Nascida na França, a Tannat ganhou prestígio e força ao ser trazida para a América Latina
Sílvia Mascella Rosa Publicado em 17/08/2019, às 14h00 - Atualizado às 14h44
A Tannat tem origem francesa mas é a grande queridinha do Uruguai
Existem poucos casos em que a sequência de um filme é melhor do que o filme original. Mas, às vezes, isso acontece. É o caso da uva Tannat, originária da região do Madiran, no sudoeste francês, e trazida pelo imigrante bascofrancês Pascual Harriague para o Uruguai no século XIX. Em sua terra natal, é tida como uma uva selvagem de taninos agressivos, quase rústica. Mas, no Uruguai (e também na fronteira com o Brasil), o clima diferente e a habilidade dos viticultores e enólogos transformaram essa cepa em um emblema de alta qualidade e vinhos muito agradáveis (embora ainda potentes).
A região onde a Tannat se originou, no sudoeste da França, abaixo das regiões de Bordeaux e Armagnac, fica próxima da fronteira com a Espanha e o País Basco, e essa divisa natural é feita pelas altas e frias montanhas dos Pirineus. Nessa zona de Madiran e Cahors, a Tannat era, até bem pouco tempo atrás, raramente vinificada sozinha. Ela era mais comumente utilizada em cortes com a Cabernet Sauvignon e a Cabernet Franc, objetivando uma diminuição em sua alta carga tânica. O terroir alto, frio e de terrenos muito antigos influencia as características da uva que, apenas recentemente e com o uso de modernas técnicas de cultivo e vinifi cação, vem produzindo vinhos varietais mais domados em sua força natural.
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Já no Uruguai, onde os terrenos são mais baixos, e o clima é temperado-úmido com clara influência do oceano Atlântico, a Tannat encontrou no solo calcário e argiloso o local ideal para seu desenvolvimento. Ocupando quase 2 mil hectares por lá, o cultivo específico, a seleção de clones e os cuidados com as parreiras, aliados ao clima e ao solo, geraram uvas capazes de se transformar em vinhos de rara elegância.
O sommelier uruguaio Daniel Arraspide explica que, até o final da década de 1970, a uva era conhecida pelo nome de Harriague, em homenagem ao seu introdutor no país e, naqueles tempos, ela gerava vinhos mais duros, longevos e muito tânicos, embora o clima do país já tivesse se encarregado de suavizála um pouco, com o calor favorecendo o amadurecimento.
“Hoje em dia, no entanto, é possível encontrar muitos estilos diferentes de Tannat no Uruguai, desde rosés leves e frutados, passando pelos tintos jovens, pelos tintos de guarda e até mesmo licorosos, muito populares agora”, conta Arraspide.
Para coroar a presença dos vinhos da Tannat nas taças sul-americanas, seus aromas de frutas negras e vermelhas (como amoras e framboesas) costuma ser fácil de reconhecer, sua cor escura profunda e brilhante agrada aos olhos e, quando bem combinado com um pouco de amadurecimento em madeira, seus taninos intensos ficam amaciados e o vinho resultante é muito atraente.
Isso sem contar que sua alta carga tânica costuma combinar muito bem com as carnes gordurosas e com a carne de cordeiro, em um equilíbrio que agrada os apreciadores de churrasco de nossa tríplice fronteira (Argentina, Brasil e Uruguai). Para quem não tem medo de ousar, os Tannats mais elegantes (e mesmo a versão licorosa) merecem ser provados com um bom pedaço de chocolate meio-amargo e até com mousse de chocolate.
A alta concentração de taninos naturais da uva – presentes na casca e nas sementes – faz com que o vinho que a Tannat produz seja o mais rico em antioxidantes já conhecido pela medicina. O nome da uva, obviamente, vem da palavra “tanino” e as pesquisas mais recentes dão conta que, desde que bebido com moderação e por pessoas sem complicações que possam ser agravadas pelo consumo de álcool, o vinho da Tannat tem antioxidantes potentes, capazes de auxiliar na prevenção de muitas doenças, desde àquelas associadas ao envelhecimento (como o mal de Alzheimer e o de Parkinson) até (e principalmente) as doenças cardiovasculares.
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