Espumantes, abadias e campanários

Conheça a região que produziu o primeiro espumante do mundo e reúne nomes internacionais da cozinha em um leilão anual

por Euclides Penedo Borges

efeito sobre foto de Manuel Vieira/Stock.XchngVocê sabia que os grandes nomes da culinária internacional - Bocuse, Ducasse, Passard... - encontram-se anualmente em torno do vinho? Sabia que, perto desse lugar, surgiu o primeiro espumante do mundo? No Domingo de Ramos, ano a ano, um grande chef preside o leilão de vinhos da cidade de Limoux, no sul da França, lugar de nascimento do espumante. Não sem razão.

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Ali, a natureza propiciou uma oportunidade fora do comum ao homem para se expressar através da vinha e do vinho. Situada na encruzilhada de duas influências climáticas distintas - a Mediterrânea e a Atlântica -, a região distingue-se por uma diversidade que faz do viticultor um conquistador, e do vinhateiro, um criador.

CLIMA, SOLO, ALTITUDE - Se, por influência do Mediterrâneo, a parte leste é quente e seca, a parte oeste apresenta- se temperada e úmida por ação do Atlântico.

Na área central, mesclam-se micro climas diversos, mais frios ao sul, próximo dos Pireneus. Solos e altitudes também contribuem para a diversidade. Terrenos de cascalhos e solos argilo-calcários alternam-se em parcelas cultivadas que se situam entre duzentos e quinhentos metros acima do nível do mar.

EXPRESSÕES DOS TERROIRS - Tudo isso nos leva a reconhecer quatro diferentes terroirs na denominação: o Oceânico, a oeste; o Mediterrâneo, no nordeste; o Alto Vale (Haute Vallée), no sul; e o terroir de Autan, no centro. Embalados pela mesma paixão, os produtores locais elaboram vinhos que procuram refletir a adequação de cada casta a cada um desses terroirs. Chardonnay, Mauzac e Chenin, entre as brancas. Cinsault, Grenache e Syrah, entre as tintas.

É assim que os brancos da Chardonnay, por exemplo, apresentam nuances minerais e persistência na Haute Valée, notas florais e de frutas secas em Autan, mel e baunilha no terroir Oceânico, aromas frutados e corpo no terroir Mediterrâneo.

Misturando tradições ancestrais com técnicas modernas, os enólogos da região esforçam-se para que seus vinhos expressem essa diversidade. Uma dessas expressões, talvez a mais fora do comum, é a Blanquette.

O PRIMEIRO DE TODOS - Nas proximidades de Limoux, em uma colina verde, pode-se ter uma idéia do que era a abadia beneditina de Saint-Hilaire, cujo campanário avista-se à distância. Ali, na primeira parte do século dezesseis, os monges chegaram ao primeiro vinho espumante do mundo, inscrevendo-se, assim, no universo dos criadores.

Conhecido ainda hoje como a Blanquette de Limoux - agora uma Denominação de Origem Controlada - essa delícia efervescente, refrescante e pouco alcoólica, é apreciada em todo o mundo.

Ao lado, encontra-se atualmente o Crémant de Limoux, cuja expressão mais elevada talvez seja o Grande Cuvée d'Aymery, da cooperativa de Sieur d'Arques.

LEILÕES E CAMPANÁRIOS - Nas aldeias em torno da cidade de Limoux, nos sábados de Aleluia, amadores e profissionais reúnem-se em torno de caves de degustação e de apresentações artísticas. Encontram-se, nas pracinhas e nas ruas, os que produzem uvas e os que fazem vinho, os que o vendem e os que o bebem.

Na manhã do Domingo de Ramos é realizada a apresentação dos vinhos do ano do Limousin, com a presença de inúmeros profissionais do mundo inteiro, em um leilão presidido por um grande nome da cozinha internacional.

Parte dos resultados do leilão é destinada à restauração do campanário (clocher, em francês), de uma das antigas igrejas e capelas locais, preservando, assim, o patrimônio cultural da região.

É dessa maneira que em Limoux se fala de um Clocher da mesma forma que se diz Château, em Bordeaux, ou Domaine, na Bourgogne.

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