Os grandes vinhos pertencem à classe dos produtos cuja origem é um dado importante. Para os vinhos alemães, esse dado é fundamental.
por Euclides Penedo Borges
Os grandes vinhos pertencem à classe dos produtos cuja origem é um dado importante. Para os vinhos alemães, esse dado é fundamental.
Localizados em áreas frias de solos variados, os vinhedos da Alemanha concentram-se nos vales dos rios Mosel e Reno, às vezes em terrenos escarpados, protegidos das intempéries por serras e montanhas.
No sudoeste alemão, banhado por esses rios e seus afluentes, encontram-se onze das treze regiões vinícolas do país. As linhas a seguir se ocupam de quatro delas - Mosel, Pfalz, Rheingau, e Franken, não muito distantes das cidades em que serão disputados os jogos da Copa do Mundo de Futebol de 2006, com acesso fácil e seguro.
Mosel, um legado Romano Vindo do oeste e atravessando a fronteira com Luxemburgo, o rio Mosel serpenteia por 200 km em território alemão até encontrar o Reno, do qual é afluente. A rodovia corre paralelamente ao rio, atravessando cidades históricas, como Cochen, Trier e Bernkastel, ricas em utensílios romanos que comprovam a existência da vinicultura local há dois mil anos.
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Mosel, um legado Romano
Vindo do oeste e atravessando a fronteira com Luxemburgo, o rio Mosel serpenteia por 200 km em território alemão até encontrar o Reno, do qual é afluente. A rodovia corre paralelamente ao rio, atravessando cidades históricas, como Cochen, Trier e Bernkastel, ricas em utensílios romanos que comprovam a existência da vinicultura local há dois mil anos.
A denominação Mosel-Saar-Ruwer, como se vê nos rótulos, inclui os afluentes Saar e Ruwer do Mosel, com seus vinhos brancos da uva Riesling, delicadamente fragrantes, ricos em acidez e aromas frutados, muitas vezes com uma nuance mineral.
A base da comida regional é a carne suína - carré marinado em vinho ou costeletas com chucrute - mas inclui também, para quem gosta de extravagâncias internacionais, caracóis cozidos com uvas. Outra curiosidade é o café da manhã do vinhateiro em que o pão camponês é escoltado por lingüiças de fígado - Leberwurst - cebola e mostarda.
Em Bernkastel, encanta o trançado de madeira das casas medievais, a Prefeitura secular e o museu do vinho no histórico Hospital de São Nicolau. Trier é notável pela imponente Porta Nigra, a basílica de Constantino, uma Igreja gótica e, para aficionados, a casa de Karl Marx
Durante a Copa, no Verão, muitos darão preferência a um Sekt (espumante) bem frio, do Mosel, elaborado com a uva Elbling, a antiga Alba dos colonizadores romanos.
O rheingau e a colheita tardia
Nessa pequena região do Reno, próxima de Frankfurt no lado oeste e incluindo as cidades de Hochheim, Kiedrich e Wiesbaden, a uva Riesling impera nas encostas de ardósia, a ponto de se dispor de uma Estrada da Riesling para visitacom degustação aos numerosos vinhedos e vinícolas. Especializado em brancos secos, suaves e doces, o Rheingau tem como exceção a aldeia de Assmanshausen, onde se elaboram vinhos tintos.
Seus brancos superlativos, em especial os Kabinett e os Spätlese secos, acompanham a tradição gastronômica da Renânia, que tem na carne assada marinada - rheinscher sauerbraten - sua comida típica, servida com frutas cozidas. Mas a cozinha renana é rica em carnes de caça - veado, lebre, faisão - e nesse caso os tintos de Assmanshausen são preferidos. Além de uvas, abundam no Rheingau as amêndoas, os figos e os limões.
Um programa imperdível para o enófilo é a degustação no subsolo da abadia de Kloster Eberbach, em Winkel. Ali perto, em Johanisberg, teve origem a chamada colheita tardia, em que as uvas são colhidas somente quando supermaduras e açucaradas, destinadas a vinhos suaves ou doces.
#Q#Pfalz, o palatinado renano
Prensada entre a França e o Rio Reno, os vinhedos do Pfalz - Palatinado, em português - formam uma faixa de 80 km paralela às colinas da serra do Haardt, nas cercanias das cidades de Neustadt e Bad Dürckheim. Juntamente com as trilhas para caminhadas e ciclismo, a Estrada Alemã do Vinho - Deutsche Weinstrasse - atravessa a região cuja longa tradição vitícola se confirmaem crônicas sobre a vinha datando de 300 anos a.C.
Embutidos, lingüiças e presuntos, castanhas e amêndoas, acompanhados de vinhos locais, como os de Forst de Wachenheim, extraordinários Riesling Spätlese secos e Riesling Auslese doces justificam a máxima local: "comer, beber e ser feliz". A receita para o cozido regional começa com a recomendação "Pegue a maior caçarola possível...". Para quem gosta de uma aventura gastronômica, a iguaria palatina é à base de miúdos e sangue e se chama Saumagen (ao pé da letra, o estômago da porca).
Em Neustadt, entre os castelos dos topos das montanhas, inclui-se o Hambacher Schloss, parcialmente restaurado, fundamental na história da federação alemã. Em Bad Dürckheim você poderá comer e beber dentro do maior barril do mundo. Melhor ainda se coincidir com a Feira Anual da Salsicha de Dürckheim - a Wurstmarkt - realizada em setembro, com gigantesco consumo de salsichas e vinhos.
Franken, o "w" bêbado e a bocksbeutel
Se o Rheingau é o vizinho de Frankfurt a oeste, seu vizinho a leste é a Francônia - Franken - cuja capital Würzburg é o centro da arte barroca germânica. Situada no meio de um enorme "W" tortuoso que o rio Main formou em milênios ao tentar atravessar o vale rochoso, a Francônia distingue-se porFranken, o "w" bêbado e a bocksbeutel Se o Rheingau é o vizinho de Frankfurt a oeste, seu vizinho a leste é a Francônia - Franken - cuja capital Würzburg é o centro da arte barroca germânica. Situada no meio de um enorme "W" tortuoso que o rio Main formou em milênios ao tentar atravessar o vale rochoso, a Francônia distingue-se por vinhos brancos secos. Aqui a Riesling já não predomina. Os Franken da Kerner e da Silvaner são acondicionados em garrafas bojudas, baixas, que levam o nome sugestivo, mas pouco sutil de Bocksbeutel, ou seja, o saco do bode.
Uma especialidade são os pequenos peixes de água doce - Meerefischli - acompanhados dos vinhos locais. Mas o eisbein com chucrute e as salsichas grelhadas também serão encontradas com facilidade.
Bamberg, sede de aclamada orquestra sinfônica, atrai o turista também por sua catedral românica, pelo prédio barroco da prefeitura e pela paisagem fluvial. Würzburg, entretanto, é realmente a maravilha urbana da Francõnia, com sua ponte histórica sobre o rio Main e o rico palácio dos príncipesbispos - a Residenz - em cujas adegas subterrâneas estão as coleções de vinhos do Estado da Bavária.
Torcendo in loco
Poder íamos ir além, é claro, com outras regiões tão importantes quanto as citadas, como Baden, do balneário de Baden-Baden; o Médio Reno das lendas de Siegfried e de Lorelei, com a casa de Beethoven em Bonn; sem esquecer os aspargos, o presunto, e os bolinhos de massa com carne do Rheinhessen. Mas a lista é muito extensa de forma que as curiosidades acima restam como um abridor de apetite, em particular para quem vai torcer pelo Hexa, in loco.
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