Arqueólogos fazem uma análise técnica para imaginar qual o vinho foi servido na Última Ceia
Maria Bolognese Publicado em 01/08/2022, às 11h30 - Atualizado às 14h30
Protagonista em muitos trechos bíblicos, desde Jesus transformando água em vinho até a última ceia, o vinho ainda é um forte símbolo do cristianismo. E se em um exercício os aspectos religiosos fossem colocados de lado, e uma análise focada na bebida, fosse feita. Quais seriam as preferências dos consumidores de vinhos na época em que Jesus viveu?
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Arqueólogos e historiadores já encontraram provas substanciais de vinificação nas regiões que Jesus teria percorrido. Para o arqueólogo Patrick McGovern, professor do Museu de Arqueologia da Universidade da Pensilvânia, o vinho servido na Última Ceia poderia ter sido muito semelhante ao Amarone de hoje, com base em evidências existentes sobre as práticas de vinificação na área naquele momento histórico.
A literatura sobrevivente diz que os vinhos locais da antiga Jerusalém e Judá foram descritos como escuros e ricos. McGovern relata ainda que o vinho das terras altas da Transjordânia central era notoriamente tão forte que “induzia o corpo a pecar".
De acordo com o pesquisador, apenas os melhores vinhos eram envelhecidos e bebidos puros. A maioria era misturada com água ou mesclada com uma gama de especiarias e ervas, como pimenta, absinto, alcaparras e açafrão, o que sugere uma semelhança com os contemporâneos coquetéis à base de vinho e as versões de mulled wine, ou vinho quente, por aqui.
No Evangelho de Marcos, um vinho com mirra é oferecido a Jesus depois que os soldados o vestiram e ele se recusa. A mirra e outras resinas de árvores exóticas provavelmente teriam sido adicionadas aos vinhos do período. Segundo o pesquisador, a idéia não era apenas encobrir os sinais de um vinho em deterioração, embora isso fosse um incentivo adicional, mas, sim, manter os vinhos por mais tempo e produzir novos e excitantes gostos para os paladares cansados.
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Outros pesquisadores também estão analisando as características dos vinhos apreciados há 2.000 anos. Guy Bar-Oz, do Instituto Zinman de Arqueologia da Universidade de Haifa de Israel, escolheu uma abordagem mais técnica para a análise, e está investigando o DNA de restos de sementes de uva para aprender mais sobre técnicas de vinificação no período.
A hipótese inicial sobre vinhos antigos da região do Negev, no sul de Israel, é que eles podem ter sido bastante poderosos; uma vez que uma característica da região é grande insolação e salinidade do solo.
A fotossíntese elevada e a pressão osmótica devido à salinidade do solo produzem uvas doces com grandes quantidades de açúcar. Então, talvez a qualidade do vinho do Negev tenha sido obtida por seu maior teor de álcool. É o que explica Bar-Oz, alertando que ainda é apenas uma especulação; uma vez que a pesquisa ainda está em andamento.