As mudanças climáticas estão impactando vinhedos e impondo desafios para a produção de vinhos, aponta estudo de Bordeaux
Sílvia Mascella Publicado em 11/04/2024, às 08h00
Publicado no final de março deste ano de 2024, na revista Nature, o estudo ‘Climate change and adaptations of wine production” (Mudanças climáticas e adaptações da produção de vinho), coordenado pelo professor Cornelis van Leeuwen da Universidade de Bordeaux, revela os desafios que a indústria vitivinícola deverá enfrentar nas próximas décadas devido às mudanças climáticas.
Um dos principais dados revelados pela pesquisa é o avanço das datas de colheita das uvas em 2/3 semanas em todo o mundo, nos últimos 40 anos. Isso é resultado do aumento das temperaturas, que fazem com que as uvas amadureçam ainda numa parte muito quente do verão, alterando a composição dos grãos e consequentemente modificando a qualidade e o estilo dos vinhos.
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A pesquisa afirma que as uvas são o terceiro produto horticultural mais valioso, atrás apenas das batatas e dos tomates, com um valor de campo de 68 bilhões de dólares em 2016. A produção total do mundo em 2020 foi de 80 milhões de toneladas de uvas, colhidas de 7.4 milhões de hectares de vinhedos, sendo que quase 50% dessa produção foi de uvas para vinhos e 43% para consumo ao natural.
Uma vez que a qualidade impacta diretamente no preço, e que as regiões de produção são um dos motores da reputação de variados vinhos, uma variedade de uva bem adaptada ao clima ideal de um local é um dos atributos da produção de vinhos premium. Dessa forma, com as mudanças climáticas já em curso, a influência das regiões produtoras se altera. No estudo são citadas as regiões francesas de Bordeaux e da Alsácia como tendo registrado sistematicamente colheitas mais cedo que o normal e aumento no volume de álcool dos vinhos.
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O artigo faz uma revisão de várias pesquisas já publicadas sobre os impactos regionais das mudanças climáticas nos vinhos com o objetivo de traçar o que virá a ser uma nova geografia dos vinhos. Os pesquisadores destacam que, até o final deste século 90% das regiões tradicionais costeiras ou de terras baixas na Espanha, Itália, Grécia e no sudoeste da Califórnia correm o risco de desaparecer, em favor de regiões mais altas e frias e em parte mais secas.
Por fim, a pesquisa aponta algumas alternativas para as regiões que enfrentarão os maiores desafios, como a troca de variedades e de porta-enxertos, mudança de sistema de condução e mapeamento dos vinhedos, embora eles apontem que – a longo prazo – essas mudanças poderão não ser suficientes para que os vinhedos sigam sendo economicamente viáveis.
Para ler a pesquisa completa, acesse https://www.nature.com/articles/s43017-024-00521-5