Segundo Voltaire, "o vinho dos reis e o rei dos vinhos" - o Barolo encontrou sua perfeita expressão na safra de 2000.
por Marcelo Copello
Enquanto a tendência mundial é de vinhos onde cada vez mais a força se sobrepõe à elegância, o Piemonte, nadando contra a corrente, é um oásis de requinte. Não por acaso, pela primeira vez em sua história, a revista norte-americana Wine Spectator concedeu o grau máximo a uma safra, a nota 100 para a vindima de 2000 no Piemonte, definida como "rica, opulenta, com taninos redondos e frutas exuberantes. Nebbiolos alcançam a perfeição". Esse sucesso de crítica veio apenas coroar uma seqüência vertiginosa de excelentes colheitas: 96-97-98-99-00-01.
Localizada no noroeste da bota, próxima à França e à Suíça, a região compõe um belo cenário montanhoso. A influência francesa é flagrante, tanto no estilo dos vinhos, como no dialeto piemontês, repleto de palavras de origem gaulesa. A gastronomia local é rica e sofisticada, marcada pelos risotos, carnes de caça e pelo cobiçado tartufo branco. Ali, 35 mil produtores cultivam 58 mil hectares de parras e produzem anualmente cerca de 300 milhões de litros do nobre fermentado.
Conhecidos como "os três B's", Barolo, Barbaresco e Barbera, são os principais produtos da enologia local. Os dois primeiros são elaborados a partir da Nebbiolo, uma cepa muito sensível ao terreno e ao clima, tardia, colhida em fins de outubro, quando a névoa (nebbia, em italiano) toma conta da paisagem, justificando seu nome. A uva Barbera matura antes, na metade de setembro, tem muita cor e boa acidez.
"O vinho dos reis e o rei dos vinhos" segundo Voltaire, o Barolo é, sem dúvida, o maior ícone vinícola de toda a bota. Seu estilo único lembra um Borgonha envolto em uma névoa tânica. Essa camada de taninos finos normalmente precisa de ao menos uma década para se dissipar e descortinar toda a elegância desse grande vinho. Pelas leis de sua DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida), todo Barolo deve ser elaborado 100% com uvas Nebbiolo, provenientes de vinhedos demarcados, com rendimento máximo de 8 toneladas de uvas por hectare, com grau alcoólico mínimo de 13% e com um mínimo de 38 meses de amadurecimento (em madeira) e envelhecimento (em garrafa) antes de chegar ao mercado.
A safra de 2000 representa o máximo que um Barolo pode atingir. Em estilo, a de 2000 lembra mais a magnífica safra de 1996, clássica, com boa acidez e taninos firmes do que a concentrada e frutada 1997. O clima em 2000 foi de muita chuva na primavera, o que ajudou as plantas a suportarem o verão extremamente quente, que resultou em maturação precoce e uma colheita muito seca, sem chuvas. Os rendimentos foram os mais baixos dos últimos 50 anos. O açúcar se concentrou (o que significa mais álcool nos vinhos), mas a acidez não foi perdida. Os vinhos de 2000 trazem uma vantagem: são concentrados, maduros, com boa fruta, podendo ser apreciados mais cedo (5-8 anos), mas mantendo um potencial de guarda que pode ultrapassar os 20 anos.
#Q#Nos números 1 e 2 de ADEGA apresentamos duas degustações verticais (várias safras de um mesmo vinho), respectivamente do Château Mouton Rothschild e o Château Cheval Blanc. Nesta edição ADEGA realizou uma prova horizontal (vários vinhos de uma mesma safra) com Barolos do histórico ano de 2000. Veja o resultado:
Barolo Gromis 2000, Angelo Gaja (Mistral). Do maior nome da região, Angelo
Gaja. Rubi entre claro e escuro com aromas onde sobressaem madeira, especiarias
(alcaçuz, anis estrelado, baunilha), tostados (café), tabaco, couro novo,
animais, cogumelos, frutas (cerejas e ameixas pretas), violetas, defumados
e toque de frescor de menta. Paladar estruturado, com 14% de álcool, bom
frescor, taninos presentes e muito finos e doces no longo final. Combina
austeridade, profundidade e elegância. Para longa guarda, merece mais
alguns anos de guarda antes de ser apreciado.
Barolo Costa di Bussia 2000, Tenuta Arnulfo (Terroir). Rubi claro com
reflexo granada. Bom ataque aromático, com perfumes de especiarias doces,
madeira, frutas maduras, frutas secas, pelica e um toque balsâmico. Paladar
aveludado e elegante, de médio corpo, com 14% de álcool e média persistência.
Pronto para beber, não deve evoluir mais, mas deverá estar ainda bem pelos
próximos 5 anos.
Barolo Castiglione 2000, Vietti (Mistral). Granada claro com reflexos
alaranjados. Ótimo ataque aromático, lembrando madeira nova, casada ao
mesmo tempo com toques de frescor e de evolução, mostrando couro novo,
especiarias (canela, cravo), café, tabaco, frutas maduras como cereja
e ameixa (não confundir com o toque de sobre-maturidade dos "modernos"
tintos sul-americanos). Médio a bom corpo, muito elegante, com taninos
finos ainda presentes que deixam a boca enxuta, boa acidez e longo final.
Já demonstra muitas qualidades, mas ainda deverá evoluir por alguns anos.
Barolo Ornato 2000, Pio Cesare (Decanter). Granada claro com reflexos
alaranjados. Nariz ainda fechado, foi se mostrando aos poucos, capitaneado
por violetas e especiarias (alcaçuz, baunilha, anis estrelado),
trazendo couro, frutas frescas, frutas cristalizadas e toques defumados
e balsâmicos. Muito encorpado, muito seco e austero, com 14% de
álcool, taninos de grande qualidade em profusão, deixam
a boca árida. Um grande vinho, para mais de 20 anos. Precisa de
ao menos 5 anos para se abrir.
Barolo 2000, Pio Cesare (Decanter). Granada claro com reflexos alaranjados.
Bom ataque no nariz, mostrando animais e vegetais (musgo e tabaco) e tostado
(café e chocolate), frutas secas. Paladar muito seco, com 14% de álcool,
no melhor estilo clássico de Barolo, com austeridade nos taninos, boa
acidez e elegância. Para longa guarda, deve evoluir, mas demonstra desde
já muitas qualidades.
Barolo Sarmassa 2000, Marchesi di Barolo (World Wine). Rubi com reflexos
na transição entre violeta e granada. Ótimo ataque
aromático, lembrando violetas, rosas, baunilha, especiarias em
profusão (pimenta, baunilha, alcaçuz), madeiras (carvalho
e cedro), toque minerais, tabaco e ameixas maduras. Encorpado, seco e
austero. Ainda um pouco fechado, taninos muito finos, bem presentes, levemente
doces, 14% de álcool, toques de frescor. Mostrou profundidade,
complexidade e longo final. Para longa guarda, precisa de um par de anos
para se mostrar melhor.
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