Em 1987, nasce o primeiro vinho ícone do Chile, em homenagem ao homem que criou a maior empresa de vinhos do país, uma das maiores do mundo
por Arnaldo Grizzo

Don Melchor talvez seja o primeiro nome lembrado por muitos enófilos quando perguntados sobre qual o principal vinho do Chile. E, realmente, este rótulo tornou-se um dos principais símbolos do vinho chileno, representando o que de melhor é produzido por lá com a casta que, muito antes da recente febre da Carménère, sempre foi o pilar de sustentação da vitivinicultura do país, a Cabernet Sauvignon.
No entanto, o nome Don Melchor remete a muito mais que somente um rótulo, pois assim era chamado o fundador da maior vinícola do Chile, atualmente um dos maiores empreendimentos vitivinícolas do mundo, a Viña Concha y Toro. Don Melchor Concha y Toro, filho de Melchor de Santiago Concha y Cerda, nasceu em 1834.
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Na época, sua família já era uma das mais importantes do Chile, com muita influência política e econômica. Tanto que o fundador da vinícola, além de possuir negócios em diversas áreas e vários países, chegou a ser membro do congresso chileno durante bom tempo.
Don Melchor era um homem de caráter e com convicções fortes. Ele chegou a lutar por leis que protegessem a instituição familiar e, por mais que tivesse ávido espírito empreendedor devido a seu lado empresarial, foi figura fundamental na criação de fundações para proteger desamparados. Enfim, era uma pessoa de muita fibra moral.

Em 1883, este visionário resolve trazer vinhedos franceses de Bordeaux para a região de Pirque, onde sua esposa, Emiliana Subercaseaux, havia herdado terras. Era o começo da história de Concha y Toro. As terras ficavam no sopé da Cordilheira dos Andes. Junto com os vinhedos veio um enólogo francês para cuidar dos vinhos.
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O sucesso foi rápido, tanto que em 1933, Concha y Toro já tinha ações vendidas em bolsa. Mais tarde, durante os anos de 1950, a empresa foi se expandindo e comprando novos vinhedos. Em 1963, nasce o Casillero del Diablo, vinho que logo se transformou no maior sucesso de vendas da vinícola e é um dos mais vendidos no mundo atualmente.
Anos antes, contudo, em 1957, Eduardo Guilisasti Tagle se juntou à Concha y Toro. Foi ele que iniciou a modernização da vinícola, focando na qualidade e nos mercados externos. Foi durante o período em que Don Eduardo esteve à frente da empresa que nasceu o rótulo Don Melchor, que veio para ser o grande ícone da vinícola.
Na época, ele acreditava que o Cabernet Sauvignon plantado em Puente Alto, no vale do Alto Maipo, tinha grande potencial. Assim, Tagle pediu ao filho, Rafael, e ao enólogo Goetz Von Gersdorff, que fossem à França visitar o “pai da enologia moderna”, Emile Peynaud para lhe apresentar os vinhos provenientes desta zona.
Diz-se que Peynaud gostou e reconheceu o valor do Cabernet de Puente Alto, mas não aceitou coordenar o projeto de Don Melchor pois já estava muito idoso para isso e indicou seu assistente Jacques Boissenot para assumir. A primeira colheita ocorreu em 1987.
O aclamado vinhedo de Puente Alto (com seu clima mediterrâneo – dias quentes e noites frias devido ao vento que sopra dos Andes, com grande oscilação térmica) possui 114 hectares e fica 650 metros acima do nível do mar, logo no pé da Cordilheira, em um solo pedregoso pobre, que surge do material que o rio Maipo vai depositando durante os anos.
A idade média das vinhas de Cabernet Sauvignon é de 20 anos. Há ainda 7 hectares de Cabernet Franc que é integrado ao vinho nos anos em que o enólogo, atualmente Enrique Tirado – um dos maiores entendedores do terroir chileno –, acredita que é necessário.
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Com o passar do tempo, a equipe de Concha y Toro detectou seis parcelas diferentes de Cabernet Sauvignon neste vinhedo e as trata de maneira independente uma da outra, respeitando as características de cada uma. Então, cada parcela é vinificada separadamente e é feito um “blend” de Cabernet para compor o vinho final.
Com as parcelas estudadas separadamente, a colheita é extremamente seletiva, assim como o processo de seleção de uvas para a vinificação é apuradíssimo. Depois do blend, os vinhos repousam de 12 a 14 meses em barricas de carvalho francesas, dois terços novas e um terço de primeiro uso. Depois disso fica ainda mais um ano em garrafa.
Don Melchor costuma ser um vinho altamente consistente desde sua primeira safra e mais especialmente após Enrique Tirado ter assumido a frente do projeto.
Confira todas as safras de Don Melchor já degustadas por ADEGA:
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