Um dos principais vales vinícolas chilenos abraça a região metropolitana de Santiago
Carolina Almeida Publicado em 10/09/2019, às 13h00
Concha y Toro, o maior grupo vinícola do Chile
Há algum tempo, talvez duas décadas mais ou menos, falar em Santiago do Chile não queria dizer muita coisa. Por ser a capital e o centro econômico do país, a cidade era relacionada a um estilo de vida exclusivamente urbano, sem um viés de turismo. Mas isso mudou. Atualmente, ela é um dos principais pontos turísticos da América do Sul, sendo conhecida como a Europa latinoamericana.
Para se ter uma ideia, em 2011, a chegada de brasileiros à capital aumentou 30%, e isso não pode ser relacionado apenas à proximidade dos países e à facilidade de deslocamento. O Chile em geral – e Santiago mais especificamente – é um lugar belo, com uma riqueza cultural sem tamanho, paisagens agradáveis e povo simpático, que trata muito bem os turistas. O enoturismo, que cresce ano a ano em todas as regiões vinícolas, se tornou um dos principais atrativos da região metropolitana de Santiago, pois é ali do lado que está um dos vales mais tradicionais do país, o Vale do Maipo, que abriga algumas das vinícolas mais antigas e celebradas do país. A região respira vinho e é uma visita obrigatória, nem que seja por um dia, para quem vai a Santiago. Mas, antes de entrar no enoturismo, vamos apresentar a cozinha chilena, pois, como dizem, quem não quer arriscar, harmoniza vinho e gastronomia de uma mesma região.
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Essencialmente, a cozinha chilena está baseada na geografia e na história do país, e é uma mescla de culturas muito tradicionais por lá, como a indígena e a espanhola, que são suas bases. Mas por ser um polo, Santiago também abraça a gastronomia de todo o mundo. Lá, os frutos do mar são quase uma unanimidade, por conta da extensão da área banhada pelo oceano Pacífico. Nesse quesito, os destaques são o restaurante La Mar, do chef peruano Gaston Acurio, que conquistou o mundo com sua gastronomia moderna; o Sukald e o Borago, comandados por Matias Palomo e Rodolfo Guzmán, respectivamente. Outra parada obrigatória é o Mercado Central, que, além da bela arquitetura, atrai pelas frutas, carnes, peixes e restaurantes tipicamente chilenos. No Parque Bicentenário podemos citar o Mestizo, cuja carta de vinhos é bastante rica e diversificada.
Haras de Pirque, com sua vinícola em forma de ferradura
Um dos territórios mais importantes para a vinicultura chilena, o Vale do Maipo é a região onde estão alguns dos principais produtores, como Concha y Toro, Santa Rita, Viña Carmen, Santa Carolina, De Martino, Santa Ema, Perez Cruz, Undurraga, El Principal e Haras de Pirque, por exemplo. O Maipo é um dos mais emblemáticos dos 14 que compõem o mapa vitivinícola chileno. Foi lá que os conquistadores espanhóis plantaram as primeiras vinhas durante o período colonial, ou seja, a tradição do vinho está enraizada na cultura.
O Maipo recebe esse nome pelo rio homônimo que faz seu curso por lá. Ele nasce no alto dos Andes e desemboca no Pacífico, criando boas condições de cultivo de uvas dos dois lados de sua margem. Pela vinicultura ser centenária e muito importante, ela acabou naturalmente se tornando um atrativo turístico da Região Metropolitana de Santiago, contando com uma rota do vinho própria, do Maipo Alto, em que o visitante conhece algumas vinícolas da região: La Montaña, Chada, Haras de Pirque, Helquén, Perez Cruz e El Principal. Os tours, que são compostos de visitas e degustação, podem ser de uma ou duas vinícolas, há a opção de almoçar em alguma delas e fazer uma refeição harmonizada. Porém também é possível ter um programa diferente, e ainda assim vinícola, como andar a cavalo na Haras de Pirque (onde há criação de equinos), “harmonizar” vinhos e ecoturismo na La Montaña ou andar de bicicleta por algumas vinícolas da rota. Além destas seis, há outras vinícolas que também oferecem ótimos tours fora da rota, como a Concha y Toro, Undurraga, Tarapacá, Santa Rita, Aquitania e Cousiño Macul, entre outras (são mais de 40 vinícolas no vale). Todas elas, além de mostrar a vinícola, os vinhedos e as instalações, têm opções de degustação, algumas já incluídas no pacote, outras não.
As caves subterrâneas da Viña Santa Carolina
De maneira geral, dentro do vale, as vinícolas mais próximas de Santiago são as mais antigas, o que é refletido no estilo dos casarões. Indo desse centro em direção à costa, as vinícolas vão ficando mais modernas, pois são construções mais novas. Caso esteja em Santiago e queira fazer uma visita rápida a alguma das vinícolas, as dicas são a Concha y Toro, Santa Rita e Santa Carolina. Concha y Toro é o maior grupo vinícola do Chile e possui uma história rica. São diversas opções de visitas em que o turista vai passear pelo casarão que abrigou a família até o século XIX, ver alguns dos seus vinhedos mais especiais, poderá passear pelas lendárias adegas do mito Casillero del Diablo, além de poder provar uma série de vinhos.
Casa da Santa Rita serviu de abrigo para guerreiros da independência do Chile
Antes mesmo de ser uma vinícola, o espaço onde está a Santa Rita era dedicado à criação de gado. A casa onde dona Paula Jaraquemada, proprietária da fazenda, morava, serviu como refúgio para o libertador Bernardo O’Higgins e outros 120 guerreiros que lutavam pela independência chilena. Foi lá que eles recuperavam as energias para as batalhas que libertaram o Chile dos espanhóis. Futuramente, já como parte da Santa Rita, a casa foi declarada monumento nacional, e hoje funciona como o restaurante da vinícola, batizado de Doña Paula.
Outro monumento nacional é o casarão da Santa Carolina, que remonta a 1875, de estilo colonial. Uma de suas principais atrações é a cave subterrânea, toda feita em tijolo, com piso de terra e cheia de arcos (como uma abóbada), que dão ares romanos misturados com um certo classicismo.
Além das visitas às vinícolas, o Maipo também tem outras atrações, como o Cajón Del Maipo, um dos destinos mais procurados para aqueles que querem fazer ecoturismo e aonde a população de Santiago vai para fugir da cidade grande. Lá estão alguns parques nacionais e atividades como rafting, passeio a cavalo, caminhadas por cachoeiras ou escaladas nas montanhas dos Andes. Já na comuna de Calera de Tango você pode visitar a Fazenda dos Jesuítas, um lugar que tem mais de 100 anos de história e ir ao parque indígena Pucará de Chena, que servia como fortaleza inca antes de os colonizadores chegarem. Se estiver no vale (na comuna de Buin) durante abril/maio, aproveite para participar da autodenominada “melhor vindima do Chile”, a Fiesta de la Vendimia del Valle del Maipo, que oferece atividades que vão desde a pisa de uvas e degustações até musica ao vivo, artesanato e gastronomia.
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