A Avaliação Nacional de Vinhos deu mais uma mostra do que podemos esperar dos vinhos da safra 2013
por Por Sílvia Mascella Rosa
No último sábado do mês de setembro, 850 pessoas se reuniram no pavilhão da Fenavinho, em Bento Gonçalves, para degustar e conhecer os 16 vinhos escolhidos como os mais representativos da safra brasileira de 2013.
Em sua 21ª edição, a Avaliação Nacional de Vinhos recebeu inscrições de 309 produtos feitos por 63 empresas vinícolas de seis estados brasileiros (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Bahia). Para garantir a idoneidade das amostras, uma equipe de enólogos da Associação Brasileira de Enologia (ABE), recolhe os vinhos diretamente nos tanques e barricas das vinícolas, colocando-os em garrafas padronizadas.
Essas amostras, então, dividem-se em cinco categorias (Vinho base para espumante, Branco fino seco não aromático, Branco fino seco aromático, Tinto fino seco jovem e Tinto fino seco) que serão degustadas às cegas por 120 enólogos no Laboratório de Análise Sensorial da Embrapa Uva e Vinho. Esse longo processo resulta em 30 vinhos que são selecionados pelos enólogos nas variadas categorias e, por fim, numa nova rodada de degustações, são escolhidos os 16 mais representativos da safra.
No dia 28 de setembro, os 16 convidados subiram ao palco para comentar uma a uma as amostras, enquanto o público as degustava concomitantemente. Entre enólogos, jornalistas, enófilos, houve, neste ano, uma novidade bem-vinda, em clara demonstração do amadurecimento do setor e de sua sinergia com outras partes da cadeia, a presença de empresários como Antônio Cesar Longo (Presidente da AGAS) e Adilson Carvalhal Júnior, dono da tradicional importadora Casa Flora, que recentemente incorporou ao seu portfólio uma marca de vinhos brasileiros. “Nunca participei, em todo o mundo, de um evento tão bem organizado e grande como este. E comentar um vinho branco é estar ciente de que este é um produto que temos que trabalhar melhor, pois acredito que o caminho para aumentar nossa pequena base de consumidores passa necessariamente pelos vinhos brancos”, afirmou.
Avaliar vinhos de safras recentes é sempre um desafio, principalmente nas categorias “Base para Espumante” e “Tinto Fino Seco”. Os vinhos que servirão como base para espumantes estão muito menos prontos do que os outros, mais ácidos e menos aromáticos, pois são preparados para sofrer uma nova fermentação. Já os tintos secos podem ser, muitas vezes, pungentes, repletos de taninos e rascantes, e há de se perceber o potencial que guardam para quando terminarem o processo, quer passem por amadurecimento em carvalho ou não.
Dessa forma, raramente se encontra nessa degustação vinhos prontos para irem ao mercado, exceção feita a alguns poucos brancos jovens (nesta edição, um Riesling, alguns Chardonnay, um Moscato e um Sauvignon Blanc) e um tinto jovem da uva Gamay. Para os demais, há muito tempo pela frente, em tanques, em barricas e em garrafas.
OS 16 VINHOS REPRESENTATIVOS DA SAFRA 2013Categoria: Vinho Base Para Espumante |
As condições climáticas da safra de 2013 foram determinantes para muito do que se provou nas garrafas, pois, apesar da colheita ter sido 12% menor em relação ao ano de 2012 (segundo dados do Ibravin), a sua qualidade não foi afetada como um todo. A falta de chuva no período de maturação de algumas variedades – principalmente brancas e tintas precoces – fez com que a uva atingisse um bom teor de açúcar e isso, combinado a um inverno não muito rigoroso e uma primavera quente, levou algumas cepas a serem colhidas ainda no final de 2012, antecipando a safra, em média, em 20 dias no Rio Grande do Sul.
Assim, durante a degustação da safra, o que se percebeu foram vinhos brancos de elevada qualidade, com excelente concentração de aromas e muito frescor, sendo que alguns dos Chardonnay são, inclusive, talhados para um possível amadurecimento em madeira. Já os vinhos base para espumante apresentam ótima acidez e aromas bem marcados.
Entre os tintos, um detalhe bastante importante chamou a atenção neste ano: entre as oito amostras selecionadas, apenas uma era da uva Cabernet Sauvignon. Uma das explicações é o fato de as chuvas de final de verão terem se intensificado próximo da colheita da Cabernet no Rio Grande do Sul, diminuindo a concentração dos grãos em várias regiões. No entanto, é preciso considerar que existe também uma maior produção de outras variedades tintas e, por conta disso, as amostras selecionadas incluíam Merlot (duas amostras), Teroldego (duas amostras), Cabernet Franc, Marselan e Malbec. Isso mostra a diversidade da produção de qualidade dos vinhos do Brasil.
Entre as oito amostras de vinho tinto, apenas uma era de Cabernet Sauvignon
A revista ADEGA, que acabou de completar oito anos, esteve presente pelo sétimo ano consecutivo e, pela quarta vez, foi convidada para integrar a mesa de comentaristas. O publisher, Christian Burgos, foi encarregado de falar sobre a terceira amostra degustada, um vinho base para espumante da uva Chardonnay, proveniente da Casa Valduga.
Como é de praxe durante a prova, a ABE concedeu o Troféu Vitis em duas categorias. Na categoria “Amigo do Vinho Brasileiro”, o troféu foi para o jornalista gaúcho Irineu Guarnier Filho, e o troféu enológico foi destinado ao chileno Mário Geisse, dono na Vinícola Geisse.
O evento, o mais importante do calendário enológico do Brasil, sempre chama a atenção, seja pelo serviço coordenado dos vinhos – feito por mais de uma centena de alunos dos cursos de enologia e de turismo –, seja pelo comparecimento massivo do setor e de enófilos (os ingressos neste ano se esgotaram em apenas uma hora), seja pela presença de enólogos e jornalistas de todas as partes do mundo, como o enólogo-chefe da Vinícola Undurraga, do Chile (que também é vice-presidente da União dos Enólogos), Hernán Amenabar. Satisfeito, ele declarou: “O empenho, o profissionalismo e a beleza desse evento me emocionam, pois, em meus 26 anos no mundo do vinho, nunca vi nada assim”.