Uma série de degustações promovidas pela vinícola Catena Zapata ao redor do mundo coloca grandes vinhos da vinícola para serem degustados ícones de outras partes do globo
Eduardo Milan Publicado em 19/11/2022, às 08h00
Degustar grandes brancos e tintos sempre é uma oportunidade de nos lembrarmos do porque o mundo dos vinhos é tão apaixonante e instigante. Melhor ainda se for possível compará-los entre si e discutir suas semelhanças e diferenças com vários experts.
É nisso em que se baseia uma série de degustações promovidas pela vinícola Catena Zapata ao redor do mundo, em que os grandes vinhos da vinícola são degustados lado a lado com ícones de outras partes do globo, principalmente europeus.
Idealizado e conduzido por Laura Catena, o evento, que recebe o nome de “Let’s talk about Terroir and Grand Vins”, segundo ela, “não tem o objetivo de determinar quais vinhos são os melhores, mas sim propor uma reflexão, de que grandes vinhos estão necessariamente ligados a grandes terroirs e vice-versa”.
Um grande lugar precisa do homem para se tornar um grande terroir, pois é ele que decide onde, o que e como plantar, quando colher e, depois de colhida a uva, o que irá fazer com ela. Ou seja, um grande vinho, está sim ligado a um grande lugar, mas acima de tudo vinculado a decisões e atitudes do homem que, por experiência e observação, vai buscar extrair o melhor vinho possível daquele lugar.
De fato, mais do que comprovar essa relação direta entre um grande lugar e um grande vinho, esse tipo degustação nos faz refletir sobre o papel determinante do homem dentro desse contexto que, às vezes, nos esquecemos ou, simplesmente, não damos a devida importância.
Na etapa brasileira, foram propostos quatro flights (dois de vinhos brancos e dois de tintos, de dois rótulos cada um), sendo sempre um vinho da vinícola Catena Zapata dentro de cada flight. Independentemente do estilo ou da origem de cada um, ao serem degustados fica claro que estamos diante de vinhos muito especiais, seja pela finesse de sua textura, seja pela nitidez de sua fruta ou pela precisão e equilíbrio do conjunto.
Enfim, a qualidade de um vinho vem de vários fatores, é resultado de uma rede complexa e delicada. Sua identidade começa no campo, mas tem relação intrínseca com o trabalho do homem, que irá interpretar esse local da melhor forma para que reflita, na garrafa que iremos provar, toda essa especialidade, enfim esse terroir. Isso se percebe pelas avaliações dos vinhos provados, que você pode conferir a seguir.
Branco elaborado exclusivamente a partir de uvas Chardonnay advindas de uma seleção de vinhedos plantados em solos calcários do vinhedo Adrianna, em Gualtallary. O vinho fermenta e estagia (entre 12 e 16 meses) em barris de carvalho francês de 500 litros (cerca de 30% não faz fermentação malolática), sendo que alguns deles desenvolvem véu de flor, como nos vinhos de Jerez.
Mais de boca, que de nariz, essa é uma ótima safra desse vinho, que esbanja frutas brancas e cítricas seguidas de notas florais, de ervas e de especiarias brancas. Mais vertical que de costume para um Stones, chama atenção pela textura firme e cremosa e pela acidez vibrante e tensa. Tem final cheio e profundo, com toques químicos, cítricos e de umami.
Branco elaborado exclusivamente a partir de uvas Chardonnay advindas de uma parcela de 0,63 hectare do vinhedo premier cru Les Porusots, com fermentação e estágio de 12 meses em barris de carvalho (20% novos) de 225 e 600 litros.
Impressiona pelos aromas de ervas, de flores e de especiarias picantes, que envolvem sua fruta branca e de caroço de perfil mais fresco. Mas, é na boca que merece atenção, com sua textura firme e cremosa e sua vibrante acidez. Tem final persistente e vertical, com toques redutivos (muito sedutores e característicos de alguns vinhos desse produtor), de umami, de limão siciliano e de giz.
Branco elaborado exclusivamente a partir de uvas Chardonnay advindas de uma seleção de vinhedos plantados em solos calcários do vinhedo Adrianna, em Gualtallary. O vinho fermenta e estagia (entre 12 e 16 meses) em barris de carvalho francês de 500 litros (cerca de 30% não faz fermentação malolática), sendo que alguns deles desenvolvem véu de flor, como nos vinhos de Jerez.
O ano fresco confere mais verticalidade a esse vinho, que sempre esbanja textura, cremosidade e volume de boca. As notas da criança biológica aportam certa untuosidade ao conjunto, com sua acidez vibrante ditando as regras. Tem final austero, profundo e persistente, repleto de notas salinas, de giz, com sua fruta branca e cítrica sempre ficando em segundo plano.
Branco elaborado exclusivamente a partir de uvas Chardonnay advindas de uma parcela de 0,33 hectare cultivada no grand cru Corton Charlemagne, com fermentação e estágio entre 12 e 15 meses em barricas de carvalho francês, sendo 20% novas.
Apenas 3 barricas foram feitas desse vinho, que mostra frutas brancas e de caroço acompanhadas de notas florais e de especiarias doces, que se confirmam no palato.
Untuoso e cremoso, impressiona pelo volume de boca, com sua acidez vibrante conferindo profundidade e fluidez a toda sua estrutura. Tem final refinado, persistente e cheio, com toques amanteigados, cítricos, de camomila, de especiarias e de abacaxi.
Tinto elaborado exclusivamente a partir de uvas Malbec advindas de uma seleção de cerca de 5 hectares do vinhedo Adrianna, em Gualtallary, plantada em solos profundos, franco arenosos, que tem uma camada final de calcário. O vinho fermenta (50% em cachos inteiros) em barris de 225 e de 500 litros, com posterior estágio de 18 meses em foudres e barris de carvalho francês. Mais uma ótima versão desse grande vinho argentino.
Tenso e fluido, chama atenção pela vibrante acidez e pelos taninos de textura firme e de grãos finos, que envolvem todas as suas frutas vermelhas e negras de perfil mais fresco, acompanhadas de notas de violetas, de ervas e especiarias. Tem final suculento e persistente, com toques de amoras, de ameixas e de giz.
Tinto elaborado exclusivamente a partir de uvas Pinot Noir advindas de uma parcela de 3,96 hectares no premier cru Les Cazetiers, em Gevrey Chambertin, com fermentação parte em madeira e parte em aço inox. O vinho estagia entre 16 e 18 meses em barricas de carvalho francês, sendo 70% novas.
Denso, untuoso e concentrado, está muito jovem, mas já mostra notas florais, terrosas e de especiarias envolvendo suas frutas negras e vermelhas maduras, que se confirmam no palato. Chama atenção pelos taninos pulsantes, pela refrescante acidez e pelo final longo e persistente, com toques terrosos, de cerejas e da passagem pela madeira.
Tinto composto a partir de uvas 61% Cabernet Sauvignon, 31% Malbec e 8% Cabernet Franc, advindas de Agrelo, de Altamira e de Gualtallary, com fermentação (10% cachos inteiros) em tanques de concreto, foudres e barricas de carvalho novas e usadas, de 225 e 500 litros. O vinho estagia 18 meses em barricas de carvalho francês de diversos usos.
Exuberante nos aromas e nos sabores, mostra notas florais, de ervas e de especiarias doces, acompanhando suas frutas vermelhas e negras de perfil mais fresco. Impressiona pela tensão, pela vibrante acidez e pelos taninos firmes e de fina textura, que equilibram o conjunto e aportam profundidade ao vinho. Tem final cativante e persistente, com toques de cassis, de grafite, de violetas e de alcaçuz.
Tinto elaborado exclusivamente a partir de uvas Cabernet Sauvignon, com estágio 20 meses em carvalho, sendo os primeiros 6/8 meses em barricas e os seguintes em grandes tanques de madeira.
Denso e estruturado, mostra ameixas e amoras maduras acompanhadas de notas florais, de ervas frescas e de especiarias, que se confirmam no palato. Chama atenção pelo caráter varietal e pelo estilo gastronômico, com sua acidez vibrante e seus taninos tensos e firmes ditando as regras. Um bom exemplo de que concentração e finesse podem caminhar juntas.