Preços e prazeres na medida certa

Nosso repórter encontrou restaurantes que aliam os prazeres da boa culinária a uma bela carta de vinhos e, o melhor, preços justos

Ronald Sclavi* Publicado em 16/03/2006, às 11h12 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h43

Aprendi a beber chope nas mesas do Pingüim, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Lá descobri que pedir a bebida sem colarinho é sacrilégio, que beber em goles generosos facilita a degustação, e que algumas iguarias realçam seu sabor. Estabeleci meus parâmetros de qualidade e comparação. Tudo com muita simplicidade, sem pretensões de especialista e, principalmente, bebendo bastante e gastando o suficiente.

Guardadas as devidas proporções, por que é tão difícil entrar para o mundo do vinho pela porta dos restaurantes e bares? A resposta a essa pergunta reside, com certeza, na coluna da direita das cartas de vinho.

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Tire a prova: procure o seu rótulo predileto nos restaurantes e bares da sua cidade. Esteja bem sentado nessa hora. Vinhos que custam três ou até quatro vezes o seu preço de consumo são comuns em casas festejadas das principais capitais brasileiras.

A boa notícia é que essa realidade está mudando. De olho em um mercado que cresce a cada dia, alguns comerciantes apostam na possibilidade de hospedar bebedores que gostam de vinho e querem aprender sobre o assunto, sem gastar o salário do mês em uma degustação.

Como garimpeiro, percorri pacientemente quatro opções paulistanas das mais interessantes. Para todos, o mesmo desafio: uma boa relação custo x benefício na combinação entre um vinho e um prato.

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Cordeiro e Melot
Primeira parada: Café Journal, em Moema, zona sul da capital paulista. Bar em estilo retrô, aconchegante, com tijolos à vista e iluminação moderada, freqüentado por um público jovem e descontraído.

O bar começou com uma oferta pequena de vinhos e hoje possui uma adega de respeito, com mais de 500 rótulos, de 18 países e 28 importadores - daquelas que dá gosto visitar e percorrer com os olhos. A carta, dividida por países, também traz informações sobre as uvas presentes em cada vinho, o corpo e a safra da bebida.

O simpático mâitre Neuri Coleto sugeriu, sem muitas delongas, uma das especialidades da casa: croquetes de cordeiro (R$ 16,80) acompanhados pelo chileno La Joya reserva, safra 2003 (R$ 74). O quitute veio com três sachês de molho: mostarda, shoyo e hortelã. O vinho chegou na temperatura certa, servido em uma taça de primeira linha, acompanhado de uma garrafa de água St. Pellegrino, como cortesia.

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Casamento honesto e bem-sucedido. E o melhor: se você gostar do que bebeu, poderá comprar a bebida fechada e levar para casa, com descontos que variam entre 15 e 40%.

Chorizzo e Malbec
Prosseguindo o garimpo, encontramos o argentino Buenos Aires Classic, no bairro do Itaim. Lá, a especialidade fica por conta dos cortes andinos tradicionais. A carta chega com explicações sobre as principais regiões produtoras da Argentina e apresenta cerca de 300 rótulos sul americanos. Aqui, o que chama atenção é o preço. A média entre os vinhos mais comerciais é de R$ 35.

A sugestão do garçom foi o Chorizzo Premium, meia porção (R$ 32), servido com o Trumpeter Malbec, safra 2004 (R$ 50). A carne chegou macia e saborosa, acompanhada de um chimichurry sem exageros na pimenta. Uma delícia muito bem servida.

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Como era de se esperar, o vinho poderia ter uma guarda maior, mas não decepcionou. Novamente, a bebida foi servida na temperatura certa, acompanhada de água mineral. Lá, o consumidor também pode comprar vinhos e carnes para preparar, comer e beber em casa. Apenas uma dica: peça uma taça maior. A tradicional da casa, deixa a desejar.

Peixes e brancos
Para dizer que não falei dos brancos, prosseguimos o garimpo no Capim Santo, restaurante de comida brasileira contemporânea, com forte vocação para peixes e crustáceos, no coração dos Jardins. A adega montada em um ambiente reservado para cursos e degustações abriga 1500 garrafas, de 150 rótulos selecionados pela sommelier Eliana Araújo.

Entre várias sugestões assinadas pela chef Morena Leite, optamos pela costela de tambaqui com creme de palmito pupunha, servida com coulis de pequi (R$ 45). De dar água na boca só de lembrar. O vinho sugerido foi o siciliano Feudo Anancio, safra 2004 (R$ 99). Um salto de sofisticação sem, necessariamente, o aumento proporcional no preço.

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O restaurante, original de Trancoso, na Bahia, está levando a sério a cultura do vinho. Cursos, degustações e projetos (como a venda delivery via disk cook, cupons para degustação e petit decanter de 250 e 500 ml, no almoço) estão na mira do Capim.

Foto: André Montejorge.

 

Pizzas e tintos
Para quem não dispensa uma boa pizza, a dica vai para a Ritto, bar e pizzaria no bairro da Lapa. Em convênio com a loja vizinha, a casa disponibiliza uma carta com mais de 500 rótulos, de 13 países, que também podem ser vendidos separadamente, com descontos em torno de 30 % do valor praticado no restaurante.

Nossa escolha não poderia ser outra: a tradicional mussarela. Dessa vez a sugestão foi de um rótulo nacional, o Pizzato Merlot, safra 2003, produzido na região de Bento Gonçalves (R$ 39). A pizza estava ótima, com a massa na espessura certa.

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Quanto ao vinho, acho que outras opções registradas na própria carta poderiam harmonizar melhor como o prato, como, por exemplo, o uruguaio Cisplatino, corte de Tannat e Merlot. Questão de preferência. No mais, o vinho estava climatizado, em bom copo e a pizzaria oferece um serviço rápido e eficiente.

Há, certamente, muitas outras opções espalhadas pelo país. Cabe ao garimpeiro o cuidado de pesquisar, escolher com calma, ouvir sugestões e opinar sempre, sobretudo em relação aos preços. Um consumidor consciente é a única força capaz de mudar o mercado.

Serviço: 
Buenos Aires Classic
Rua Bandeira Paulista, 520
Tel.: (11) 3167-2147

Café Jorunal
Al. dos Anapurus, 1121
Tel.: (11) 5055-9454

Ritto
Rua Nanuque, 243
Tel.: (11) 3836-2166

Capim Santo
Alameda Ministro Rocha Azevedo, 471
Tel.: (11) 3068-8486

*Ronald Sclavi (rsclavi@yahoo.com.br) é jornalista e garimpeiro de adegas.

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