Pelo 22º ano, a Associação Brasileira de Enologia promove a Avaliação Nacional de Vinhos, um movimento orquestrado diante de mais de 850 apreciadores de vinho
por Por Eduardo Milan
No dia 27 de setembro, o Parque de Eventos de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, recebeu a 22ª Avaliação Nacional de Vinhos, apresentando a safra 2014 dos vinhos produzidos no Brasil.
Os números surpreendem. Um total de 290 amostras foram inscritas por 58 vinícolas de todo o país. Os quase 900 participantes – vindos de diversos estados e também do exterior – degustaram 16 amostras selecionadas entre 90 vinhos classificados entre os 30% mais representativos desse total. O evento estendeu-se por mais de quatro horas, durante as quais pôde-se presenciar um espetáculo ímpar e digno de admiração.
Com competência, 90 alunos dos cursos de Viticultura e Enologia, Enoturismo e Sommelier promoveram o serviço dos vinhos – novamente, 16 amostras para mais de 850 degustadores presentes – com a organização e a sutileza de uma orquestra. Deram conta de abrir e servir de forma coordenada, como os acordes de uma música, 90 garrafas de cada amostra, ou seja, 1.440 garrafas de vinho.
Este ano, uma novidade: uma das amostras – a oitava – foi degustada literalmente às cegas. Sim, cada um dos participantes recebeu uma venda e foi convidado a ter a visão totalmente bloqueada, de modo que os outros sentidos fossem aguçados. A ideia da ABE foi festejada. “A experiência foi emocionante e levou todos a explorar diferentes sensações e emoções. Mais uma vez, conseguimos tocar no íntimo das pessoas, tendo o vinho como centro das atenções”, comemorou o presidente da ABE, o enólogo Luciano Vian.
Outro ponto de destaque dessa 22ª Avaliação Nacional de Vinhos foi a presença dos presidentes da Organização Internacional da Uva e do Vinho (OIV), a argentina Claudia Quini, da União Internacional de Enólogos (UIOE), o francês Sergei Dubois, do Instituto Nacional de Vitivinicultura do Uruguai (Inavi), José Lez e da União Espanhola de Degustadores, Fernando Gurucharri. O painel contou ainda com a presença de personalidades, como o produtor de vinhos e narrador esportivo Galvão Bueno e o ator e diretor Selton Mello – que rodará seu próximo filme no Vale dos Vinhedos –, além de consultores internacionais, enólogos, jornalistas e especialistas. Tradicionalmente, uma pessoa do público é sorteada para completar a mesa; este ano, o felizardo foi o analista de sistemas Eduardo André Rambo.
Desde 1993, durante a Avaliação Nacional de Vinhos, a ABE reconhece aqueles que prestaram serviços de promoção do vinho brasileiro, homenageando-os através da entrega do Troféu Vitis. Em 2014, as honras foram para o professor, jornalista e especialista em Marketing do Vinho pela ESPM, Carlos Raimundo Paviani, diretor-executivo do Ibravin – que recebeu o Troféu Vitis 2014 Amigo do Vinho Brasileiro – e para o engenheiro agrônomo com especialização em Cooperativismo, Ciro Pavan – homenageado com o Troféu Vitis 2014 Enológico.
Ao analisar os vinhos, percebe-se que está se iniciando uma busca por mais leveza e um perfil de fruta mais fresca
O evento é de grande importância para a indústria vitivinícola nacional. É comum que os enólogos aguardem os resultados da Avaliação para definir seus cortes e quais bases serão utilizadas em seus vinhos, servindo, inclusive, como referência para a escolha de variedades de uvas e lançamento de produtos.
Nesse ano, foram selecionadas três amostras na categoria vinho base para espumante. A da Domno chamou a atenção pelo volume e persistência, já a Chandon pela mineralidade e tensão do conjunto, enquanto a da Cave Geisse pela qualidade da fruta tropical madura e pelo frescor. Longo em seguida, foram apresentadas quatro amostras na categoria branco fino seco não aromático. O Riesling Itálico da Salton esbanjou acidez e mostrou bom volume de boca. O Chardonnay da Fazenda Santa Rita conseguiu aliar cremosidade e volume com mineralidade e acidez. Já o Chardonnay da Góes e Venturini mostrou mais fruta branca e notas cítricas.
A categoria branco fino aromático contou com apenas uma amostra e foi degustada de olhos vendados, o que aguçou ainda mais a percepção aromática e gustativa do Moscato Giallo da Giacomin, exuberante nos aromas florais e de frutas cítricas e que surpreendeu pelo volume de boca.
Iniciando os tintos, foi apresentado um Cabernet Sauvignon da Vinhos Hortência na categoria tinto fino seco jovem, que se mostrou com ótima acidez e um perfil de fruta mais madura. Na última categoria foram selecionados sete vinhos. Um Cabernet Franc da Góes, cheio de frescor, suculento e com frutas negras mais maduras. O Merlot da Perini foi, para ADEGA, o maior destaque entre as 16 amostras, mostrando muito frescor, mineralidade e ótima textura. Depois foi apresentado o Merlot da Casa Valduga, muito bem feito no seu estilo mais opulento e suculento, com frutas mais maduras. O Cabernet Sauvignon da Aurora também mostrou um estilo mais encorpado e de taninos macios. Depois foram selecionados surpreendentemente dois Ancellottas, um da Don Guerino, com a boca melhor que o nariz, mostrando agradáveis toques terrosos e outro da Monte Rosario/Rotava, cheio de fruta fresca, com taninos mais mansos, mas mantendo a tipicidade da casta. Finalmente, foi apresentado um Tannat da Valmarino, que surpreendeu pela textura sedosa dos taninos e suculência de fruta.
Em resumo, pela boa qualidade geral dos vinhos apresentados, podemos esperar boas notícias da safra 2014, mas realmente interessante foi a percepção de que está se iniciando uma busca por mais leveza e um perfil de fruta mais fresca e menos compotada, haja vista o estilo de alguns vinhos selecionados. Isso é muito bem-vindo e segue uma tendência que já vem acontecendo no mundo nos últimos anos, tanto em termos das vinícolas, quanto pelos consumidores.
NÚMEROS DA 22ª AVALIAÇÃO NACIONAL DE VINHOS – SAFRA 2014
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