Enófilos sempre escutam "Como faço para adquirir gosto pelo vinho?" Encontre aqui dicas para iniciar e evoluir no mundo do vinho
Arnaldo Grizzo Publicado em 14/03/2024, às 08h00
Nós, de ADEGA, que vivemos o mundo do vinho no dia a dia, já nos deparamos com as mais diversas situações e questionamentos dos nossos leitores. Uma de nossas missões certamente é divulgar a cultura do vinho e ajudar as pessoas a descobrir esse universo maravilhoso e extremamente eclético.
Sendo assim, não é incomum recebermos relatos de parentes, amigos e leitores pedindo ajuda; ou para apresentar o vinho de uma forma a conquistar o paladar de alguém que se mostra pouco afeito a essa bebida, ou então encontrar uma maneira de fazer com que aqueles que já foram introduzidos possam ir além do “vinho suave”, por exemplo, a entender que as possibilidades são quase infinitas, assim como o prazer por elas proporcionado.
Às vezes, você tem um namorado “bebedor de cerveja,” mas quer degustar um vinho no restaurante, junto com ele. Ou seja, ter todo aquele ritual de abrir uma garrafa, compartilhar a bebida, num ambiente romântico. Mas ele insiste na cerveja. Você se decepciona e acaba pedindo apenas uma taça. Como fazer com que ele possa gostar de vinho para que vocês partilhem esses momentos juntos?
Em outra situação, sua esposa bebe vinho, mas só gosta de “vinho suave”, ou seja, “docinho”. Então, quando abre uma garrafa de um rótulo seco, ela dá apenas uma “bicadinha” e você se vê obrigado a consumir todo o resto da bebida sozinho. Ela só acompanha verdadeiramente quando você abre um Vinho do Porto ou algo do gênero. Como fazer com que ela desenvolva um paladar “mais maduro” para o vinho e possa apreciar algo além do “suave”?
As situações similares são inúmeras, portanto, vamos começar do básico e depois ir aprimorando o nosso paladar. Confira as dicas.
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Quer introduzir alguém no mundo do vinho? Comece por algo fácil. Pode-se entender “fácil” por diferentes perspectivas. Uma delas seria algo não tão seco, tendendo mais para o doce, especialmente para quem tem um paladar pouco apurado ou ainda, no pior dos cenários, infantilizado. Se o cenário é esse, vale começar não pelos vinhos suaves, mas pelos doces mesmo, tipo tintos fortificados ou brancos doces, ou ainda espumantes Moscatel, por exemplo. Evite extremos de doçura, contudo. Outra alternativa pode ser começar com drinques que levam vinho, como sangria e clericot, por exemplo.
Se perceber que o caso não requer algo realmente doce, mas com uma sensação adocicada, há diversas alternativas, com tintos bem frutados e alcoólicos (o álcool geralmente ajuda a passar uma sensação “doce”) e ainda com um pouco de açúcar residual. O mesmo raciocínio vale para o caso dos brancos. Aqui, pode-se tanto optar por vinhos que tenham mais açúcar residual quanto alguns que são secos, mas, aromaticamente apresentam certa “doçura”, como os Torrontés, por exemplo. Uma boa estratégia com brancos seria pegar uma escala de vinhos alemães com diferentes graus de dulçor. Boa parte deles tende a equilibrar bem esse dulçor com acidez, o que, futuramente, ajudará na evolução do paladar para vinhos mais secos.
Por outro lado, se a questão ao redor do vinho não se centra necessariamente no dulçor, opte por apresentar vinhos descomplicados em um primeiro momento. Evite excessos de fruta, madeira ou taninos. Escolha algo leve, “vinhos de sede”, que se bebem facilmente, quase um suco, com boa acidez, frutado, corpo sutil. E outra dica é aproveitar momentos para casar vinho com comida. Desde que bem pensada a harmonização, desfrutar de um vinho se torna mais fácil do que simplesmente tentar sorver o líquido sem qualquer companhia.
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Se você já entrou no mundo do vinho, mas ainda está tateando as alternativas, evite riscos desnecessários no começo. Você não precisa investir muito. Mas isso não quer dizer, contudo, que deve procurar somente vinhos baratos. Vinhos extremamente baratos e de qualidade duvidosa podem, na verdade, fazer com que você perca completamente o gosto pelo vinho devido às experiências ruins. Ninguém volta a provar algo ruim, não é mesmo? Procure por dicas de especialistas (Adega está aqui para você sempre!) para desfrutar de um bom vinho a um preço que você considere razoável.
Se encontrar uma garrafa que lhe agrade, tente “estudá-la”. Descubra qual o produtor, o país, a região, as uvas de que é feito. Busque então rótulos similares. Pode ser do mesmo produtor (geralmente eles têm um estilo que é mantido em vinhos numa mesma faixa de preço), da mesma região ou da mesma variedade (de repente você pode descobrir que Pinot Noir é uma uva cujos vinhos, na maioria das vezes, lhe agradam).
Nesse momento, busque similaridades para, primeiramente, compreender a relação do seu paladar com o vinho. E evite extremos. Talvez não seja o momento ainda para “descobrir” vinhos laranja, por exemplo, ou variedades pouco convencionais, ou estilos de vinificação heterodoxos, ou vinhos de idade mais avançada (você provavelmente vai apreciar, mas talvez não agora). Jogue na defesa.
Já que no começo a ideia é encontrar o seu gosto, ajustar o vinho ao seu paladar ou vice-versa, você deve aprender a degustar. Há alguns rituais que muitas pessoas podem achar que não são importantes, mas, sim, fazem diferença. O primeiro deles talvez seja usar uma taça (se possível adequada) para o vinho e não um mero copo de vidro, ou, pior ainda, de plástico. Mas faz isso diferença? Sim, a experiência muda completamente. Numa taça adequada, os aromas e sabores se mostram de uma forma totalmente diferente, tornando-se muito mais ricos. Então, não é uma “frescura”.
Outro ponto fundamental é tentar degustar o vinho em sua temperatura ideal. Uma bebida quente demais pode ser desagradável, exalar álcool, parecer pesada em boca. Da mesma forma, um vinho muito gelado pode parecer muito adstringente, insosso, amargo. Cada estilo de vinho tem uma faixa de temperatura em que melhor se revela.
Em seguida, você precisa aprender a cheirar o vinho. Não deve ficar rodando a taça longa e indefinidamente no nariz, mas sim tentar captar os principais aromas, tentar decodificá-los, entendê-los e até questioná-los se necessário (de onde vem esse cheiro de grama cortada? Ou essa nota de baunilha?). Mas não se preocupe em nomeá-los (você não precisa saber que tem cheiro de pitaya, por exemplo). De qualquer forma, os aromas são os principais precursores dos sabores que vamos sentir na boca, então, quanto mais conseguimos apreciá-los, melhor vamos desfrutar do vinho.
Perceba então esses aromas e sabores, atente-se a eles para, quando for abrir a próxima garrafa, ver se encontra similaridades. A partir do momento em que começar a descobrir essas similaridades, vai começar a entender os estilos de vinho de que gosta.
Outra dica é degustar ao lado de quem já aprecia vinho e conhece sobre a bebida. Não estamos falando daquele seu cunhado falastrão, mas de pessoas que realmente estudaram o vinho, tais como sommeliers. Para isso, inscreva-se em degustações guiadas ou faça cursos rápidos em instituições sérias como ABS e WSET, por exemplo
No vinho, há muito mais do que a bebida em si. E quando você compreende isso, certamente começa a apreciar mais. Sim, há momentos em que queremos apenas sorver algo saboroso, desfrutar do momento, sem pensar em nada. O vinho serve para isso também. Aliás, talvez melhor do que qualquer outra bebida, pois há tantas variáveis que, a depender do momento, você pode escolher o mais adequado. Uma celebração? Um espumante. Um encontro a dois? Um tinto leve. Um momento de reflexão? Um fortificado ou um blend mais complexo. Uma tarde na piscina? Um rosé sutil.
No entanto, o líquido dentro da garrafa sempre carrega uma história, uma cultura milenar. Cada rótulo conta uma história e, definitivamente, quanto mais nos identificamos com ela, mais desfrutamos. Sendo assim, procure conhecer essas histórias. Quando mais conhecimento, mais saboroso fica o vinho. Como o vinho foi elaborado? Quem o fez? Por quê? Quando? Onde? Quais uvas usou? Quase sempre há algo novo e curioso para aprender sobre o universo do vinho a partir de um único rótulo. Então, se você captar tudo isso, vai valorizar ainda mais a bebida.
Diz-se que o vinho foi feito para ser bebido à mesa. Pois ele geralmente fica mesmo muito melhor quando na companhia da comida certa. Sendo assim, faça brincadeiras de harmonização e sempre tente beber uma taça com as refeições. Além de ser um hábito saudável, segundo diversas recomendações médicas, ele vai favorecer a melhor apreciação da bebida. Junto com o prato certo (uma carne grelhada talvez), um vinho muito tânico pode ser mais facilmente apreciado do que se estivesse sendo bebido sem acompanhamento. Experimente, confira dicas de harmonização tanto para evitar situações desagradáveis como para criar sinergias que podem proporcionar momentos mágicos. O pareamento entre vinho e comida definitivamente vai ajudar quem ainda está tomando gosto pela bebida.
Se você já está familiarizado com o vinho, já sabe do que gosta, está começando a pisar “fora da caixa”, uma boa maneira de ampliar seu repertório sem muitos receios é apostar nos clássicos. Um produtor só se torna renomado no mundo porque produz grandes vinhos, certo? Alguns dirão, mas e o marketing? Se a base da fama fosse somente o marketing, em pouco tempo a “carapaça ruiria”, pois se alguém não entrega qualidade, está fadado a ser relegado, especialmente em um mundo tão concorrido quanto o do vinho, em que há milhões de rótulos sendo produzidos ano a ano. Ou seja, se um rótulo se tornou um cult provavelmente é porque tem algo de especial.
Ninguém duvida da excelência de um Château Margaux, por exemplo. Por mais que uma safra tenha sido ruim, a vinícola não vai engarrafar um vinho que não atenda a seus altíssimos padrões de qualidade. Então, mesmo em um ano fraco, ele vai engarrafar uma bebida de excelência. E o mesmo pensamento vale para as diferentes linhas de um produtor consagrado. Ele certamente não colocará sua fama em jogo ao lançar um rótulo de baixa qualidade para supostamente desovar a produção ou atender a algum critério de preço. Os grandes definitivamente não se curvam a isso. Portanto, em suas buscas, não se esqueça dos clássicos. Aposte neles, pois raramente se decepcionará.
Acredita que já tem um paladar minimamente bem estabelecido para o vinho. Já sabe do que gosta e do por que gosta? Já sabe identificar o que gosta? Então está na hora de abrir o leque. Comece com pequenas ousadias. Se sua preferência é por tintos leves, dê um passo além e, de vez em quando, prove alguns teoricamente mais encorpados, com passagem mais importante por madeira etc. E vá fazendo ajustes. Se você gosta de alguma uva em particular, pesquise quais podem elaborar vinhos com características semelhantes (confira mais abaixo).
Depois, experimente coisas diferentes. “Mas não quero gastar meu dinheiro à toa em garrafas de que não vou gostar...” Não precisa. Comece a frequentar feiras de vinho. Vá até lojas que ofereçam degustação de alguns rótulos. Na próxima viagem, caso esteja em uma região produtora, visite uma vinícola e faça um tour com degustação. Monte uma confraria com seus amigos e peça para que cada um traga um vinho de estilo diferente. Pesquise, procure fontes confiáveis, veja as avaliações de especialistas (aqui no site temos a seção Melhor Vinho, onde você tem acesso a milhares de vinhos avaliados por nossa equipe) e confira se as descrições batem com o que você acredita apreciar. Enfim, prove o máximo que puder.