Por que a badalada vinícola Era dos Ventos desponta na vanguarda do vinho nacional

O movimento em torno da vinícola vem se fortalecendo faz tempo e explodiu quando o Clarete 2020 foi eleito o melhor tinto do Brasil

Redação Publicado em 09/06/2021, às 16h30

O sonho de trabalhar com menos intervenção, menos quantidade e plantar os próprios vinhedos levou a criação da Era dos Ventos

O que faz uma boa lista, não é mesmo Patrício Tapia? Ele é o autor do Guia Descorchados, referência mundial, em vinhos sul-americanos. Na recém-lançada edição 2021, o especialista elege o Clarete 2020, da Era dos Ventos, o melhor tinto do Brasil.

E agora, Luís Henrique Zanine, um dos nossos grandes enólogos, que vem, faz anos, abrindo terreno para o seu projeto pessoal, ao lado da mulher, Talise.

O gaúcho já havia experimentado festa e aplausos, quando o americano Jonathan Nossiter (sommelier e cineasta, diretor do polêmico e aclamado Mondovino, 2004) levou o seu Peverella para uma degustação às cegas, entre brancos franceses e bem-contados de Napa Valley, na Califórnia. O brasileirinho feito com o resgate das videiras que entravam em extinção no Sul do país deixou muita gente de boca aberta.

Daí para frente, os mais antenados sempre ficaram atentos ao que saía da Era dos Ventos.

Zanini, vale dizer, é um velho conhecido do cenário do vinho no Brasil, multipremiado no Descorchados com a vinícola Vallontano. O sonho de trabalhar com menos intervenção, menos quantidade e plantar os próprios vinhedos levou a criação da Era dos Ventos.

Zanini é um velho conhecido multipremiado no Descorchados com a vinícola Vallontano

Lá atrás, o projeto que tomou cara e corpo depois de que o enólogo passou uma temporada na Borgonha, terroir conhecido pela mínima intervenção.

“Esse processo criativo é muito do contato com a natureza, então é importante o vinhateiro ter seu parreiral. Era entender a natureza, entender as variedades”, defende.

Mas, Zanini, como surgiu a ideia de trabalhar com uvas como Trebbiano, Moscato, Peverella e Teroldego?

Ele conta com empolgação que essas castas italianas tradicionais foram trazidas pelos colonizadores que vieram da Bota para a Serra Gaúcha ainda no século 19. Assim, essas variedades, apesar de pouco utilizadas, já estão mais adaptadas ao terroir do Rio Grande do Sul.

“Era dos Ventos é uma forma de ser um pouco mais livre, onde eu posso colocar as coisas que gosto, levar um pouco de arte nos rótulos, convidar artistas para pintar. E também colocar as poesias que escrevo no contrarrótulo. É essa liberdade de trabalhar em um projeto que o faz tão autêntico.”

Era dos Ventos trabalha com uvas como Trebbiano, Moscato, Peverella e Teroldego

E, importante, não o enquadra em nenhum tipo de movimento, faz questão de frisar. “Penso apenas em fazer algo puro, por paixão.”  

O Era dos ventos Clarete 2020, afinal, é a essência desse pensamento.

O tinto que recebeu 93 pontos no Guia Descorchados 2021 (e 92 pontos na degustação de ADEGA) usa o antigo termo muito utilizado na Europa para designar os tintos mais leves.

Os claretes eram produzidos a partir de uma curta maceração, quando a polpa da uva fica pouco tempo em contato com as cascas. Assim adquire uma cor mais pálida. Eram feitos também com uma mistura de uvas tintas e brancas vinificadas em conjunto. Essa última foi a técnica utilizada pela Era dos Ventos.

O resultado é um vinho mais leve, porém suculento. E se antigamente eram os vinhos utilizados para matar a sede, hoje podemos dizer que é um vinho muito versátil, combinando frescor com potência.

O blend feito pela Era dos Ventos não teve sua composição revelada, o que dá ainda um toque a mais de mistério nessa, hoje, joia da vinicultura nacional, já bem valorizado, nas melhores casas do ramo. Assim como toda a linha da vinícola que traz, acima de tudo, a paixão de um vinhateiro pelo o que ele entende para essência do vinho.

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