSCATEL DO DOURO 40 ANOS
Secret Spot Wines, Douro, Portugal. Uma preciosidade, difícil de encontrar. Um blend de vinhos de idade média de 40 anos, sendo o mais jovem com mais de 20 e o mais velho com mais de 80. Elegante e até sutil para um vinho fortificado doce, talvez pelo perfeito equilíbrio entre sua acidez pulsante e sua doçura opulenta. Enche toda boca como se fosse um doce de tâmaras e frutos secos, mas regado por um refrescante suco de limão e laranja, que traz vibração a todo conjunto. Seu final é quase interminável, com várias e várias camadas de sabores que vão desde marrom glacê até amêndoas. Álcool 17%. EM

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