Para os fãs do dixieland, do tradicional, do bebop ou do contemporâneo, nada melhor para acompanhar um bom jazz do que um elegante coquetel
por Sílvia Mascella Rosa
Alguns vinhos argentinos 'pedem' uma carne e um tango. Alguns champanhes 'soam' melhor na companhia de um parceiro que sussurra palavras impublicáveis em seu ouvido. A batida de coco ou limão é a mestre de cerimônias da feijoada e do samba. Mas o jazz é a trilha sonora dos mais elegantes coquetéis.
Ele fala de bares pouco iluminados. Da fumaça de cigarros e charutos. De sofás de couro amaciados pelo tempo. De pessoas que quase inexistem à luz do dia, embaçadas pelas conversas discretas, vestidas em ternos bem cortados e muito usados, de saias justas e saltos altos. E embora o Bourbon e o uísque também lhe façam grande justiça (principalmente histórica), é nos coquetéis que o jazz encontra seu parceiro mais afinado e criativo.
Da mesma forma que é impossível se dizer um apreciador do estilo sem escutar Charlie Parker e seu saxofone genial, Duke Ellington ao piano e a voz de Ella Fitzgerald, é impensável fazer drinques sem três destilados essenciais para a coquetelaria tradicional como a vodca, o rum e o gim. Bases tão sólidas no bar quanto as lendas citadas são para o jazz.
As associações que virão a seguir são mais do que livres e foram inspiradas pela boa música e pela artesania dos coquetéis, capazes de combinar sabores, aromas e cores da mesma forma que os grandes músicos combinam as notas, acordes e ritmos. S'marvelous! Ajuste seu aparelho de som e prepare sua bebida!
Para acompanhar o bebop (primeiro estilo moderno de jazz) de Charlie Parker, no tema "Now's the Time", de 1953, você pode preparar o coquetel "Inspiração", que leva (para uma pessoa):
- 4 ou 5 cubos de gelo
- 1/2 dose de licor Bénédictine
- 1/2 dose de vermute seco
- 2 doses de vodca
Coloque todos os ingredientes em um copo alto de mistura. Com uma colher de cabo longo (colher bailarina), misture bem por 15 segundos. Coe para uma taça de coquetel (ou taça de Martini) e sirva decorado com uma casquinha de limão.
Em parceria com o piano de Duke Ellington (que além desse instrumento era arranjador e compositor) em qualquer uma de suas fases - tanto as mais dançantes quanto a mais tradicional -, é importante usar o gim, forte e perfumado, até mesmo em uma de suas mais famosas preparações, o Dry Martini (gim, vermute seco e gelo). Mas, aqui, segue uma proposta mais festiva, o "Gin Sling", para ser bebericado ao som de "Wing Wise", na gravação de 1962, com Charles Mingus no baixo:
- 4 ou 5 cubos de gelo
-suco de 1/2 limão
-1 dose de licor de cerejas (cherry brandy)
- 2 doses e 1/2 de gim
- água com gás gelada
Em uma coqueteleira, ponha o gelo, o suco de limão, o licor e o gim. Mexa vigorosamente por 15 segundos, ou até perceber que a parede da coqueteleira está embaçada. Transfira para uma taça do tipo tulipa e complete com a água com gás. Decore com uma cereja fresca ou em calda. Sirva com um canudo.
Para quem já foi apresentado como o mais "multiforme e imprevisível nome do jazz moderno", o norte-americano Chick Corea, os coquetéis se soltam e adquirem alguns sabores latinos, coerentes com algumas correntes musicais que o pianista gosta de explorar. O rum, tropical de corpo e alma, pode ser provado da maneira mais tradicional, no Daiquiri ou no Mojito, como gostava Ernest Hemingway (um compositor da palavra escrita) ou no coquetel "Serenade", apreciado junto da faixa "Now he sings, Now he sobs", composta por Corea em 1968:
- 6 cubos de gelo moídos
- 1 dose de rum branco
- 1/2 dose de licor Amaretto di Saronno
- 1/2 dose de licor de creme de coco
- 1 dose e 1/2 de suco de abacaxi concentrado
1 pedaço de abacaxi para decorar
No copo do liquidificador, coloque a metade do gelo, o rum, o Amaretto, o licor de coco e o suco de abacaxi. Bata por 20 segundos. Transfira para um copo alto e coloque o restante do gelo. Decore com o pedaço de abacaxi e sirva com um canudo.