Fenavinho planeja novos vôos

ADEGA enviou seu garimpeiro para a cobertura da feira. Ele verificou tendências de consumo e novidades

por Ronald Sclavi

Na Fenavinho reúne empresas de oito países e o público tootal superou as expectativas em cerca de 150

Em clima de festa com a Indicação Geográfica (IG) do Vale dos Vinhedos pela União Européia, a Fenavinho Brasil 2007 sinaliza a possibilidade de um mercado nacional bem mais organizado, unido e atraente. Mesmo longe de ser o grande momento de negócios da indústria brasileira, a feira mostra que é possível estabelecer um calendário para produtores e compradores. Essa percepção leva os organizadores a cogitar a realização do evento, na sua próxima edição, fora dos limites das Serras Gaúchas, em São Paulo, por exemplo.

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O principal motivo para tamanho otimismo são os números do Projeto Comprador, que promoveu a aproximação de compradores nacionais e estrangeiros com os nossos produtores, nos dias 8 e 9 de fevereiro. O encontro foi dividido em duas etapas: nos turnos da manhã foram realizadas as rodadas de negócios com os estrangeiros e, à tarde, com os compradores nacionais. Empresas dos Estados Unidos, Canadá, China, Estônia, Holanda, México, Inglaterra e França estavam representadas. A iniciativa contou com a parceria da Apex – Agência de Promoção à Exportação, Sebrae e Ibravin.

Na ocasião, foram realizadas mais de 500 rodadas de negócios. A expectativa é movimentar, nos próximos 12 meses, um volume de negócios superior a R$ 900 mil e um montante em exportações na ordem de US$ 1,12 milhões.

Os resultados no atacado - mesmo com um número tímido de 21 representantes brasileiros e 10 estrangeiros - animou os organizadores. No entanto, a falta de lançamentos nos stands da feira demonstra que a expectativa das vinícolas estava muito mais voltada para o consumidor. “O evento começou com o justo ceticismo dos empresários do setor”, admite o presidente da Fenavinho, Tarcísio Michelon, que acredita em uma mudança de comportamento a partir da próxima edição.

O presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), Luiz Henrique Zanini, acrescenta que o reconhecimento da União Européia traz como principal conseqüência a valorização do nosso vinho no mercado interno, funcionando como uma espécie de chancela internacional. Nas visitas às vinícolas da região, a Indicação Geográfica já está na ponta da língua dos produtores, agora bem mais otimistas.

Além do vinho, outras atrações disputavam a atenção dos visitantes

Atacado ou varejo? Ser ou não ser?
Nesse cenário, a feira vive o dilema de se posicionar como um evento de varejo ou um grande fórum de negócios. Para atender ao público turístico, a Fenavinho ofereceu um Espetáculo Cênico, com tecnologia importada dos shows do Boi Bumbá amazonense, que parou a simpática Bento Gonçalves. A ocupação turística nos finais de semana chegou a 95%. O público total superou as expectativas iniciais de visitação em torno de 150 mil pessoas.

Descontos de mais de 50% em relação aos preços normais de varejo, provocou filas nos postos da Polícia Federal do Aeroporto de Porto Alegre. Os agentes eram obrigados a abrir e conferir o lacre de cada garrafa nas sacolas e bagagens de mão dos passageiros.

Caixas e mais caixas
No melhor espírito garimpeiro, ADEGA visitou a Fenavinho revelando novidades e buscando o que é tendência pelos corredores da feira. Nesse capítulo, caixinhas empilhadas pelos balcões sinalizam as embalagens Bag - sucesso na Europa e em vários países do Novo Mundo - como o novo hit da indústria nacional, tanto para vinhos como para sucos de uva orgânicos. Explicação simples. O consumo de doses, em restaurantes e bares, vem crescendo a cada dia. Para isso, nada melhor que um vinho que pode ser consumido mesmo um mês depois de aberto. Produtores como Santa Colina já têm nas bags mais de 50% das suas vendas.

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Exclusivo
Outra novidade que ADEGA descobriu em Bento Gonçalves é uma linha especial que será lançada pela Casa Valduga. Batizada de Identidade, seus vinhos terão uma embalagem especial com uma almofada de carimbo que permite ao consumidor estampar sua digital no rótulo da bebida. Com safra 2005, esse vinho terá produção limitada a seis mil garrafas, em três variedades, vendidas diretamente para os fãs da marca, com limitação de uma caixa por pessoa.

O destaque de Identidade fica por conta do tinto Marselan – uva resultante do cruzamento da Cabernet Sauvignon com a Grenache. Vinho redondo, com álcool em torno de 14%, cheio de personalidade. Já Arinarnoa (merlot cruzada com petite verdot) e o varietal Ancelotta ainda revelam taninos duros, mas prometem boa evolução com algum tempo de guarda.

As uvas vieram de Encruzilhada do Sul, onde a centenária família Valduga mantém 100 hectares de vinhedos plantados em sistema de espaldeiro, com as uvas dispostas verticalmente, aproveitando todo o sol que o vinhedo recebe. A região, aliás, é a vedete do terroir nacional.

De lá também vêm as uvas da Lídio Carraro para suas linha Singular e Elos, safra 2005, escolhidos como vinhos dos Jogos Panamericanos Rio 2007. O primeiro, um tempranillo encorpado (13,5%) disputado a tapas entre os apreciadores da marca. O segundo, um elegante corte de Cabernet Sauvignon e Malbec, com aromas tostados.

Lídio mantém a tradição de produções limitadas e vinificação exclusiva em tonéis metálicos, apresentando-se como vinícola de boutique, título que ostenta logo na entrada da aconchegante propriedade da família, no Vale dos Vinhedos, assim como no stand da Fenavinho.

Fortaleza do Seival
A Miolo, em um dos mais bem montados stands da feira, apresentou a safra 2005 da linha Fortaleza do Seival – vinho produzido com uvas plantadas em Campanha (RS), a mais de 400 km de Porto Alegre, sob a supervisão de Michel Rolland.

O espetáculo cênico com tecnologia do Boi Bumbá

Destaque para os varietais Tannat e Tempranillo, safra 2005, vinhos com ótimo corpo e persistência incomum entre os nacionais. O primeiro vinho desta linha, o "Quinta do Seival – Castas Portuguesas", safra 2003, está perfeito para o consumo. Elaborado com Touriga Nacional, Tinta Roriz e Alfrocheiro, o vinho é diferente de tudo que a indústria nacional já preparou.

O projeto Fortaleza do Seival Vineyards prevê investimentos na ordem de R$ 30 milhões e já está pronta para vinificar in loco a safra 2007. Até então as uvas eram levadas para a sede da Miolo no Vale dos Vinhedos.

Já a Pizzato apresentou o seu primeiro espumante, um brut com 70% de chardonnay e 30% de pinot noir, aroma bem frutado e sabor fresco e macio, notas cítricas acentuadas e ótima perlage.

Entre os pequenos produtores, vinhos interessantes, com variedades que, depois de anos de ausência, voltam aos vinhedos nacionais. Um bom exemplo é a uva Barbera. Provamos exemplares bem equilibrados da Casa Perrini (Farroupilha) e Angheben (Encruzilhada).

A Fenavinho Brasil 2007 termina com a sensação de um longo caminho a percorrer. A diferença para outras edições, como atestam organizadores, visitantes e produtores, é que agora os destinos estão bem mais iluminados.

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