Selezione

Consórcio de Chianti Classico elege novo presidente e busca reafirmar sua liderança e qualidade nas colinas de Chianti com novas regras e nova classificação

por Arnaldo Grizzo

Bruno Bruchi

Não tente falar apenas "Chianti" para algum dos produtores da região mais central e alta das colinas entre Siena e Florença, pois prontamente você vai ouvir a correção: "Chianti Classico". Isso já demonstra o quanto eles defendem seu território e o orgulho que têm de serem a vanguarda da região. Diante da confusão de Chiantis pelo mundo, este consórcio de vinho - provavelmente o mais poderoso da Itália - quer marcar sua posição distinguindo-se dos demais pela qualidade, criando regras mais claras e severas para seus produtos.

A denominação Chianti vem de 1716 e é uma das que se autoproclama a mais antiga do mundo. O Consorzio Vino Chianti Classico, contudo, nasceu em 1924 com os produtores que diziam fazer os vinhos clássicos, ou seja, os originais, os primeiros da região. Foi assim criada uma DOC dentro da DOC Chianti, dita Chianti Classico, com legislação e delimitação diferentes da de Chianti. Os produtores de lá também passaram a ser os únicos a poder ostentar em suas garrafas o símbolo do Gallo Nero, o famoso galo negro da lenda florentina.

Nome da nova categoria de Chianti Classico ainda não está 100% definido

No entanto, com o passar dos anos, diante de tantas legislações conflitantes e tanta confusão entre as denominações, Chianti Classico foi, aos poucos, novamente se perdendo dentro de Chianti, sem conseguir se destacar com vinhos de mais alta qualidade, como eles mesmos alardeavam fazer. "Hoje, cerca de 25% de vinho de Chianti Classico vai de um produtor a outro sem ser engarrafado. Essa transferência de uma vinícola para outra se faz livremente. 300 hectolitros de Chianti Classico à venda são assim. Com as novas regras que estamos propondo, o vinho só será vendido depois de certificado. Essa é uma medida revolucionária. Somos o primeiro consórcio na Itália a tomar uma medida do gênero. Isso vai comportar um inevitável aumento da qualidade, pois hoje um vinho chamado Chianti Classico de qualidade dúbia pode ser livremente transferido de uma vinícola a outra. Amanhã, esse vinho só poderá ser transferido se receber aprovação. É uma medida fundamental para aumentar a qualidade," garante Sergio Zingarelli, presidente recém-nomeado do consórcio.

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Johansen Krause

Uma nova categoria
Zingarelli, aos 53 anos, proprietário da Rocca delle Macìe - fundada em 1973 pelo seu pai, o inesquecível produtor de cinema (especialmente dos famosos bangue bangues italianos) Italo Zingarelli - é o 13o presidente do consórcio, nomeado em assembleia feita em julho. Antes de instituí-lo, porém, o consórcio - preocupado com a imagem de Chianti Classico - já havia programado mudanças na DOC: "Numa assembleia em maio, deliberamos três modificações muito importantes", começa Zingarelli.

A primeira diz respeito às regras para a produção do Chianti Classico Riserva, que será mais restrita. Depois, será feita mais uma classificação, que estará acima dos Riserva. Por fim, a última mudança será na utilização do símbolo do Gallo Nero.

Francesco Guazzelli
"Chianti e Chianti Classico são dois vinhos, duas denominações, com regras completamente separadas e diferentes. [...] Para distinguir do Chianti, queremos dar maior valor e visibilidade ao Gallo Nero", afirma o presidente do Consórcio

"Duas dessas mudanças serão muito importantes em termos de marketing", diz Zingarelli. "Primeiramente, será produzida uma nova tipologia de Chianti Classico. Ainda precisamos definir o nome da nova categoria, mas provavelmente se chamará Selezione", atesta.

"Esses vinhos se posicionarão sobre os Riserva. Há o Chianti Classico e o Chianti Classico Riserva. Acima deles há o Selezione, em uma hipotética pirâmide produtiva. O vinho sairá seis meses depois do Riserva e terá características químicas e organolépticas superiores às outras duas tipologias. Isso quer dizer que Chianti Classico serão ótimos, Riserva excepcionais e essa nova tipologia vai conter vinhas também excepcionais em uma categoria mais limitada", explica o presidente.

Para quem não se lembra, os vinhos Chianti Classico Riserva só podem sair ao mercado 24 meses depois do que eles chamam de "afinamento". Sendo que três meses de "afinamento" precisam ser em garrafa. Segundo Zingarelli, "a condição para fazer parte dessa categoria, além das características organolépticas, é que o vinho deve ser produzido integralmente em vinhedos da mesma vinícola que o engarrafa. Toda a cadeia produtiva deve ser feita pela mesma vinícola", além dos 30 meses obrigatórios de "afinamento".

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Chianti Classico quer, com a nova tipologia, atrair para a DOC vinhos que hoje são considerados Super Toscanos, por exemplo

Isso vai significar necessariamente Chianti Classico Single Vineyards? "Provavelmente deverá ser um Single Vineyard, mas seguramente será um vinho produzido por uvas de vinhedos específicos. A condição necessária é que seja inteiramente produzido dentro da mesma vinícola", garante Zingarelli, que acredita que as mudanças devem ser regulamentadas pelo Ministério da Agricultura dentro de sete ou oito meses.

Segundo um estudo feito pelo consórcio, "Selezione" deve representar, com o tempo, de 5 a 8% de Chianti Classico no mercado. "Não é um coisa pequena. Essa tipologia deve conter um pouco da excelência da nossa denominação. Um pouco, porque haverá Chianti Classico e Riserva excepcionais também. Alguns vinhos que não entram em Chianti Classico hoje, amanhã, podem entrar. Alguns Super Toscanos. Queremos criar uma bela imagem dessa nova tipologia para que alguns vinhos que hoje estão fora possam entrar", acredita Zingarelli.

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Imagem do vinhedo Rancia, da Fattoria di Fèlsina. Nova classificação deverá abarcar vinhos produzidos em vinhedos específicos

Gallo em destaque
A segunda mudança importante em termos de marketing, segundo o presidente do consórcio, é relativo à imagem do Gallo Nero e seu uso. "Um argumento muito importante é marcar mais o nosso símbolo, da nossa denominação, do nosso território, do nosso vinho, que é o Gallo Nero", afirma.

"Chianti e Chianti Classico são dois vinhos, duas denominações, com regras completamente separadas e diferentes. Mas nosso nome também pertence à denominação Chianti. Isso seguramente traz alguma confusão para o mercado. Para distinguir do Chianti, queremos dar maior valor e visibilidade ao Gallo Nero, de duas maneiras. Uma, renovando o desenho do galo, fazendo-o mais moderno. creio que, em dois meses, teremos um novo galo. Ao mesmo tempo, queremos dar uma maior visibilidade ao galo na garrafa. Hoje, é obrigatório colocá-lo no selo, mas também queremos colocá-lo no pescoço da garrafa. Futuramente, o galo terá uma posição na garrafa muito mais visível. Todas as garrafas de chianti classico terão que ir com a imagem do Gallo Nero. Toda a comunicação, a publicidade e também nosso modo de nos apresentarmos será muito centrado no galo. Gallo Nero e chianti classico devem se tornar indiscerníveis."

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"Hoje o mercado requer qualidade, mas também personalidade. Em Chianti Classico há um pequeno retorno a uma barrica maior, aos botte. Um uso menos intenso da barrica. isso para trazer as características mais originais do lugar", afirma Zingarelli (abaixo)
fotos: divulgação

Melhorias esperadas
Zingarelli exalta a posição de liderança do consórcio e comenta o processo pelos quais os vinhos de chianti classico passaram nos últimos anos com o apelo de mercado para bebidas mais potentes e frutadas: "chianti mudou muito durante os anos 1990 e 2000. Foi feita uma modernização dos produtos, com uma maior estrutura. Houve uma fúria de seguir o mercado, sobretudo com a nova proposta dos países do Novo Mundo, com os vinhos de característica mais internacionais. E a Toscana foi um pouco arrastada por essa, não digo moda, mas solicitação do mercado".

"Hoje estamos indo mais no sentido da fineza do que a potência. Isso é um pouco uma volta, não digo ao passado, mas à feitura de um vinho que cativa mais pela elegância do que pela potência. Nos últimos anos, estamos trabalhando muito no sentido da fineza, elegância", pondera o presidente, que segue: "Hoje o mercado requer qualidade, mas também personalidade. Em chianti classico há um pequeno retorno a uma barrica maior, aos botte. Um uso menos intenso da barrica. Isso para trazer as características mais originais do lugar."

Para ele, depois das mudanças propostas pelo consórcio, os vinhos de chianti devem melhorar ainda mais. "Todos os produtores devem falar a mesma língua. Em chianti classico há um concentração de vinícolas importantes, conhecidas no mundo todo, e de vinhos também conhecidos, algo que dificilmente se encontra no resto da Itália. Devemos continuar trabalhando para melhorar a qualidade dos nossos produtos".

JÁ EXISTE SELEZIONE?
Para Sergio Zingarelli, a maioria dos grandes produtores de Chianti Classico já faz vinhos que poderiam ingressar na nova classificação que o consórcio propõe. "Alguns vinhos já têm teoricamente todas as características de fazer parte dessa categoria. Os vinhos que saem com dois anos e meio seguramente fazem parte dessa Selezione. Na minha vinícola, tenho o Riserva di Fizzano, que tem todas as características que podem fazer parte da nova tipologia. Assim como tantas outras vinícolas também. Fontodi tem um vinho (Vigna del Sorbo) que pode entrar tranquilamente. Fattoria di Fèlsina e outras tantas vinícolas importantes já têm vinhos que podem entrar nessa categoria".
ADEGA selecionou alguns vinhos que estão de acordo com as novas regras propostas e fez a prova.

Castellare di Castellina Chianti Classico Riserva 2004US$ 94 92 pontos
Fattoria di Fèlsina Rancia Chianti Classico Riserva 2007 US$ 29893 pontos
Rocca delle Macìe Riserva di Fizzano Chianti Classico Riserva 2006R$ 155 91 pontos

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