La Mancha destaca-se como a maior região vitivinícola da Espanha, produzindo mais de 60 milhões de litros de vinho anualmente
Eduardo Milan Publicado em 13/06/2012, às 06h49 - Atualizado em 03/02/2025, às 11h00
A forte relação da região de La Mancha com o vinho vem de longa data e está arraigada à cultura local. A obra de Miguel de Cervantes - o autor de Don Quixote -, por exemplo, faz diversas referências à bebida.
Embora os primeiros registros escritos atestando a existência de vinhedos em La Mancha datem dos séculos XII e XIII, acredita-se que as primeiras videiras foram trazidas ao local pelos romanos. A cultura vitivinícola alcançou grande expansão nos idos de 1940, quando muitos produtores se estabeleceram na região.
A expressão "La Mancha" tem origem árabe (Mantxa), cujo significado é "terra seca". De fato, a região é seca. Um provérbio local descreve o clima da DO como "nove meses de inverno e três meses de inferno". O microclima local impede a entrada de correntes úmidas e, assim, os índices pluviométricos são baixos, girando em torno de 300 e 400 cm³/ano. O clima é continental, com verões quentes - de temperaturas que chegam aos 45°C – e invernos rigorosos – quando se verifica a ocorrência de temperaturas negativas – até -15°C – e geadas prolongadas.
Por outro lado, a ocorrência de sol é de aproximadamente 3.000 horas/ano. A composição do solo é calcário-argilosa. Provavelmente daí vem a explicação para a grande extensão da área de vinhedos em La Mancha, já que, provavelmente, outras culturas não conseguiriam prosperar nessas condições.
Formalmente criada em 1976 e situada em Castilla-La Mancha, no platô central da Espanha, a DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos plantados.
De fato, é a maior DO do país e a maior área vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. A vitivinicultura é a base da economia de muitos desses municípios.
Devido às condições extremas do clima, a valente branca Airén se adaptou bem ao local, tornando La Mancha "a casa da Airén". Entretanto, essa cepa não é das mais ambiciosas. Normalmente, parte do vinho obtido a partir dela acaba por ser destilado para produção de brandy de Jerez.
Assim, é natural que, nos últimos anos, tenha se substituído as plantas de Airén por vinhedos de Verdejo, variedade bem mais promissora. Destacam-se, ainda, a Viura (ou Macabeo), a Chardonnay e a Sauvignon Blanc dentre as brancas permitidas na DO, que incluem ainda Moscatel Grano Menudo, Parellada, Pedro Ximénez, Riesling, Torrontés, Viognier e Gewürztraminer.
Na ala das tintas, destacam-se a Tempranillo (ou Cencibel, como é originalmente denominada na região), além de Grenache, Merlot, Syrah e Cabernet Sauvignon, embora possam ser cultivadas também Pinot Noir, Graciano, Malbec, Mencía, Monastrell, Moravía Dulce (ou Crujidera), Petit Verdot, Cabernet Franc e Bobal.
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Desde que o mercado internacional reconheceu o potencial da DO, novas técnicas de vinificação foram implementadas. As vinícolas se modernizaram e se focaram em produzir vinhos para agradar o consumidor. Com isso, por exemplo, as uvas brancas passaram a ser colhidas mais jovens, fator determinante para a obtenção de vinhos com acidez mais fresca e menor teor alcoólico.
A utilização de tanques de aço inoxidável - com controle de temperatura - é onipresente. Os tintos produzidos na região têm se mostrado predominantemente frutados, encorpados, frescos e aromáticos.
Outro ponto a ser notado em La Mancha é o fato de que a região - um platô no centro da Espanha - é plana, o que facilita o trabalho com a terra. Além disso, devido às características extremas do clima local, as pragas da agricultura não conseguem se estabelecer e as vinhas crescem naturalmente livres de doenças. Assim, os custos de produção podem ser mantidos num patamar baixo, o que acaba se refletindo no preço final dos vinhos.
- Por conta da escassez de chuvas, as vinhas são plantadas de modo espaçado, com aproximadamente 8 metros de distância entre as plantas. Além disso, crescem próximas ao solo, para permitir que cada uma mantenha para si a umidade existente no solo. | |
- No passado, o vinho produzido em La Mancha era mantido em ânforas de barro, as quais eram enterradas no solo, deixando apenas seu topo à mostra, de forma a garantir sua refrigeração. | |
- Paradoxalmente, embora a Airén seja cultivada em apenas poucos países, devido ao fato de constituir uma grande parte dos vinhedos da enorme região de La Mancha, acaba sendo a cepa branca mais cultivada do mundo, mais de 115.000 hectares plantados só nessa DO. | |
- Algumas pequenas vinícolas têm produzido ótimos rótulos a partir de variedades não permitidas na DO, as quais, apesar da qualidade, recebem a classificação de Vino de la Tierra. | |
- Iguarias regionais como o queijo manchego e pratos como pisto manchego (uma espécie de ratatouille) e ensopados de carne de caça e pimentões combinam bem com os vinhos da DO La Mancha. |