Primeira edição do Wine In trouxe à tona as discussões em torno do vinho nacional
por Por Sílvia Mascella Rosa
Discutir os caminhos do vinho brasileiro, nacional e internacionalmente, degustar, ouvir especialistas das mais variadas linhas e poder debater assuntos que raramente saem das mesas particulares dos enófilos foram alguns dos objetivos da primeira edição do Wine In, realizado entre os dias 22 e 23 de agosto, no espaço de eventos da Fecomércio, em São Paulo. O evento, organizado pelo enófilo Breno Raigorodsky, aconteceu em paralelo com a etapa paulistana do Circuito Brasileiro de Degustação, promovido pelo Ibravin (Instituto Brasileiro do Vinho).
“O projeto desse evento já existia há bastante tempo, mas começou a sair do papel há um ano e meio”, diz Raigorodsky, explicando que em seu formato original o Wine In pretendia ser mais acadêmico e com um estilo de fórum de discussão de ideias. No entanto, como publicitário que é, ele logo percebeu a necessidade (e oportunidade) de fazer com que essas discussões chamassem a atenção de todos os níveis de profissionais envolvidos no mundo do vinho, de quem planta uvas até quem compra no supermercado. “Por fim, entendemos que mais uma distinção tinha que ser feita, que era a de, nesse primeiro evento, abordarmos apenas os vinhos tintos, que são os que mais qualificam os mercados. Veja só, a Borgonha tem Chablis, mas não se nega que os Pinot Noir de lá são mais famosos, e um de nossos objetivos era precisamente o de discutir aquilo que mais chama a atenção quando na berlinda”, explica Raigorodsky.
No primeiro dia do evento, o cenário nacional esteve em destaque com temáticas como o “Terroir do Brasil e suas pérolas” (apresentado por um grupo de enólogos-pesquisadores da Embrapa), o “Mercado brasileiro e os vinhos produzidos para ele” (com a presença de produtores e especialistas de varejo), e “O marketing do vinho e os formadores de opinião”, que contou com representantes da mídia, inclusive o publisher de ADEGA, Christian Burgos.
A discussão seguiu para o mercado externo no segundo dia do evento, quando especialistas internacionais falaram sobre o novíssimo mundo do vinho, seu desenvolvimento nas últimas décadas e o planejamento necessário para a consolidação do país no novo cenário mundial. Entre os convidados estavam nomes como Amy Friday e Andrew Shaw (ambos da importadora inglesa Bibendum), Claudio Salgado (sommelier e design sênior do Marriott de Hong Kong), Charles Byers (escritor e radialista canadense), Daniel Marquez (Brand Ambassador de vinhos e destilados nos Estados Unidos), James Lapsley (professor do departamento de Viticultura e Enologia da UC Davis), Olivier Bourse (representante da Université de Bordeaux) e Roberto Rabachino (jornalista, professor e sommelier italiano).
Além das palestras e discussões, ocorreram degustações especiais, e como o assunto principal do Wine In era o vinho tinto, os enólogos da Embrapa conduziram uma prova com vinhos brasileiros que representavam as diferentes regiões do país (Vale do São Francisco, Flores da Cunha e Nova Pádua, da Serra Gaúcha, São Joaquim, Campanha Gaúcha, Vale dos Vinhedos e Serra do Sudeste), enquanto um grupo de especialistas internacionais promoveu uma concorrida degustação de tintos da China, Índia, România, Israel, Líbano, Grécia e Estados Unidos.
Enquanto aconteciam no Wine In as degustações especiais e os challenges que contrapuseram vinhos brasileiros aos chilenos e argentinos em duas faixas de preços (até R$ 50 e acima disso), começava no salão principal a etapa paulistana do Circuito Brasileiro de Degustação. Com 23 vinícolas apresentando seus produtos, o Circuito chegou a São Paulo depois de passar pelas três capitais da região sul, por Goiânia, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. E estará, também, em quatro capitais do nordeste durante o mês de setembro. O objetivo é levar informações e potencializar a formação da imagem dos vinhos brasileiros no mercado interno, aproximando consumidores e profissionais do setor.
ADEGA esteve presente nos dois dias do evento e selecionou alguns rótulos:
Vinícola Campos de Cima, Itaqui, Brasil (R$ 27). Da região de divisa entre o Brasil e a Argentina vêm as uvas deste Merlot com bons aromas frutados e um toque floral. Em boca, é fresco, fácil de beber e bastante agradável, com corpo médio e taninos bem colocados. SMR
Vinícola Perini, Farroupilha, Brasil (R$ 31). Bela coloração rosada intensa com bons aromas de frutas brancas e vermelhas doces com um toque floral de fundo. É meio doce e ainda assim muito refrescante e saboroso, com frescor no final de boca. SMR
Casa Venturini, Flores da Cunha, Brasil (R$ 30). Amarelo claro com toque dourado, tem aromas bem marcados de frutas tropicais não excessivamente doces e final floral. Muito fácil de beber e agradável em boca, tem estrutura e corpos médio e acidez na medida certa. SMR
Quinta Don Bonifácio, Caxias do Sul, Brasil (R$ 45). Bela coloração amarela, com aromas tipicamente frutados, com ligeiro toque de maracujá. Envolvente em boca, com boa estrutura e acidez. No retrogosto, aparece um agradável defumado, combinado com notas florais. Belo conjunto. SMR
Sanjo, São Joaquim, Brasil (R$ 72). Vinho de altitude da Serra Catarinense, este é um Cabernet que amadurece aos poucos. São belos seus aromas frutados negros, como ameixas e groselhas, mas, mais interessante ainda é no palato, com corpo macio e taninos bem integrados. Tem boa estrutura e, em boca, aparecem as notas da maturação em madeira, como café e cacau. SMR
Domno Brasil, Garibaldi, Brasil (R$ 90). O belo e profuso perlage ocupa o líquido amarelo claro e traz à tona os aromas de leveduras e um toque de fruta tropical muito convidativo. Tem bom volume em boca e certa delicadeza que busca mais um gole. Boa permanência e estrutura, limpo, seco e fresco, com ligeira mineralidade ao final. SMR
Vinibrasil, Lagoa Grande, Brasil (R$ 70). Variedades francesas e portuguesas compõem o blend deste elegante vinho nordestino, pleno de aromas de frutas negras maduras, com toques tostados e de cacau. Em boca, tem boa estrutura, com grande equilíbrio entre taninos, acidez e o dulçor da fruta. Boa persistência e final com um toque de figos secos muito atraente. SMR
Pizzato Vinhas e Vinhos, Vale dos Vinhedos, Brasil (R$ 50). É bonito de ver o delicado perlage na taça, que antecipa os aromas de frutas tropicais doces, um toque de leveduras e um pouco de nozes, como macadâmias. Excelente volume em boca, com frescor e intensidade. Há um ligeiro frutado no palato, mas que, ao final, deixa um sabor quase herbáceo. SMR
Vinícola Salton, Tuiuty, Brasil (R$ 85). O corte de partes iguais de Cabernet Sauvignon e Merlot (40%), mais 20% de Cabernet Franc, resulta em um vinho que, apesar de ainda muito jovem, tem aromas complexos de frutas negras e boas especiarias. Gostoso de beber, tem acidez bem dosada, taninos elegantes, final longo e persistente e deve evoluir muito bem com mais alguns anos de garrafa. SMR
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