Conheça as denominações de origem, os destaques de Alenquer, Bucelas e Óbidos, e planeje uma viagem única com vinhos excepcionais, paisagens deslumbrantes e dicas imperdíveis
Christian Burgos Publicado em 17/08/2010, às 08h50 - Atualizado em 29/11/2024, às 11h00
Lisboa é um destino que combina história, cultura e vinhos em uma experiência inesquecível. A região vitivinícola CVR Lisboa, uma das mais tradicionais de Portugal, surpreende pela diversidade de sabores e paisagens que unem o charme das cidades modernas à tranquilidade das áreas rurais.
Desde as antigas prensas romanas até os vinhos de qualidade reconhecida mundialmente, descubra tudo sobre as denominações de origem, como Alenquer, Bucelas e Óbidos, e planeje uma viagem com dicas imperdíveis de turismo, gastronomia e degustações.
Clique aqui e assista aos vídeos da Revista ADEGA no YouTube
Em Portugal, o Brasil não é apenas aceito, mas bem-vindo e desejado, sendo um destino querido para a maioria da população. Para quem aprecia boa comida, vinhos excepcionais e uma dose generosa de cultura e história, Lisboa é um prato cheio. Tudo isso temperado com a modernidade e um certo formalismo europeu.
Melhor ainda é saber que, a curtas distâncias, é possível mergulhar na história de Portugal e conhecer uma das regiões vitivinícolas mais tradicionais do país, que vive um momento especial de renovação e redescoberta: a recém-renomeada CVR Lisboa.
LEIA TAMBÉM: Napoleão e o Champagne: Uma Amizade que Brindou à História
A prensa de varas, utilizada no último século antes de Cristo, baseava-se nos estudos de Catão sobre o parafuso vertical, que, na extremidade de uma vara, erguia uma pedra usada como contrapeso às uvas. Dentro de um tanque, as uvas eram circundadas por um cinturão de largas cordas. À medida que o peso da pedra era transferido para as cordas, estas prensavam as uvas, permitindo que apenas o sumo escorresse para outros tanques de armazenamento. Assim, as uvas perdiam seu peso e a pedra voltava à posição original.
Esta é a região mais a oeste de Portugal e, como assinalou Camões em seu épico, é "onde a terra se acaba e o mar começa". Até pouco tempo, a região era conhecida como Estremadura – um nome que pouco evocava o charme do vinho, mas que se origina do termo extrema Durii, denominação criada em 909 para identificar a linha de fronteira durante a Reconquista das terras portuguesas cristãs aos mouros.
Esta ideia de linha fronteiriça foi reinterpretada por João Carvalho Ghira em seu livro Os Vinhos da Estremadura. Segundo ele, o nome pode também derivar de extremada, que, em latim, significa "escolhida".
Se tivéssemos que definir essa região vitivinícola em uma palavra, seria: diversidade. Ou talvez complexidade. A CVR Lisboa abrange tradicionais regiões próximas à capital, mas com grande variedade nos aspectos geológicos e climáticos. Essa diversidade reflete-se nos vinhos, criando uma pluralidade de tipicidades, que fazem a região ser vista como terra de paradoxos e dispersão.
Essa complexidade também está presente nos aspectos humanos, com a metrópole de Lisboa influenciando mudanças, mas coexistindo com localidades rurais a poucos minutos de distância. É possível observar essa dualidade ao cruzar a região: antigos moinhos de vento lado a lado com modernos geradores de energia elétrica.
A relação da região com o vinho remonta aos fenícios, passando pelos romanos e recebendo novo impulso dos monges na Idade Média. Durante esse longo período, a produção de vinho evoluiu junto com as inovações tecnológicas. Na Quinta do Sanguinhal, por exemplo, é possível visitar uma grandiosa sala de prensas de varas, testemunhando a história desse legado.
Na época romana, o vinho era elemento obrigatório em festividades e cultos a Baco. Durante a ocupação moura, a viticultura declinou, mas renasceu com a Reconquista Cristã, sendo incentivada pelos monges beneditinos.
No século XVIII, eventos como o Tratado de Methuen (1703), que favorecia os vinhos do Douro, prejudicaram as exportações da região de Lisboa. Em 1775, o Marquês de Pombal ordenou o arranque de vinhas para priorizar a lavoura de pão às margens do Tejo, decisão que impactou negativamente a produção local. O século XIX trouxe mais dificuldades: as invasões francesas e doenças como o oídio (1851), a filoxera (1867) e o míldio (1893) devastaram a viticultura.
Apesar desses desafios, o século XX marcou a recuperação da região, com um foco maior na qualidade. A demarcação de regiões como Carcavelos, Colares e Bucelas, em 1908, consolidou a reputação dos vinhos locais, abrindo caminho para novas denominações.
A CVR Lisboa reúne diversas denominações de origem: Alenquer, Arruda, Bucelas, Carcavelos, Colares, Encostas d'Aire, Lourinhã, Óbidos e Torres Vedras. No topo da classificação estão as denominações de origem controlada (DOC), seguidas pelo Vinho Regional Lisboa e, por último, os Vinhos de Mesa. É importante destacar que, diferentemente do conceito brasileiro, o vinho de mesa português é feito com uvas Vitis vinifera.
Em 2000, apenas 4,4% da colheita declarada obteve o status de denominação de origem, enquanto 29,3% foram classificados como vinhos regionais. O restante foi enquadrado como vinho de mesa. Essa seletividade demonstra o rigor e a busca pela qualidade na região.
PRINCIPAIS CASTAS DA CVR LISBOA |
|
Brancas Alicante Branco Alvarinho Antão Vaz Arinto, ou Pedernã Chardonnay Fernão Pires, ou Maria Gomes Jampal Malvasia Rei Rabo de Ovelha Ratinho Sauvignon Seara Nova Viosinho Vital |
Tintas Alicante Bouschet Amostrinha Aragonez, ou Tinta Roriz Baga Cabernet Sauvignon Caladoc Camarate Castelão, ou Periquita Jaen Syrah Tinta Barroca Tinta Miúda Touriga Franca Touriga Nacional Trincadeira, ou Tinta Amarela |