A videira Versoaln tem mais de 350 anos de história, sendo ainda a maior do mundo, e hoje produz apenas 300 garrafas de vinho por ano
Arnaldo Grizzo Publicado em 18/06/2024, às 12h00
Descubra a fascinante história da videira Versoaln, localizada na província de Bolzano, no Tirol do Sul, Itália. Esta videira, considerada uma das maiores e mais antigas do mundo, continua a produzir uvas que resultam em cerca de 300 garrafas de vinho por ano e oferece uma experiência única para os amantes do vinho e da história.
Na parte norte da Itália, conhecida por Tirol do Sul, ou ainda Alto Ádige, é quase mais comum ouvir as pessoas falando alemão do que italiano. Muitos ali, aliás, se chamam de tedescos, que nada mais é do que “alemão” em língua italiana. O nome da província, na verdade é Bolzano e, naquela região ao pé dos Alpes, não muito longe da fronteira com a Áustria, localiza-se uma das lendas do mundo do vinho.
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Aos pés do Castelo Katzenzungen, em Prissiano, cerca de 600 metros acima do nível do mar, uma videira cuja pérgula se estende por mais de 300 metros quadrados, é considerada a maior e uma das mais antigas do planeta.
Chamada de Versoaln, a população local estimava que ela fosse quase tão antiga quando o castelo, mas em 2004, o Dr. Martin Worbes, da Universidade de Göttingen, apontou que ela tinha, na verdade, pouco mais de 350 anos.
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Acredita-se que o castelo tenha surgido no século XIII. Nesta época, Henricus de Cazenzunge o cedeu para as famílias nobres de von Fink e von Schlandersberg. O castelo seguiu pelas mãos dos Condes von Thun e von Fuchs e acabou sendo propriedade dos aristocratas von Breisach, responsáveis pela impressionante arquitetura atual. Entre 1500 e 1700, o castelo foi considerado uma das residências nobres mais prestigiadas do país. Com o fim da linhagem da família Breisach, o prédio perdeu parte de sua importância e ficou em ruínas. Foi somente em 1978 que o castelo foi redescoberto por Josef Pobitzer e passado para seu filho, Ernst Pobitzer, que o restaurou.
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Contudo, voltando à vinha Versoaln, acredita-se que é uma variedade nativa, cultivada em pérgola tradicional de castanheiro. Ela cresce na encosta norte do Castelo Katzenzungen, junto a um muro, num solo de pórfiro muito pobre onde, durante séculos, se acumulou material aluvial. Por isso, o tronco, com 32 centímetros de diâmetro, e os anexos dos primeiros ramos são cobertos de terra.
Acredita-se que o nome Versoaln pode derivar de “Faxoal” ou de “Frason”, um antigo termo rural que indicava uma fileira de faixas paralelas de terra. No entanto, Versoaln também poderia referir-se à posição do cultivo da vinha, ou seja, nas encostas íngremes, em que a colheita tinha que ser transportada por meio de cordas (a expressão dialetal versoaln significa, de fato, “para prender com cordas”).
Há ainda outras teorias. Mas, enfim, a principal área de cultivo de Versoaln era o Val Venosta, conhecido pelos vinhedos íngremes em suas encostas.
A videira Versoaln produz pequenos cachos de uvas com grãos de tamanho médio. Das uvas desta vinha antiga são produzidas ao redor de 300 garrafas de vinho por ano de acordo com a safra. No mundo, somente outra videira tão antiga foi documentada até agora e ela fica em Maribor, na Eslovênia.
Em 2006, os Jardins de Sissi no Castelo Trauttmansdorff assumiram a proteção desta videira. No mês de junho, sob a vinha Versoaln, acontece a “Festa do Florescimento da Vinha”, enquanto em setembro é celebrada a vindima.
Com visitas guiadas, pode-se ir até o Castelo Katzenzungen e admirar Versoaln. Mas os jardins de Trauttmansdorff também possui tesouros vinícolas, como o Tabernaculum, a arca do tesouro produzida por três milénios de história vitivinícola do Sul do Tirol, que exibe sementes de uvas raras e a cópia em ouro de uma semente de 8.000 anos doada pela Geórgia.