A evolução fascinante do Vinho Rosé

Conheça a evolução do Vinho Rosé desde a Antiguidade até os dias de joje

Arnaldo Grizzo Publicado em 21/10/2024, às 06h00

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O vinho rosé tem uma história rica e colorida que se estende desde a antiga Grécia até os modernos vinhedos de Provence. Conhecido por sua versatilidade e beleza estética, o rosé tem conquistado paladares por séculos, adaptando-se às mudanças culturais e tecnológicas ao longo do tempo.

As origens dos rosés, desde os primeiros métodos de produção até as inovações contemporâneas que moldaram sua identidade atual, o que ajuda entender como ele continua a ser um favorito entre os entusiastas do vinho em todo o mundo.

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De acordo com o historiador Heródoto, Cleomenes, rei dos espartanos, era louco e, por isso, foi preso. Diz-se que, por ordem de seus meio-irmãos, Leônidas I e Cleombrotus, o rei foi acorrentado e morreu na prisão em circunstâncias misteriosas.

Enquanto estava na prisão, Cleomenes teria sido encontrado morto e sua morte foi considerada suicídio por automutilação. Ele aparentemente convenceu o hilota que o vigiava a lhe dar uma faca, com a qual cortou suas canelas, coxas e barriga em um suicídio brutal.

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Heródoto apresenta quatro versões diferentes que circularam na Grécia para explicar a loucura e o suicídio de Cleomenes. A mais comum era a da ira divina por ter subornado o Oráculo de Delfos.

Outra tese diz que foi pelo massacre dos soldados argivos encurralados no seu bosque sagrado após a batalha de Sepeia. Os atenienses pensavam que era por seu sacrilégio aos bosques de Elêusis. Já os espartanos sugeriram que o vinho que ele bebia sem misturar água o deixou louco.

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Pois é, na antiguidade, era considerado civilizado diluir o vinho em água. Acredita-se, então, que nessa época nasceram os vinhos rosés, porque a mistura de água no líquido – teoricamente tinto – diluiria sua cor.

Todavia, os primeiros vinhos provavelmente já eram rosados antes mesmo de serem diluídos. Durante a colheita, os viticultores geralmente esmagavam uvas tintas e brancas juntas com os pés. O mosto era então colocado em grandes recipientes de cerâmica para fermentação, resultando em um estilo oxidativo de um suco rosado, que era ligeiramente meio-seco e tânico devido ao contato com as cascas, sementes e caules das uvas. Muito diferente dos rosés frescos de hoje. 

No entanto, com o tempo, os gregos e romanos começaram a separar as uvas por cor, criando assim os diferentes tipos de vinho. Diz-se que os primeiros tintos eram frequentemente tânicos e difíceis de beber, daí também serem diluídos. Por um bom tempo, o gosto das pessoas foi pelos vinhos de cor mais clara e menos adstringentes.

O nascimento de Provence e do clarete

Estudos apontam que, no século VI a.C., os Focenses teriam trazido videiras da Grécia para Massalia (atual Marselha) no sul da França. E lá se produzia vinhos de “field blend”, as “misturas de campo” de uvas brancas e tintas que resultavam em líquidos claros, que ficaram muito famosos.

Quando os romanos chegaram à região de Provence, provavelmente já tinham ouvido falar dos vinhos rosados de Massalia. Eles teriam levado esses vinhos por rotas comerciais ao redor do Mediterrâneo, criando a fama do rosé no sul da França até hoje. 

Os romanos também plantaram vinhas – especialmente em torno de Blaye, Bourg e Saint-Émilion, no lado direito do Gironde – em Bordeaux. Mas, quando o seu império entrou em colapso, o comércio da região foi junto. Na Idade Média, o porto de La Rochelle, ao norte, era muito mais próspero, inicialmente pelas suas exportações de sal, mas rapidamente também pelo seu vinho. 

Em 1151, Henrique Plantageneta, o futuro Henrique II da Inglaterra, casou-se com Eleonor da Aquitânia – e com ela veio o dote da Aquitânia. O reino francês não cobria toda a extensão da França moderna naquela época, e a Aquitânia era um poderoso ducado independente que abrangia o sudoeste do país, incluindo La Rochelle e Bordeaux. 

MÉTODOS DE PRODUZIR ROSÉ
Saignée ou Sangramento: retira-se do tanque uma parte do mosto em maceração para a elaboração do vinho tinto. O suco separado é utilizado para fazer um rosé de cor clara. O mosto restante no tanque dá então um vinho tinto mais concentrado e mais escuro
Mistura: este método significa que uma porção menor de vinho tinto é adicionada a um tanque contendo vinho branco.

A Aquitânia se tornou inglesa. La Rochelle continuou a prosperar até que o rei da França atacou a Aquitânia; La Rochelle rendeu-se, enquanto Bordeaux jurou lealdade à coroa inglesa. Vale lembrar que, durante a Idade Média, Bordeaux produzia vinhos de cores claras que ganharam o apelido de "claret" (em latim, claritas significa "clareza"), ou seja, quase um rosé.

Os vinhos bordaleses na época eram um pouco insípidos e precisavam ser reforçados com outros de locais como Cahors e Gaillac, no interior, mas, ainda assim, no século XIV, os comerciantes – um número crescente deles britânicos – transportavam enormes quantidades de garrafas de vinho dos cais de Bordeaux todos os anos. 

As vinhas foram plantadas em torno das muralhas da cidade e particularmente em Graves, embora não no Médoc, ao norte, que acabaria por se tornar a região mais famosa – mas até os holandeses a drenarem no século XVII, era um pântano.

Grandes comboios de 200 ou mais navios de cada vez chegavam a Bordeaux todos os outonos e todas as primaveras para serem abastecidos com “clarete” e seguirem para portos ingleses e escoceses como Bristol, Londres, Leith e Dumbarton.

Quando Bordeaux esteve sob domínio britânico, os claretes se tornaram moda na Inglaterra, o maior império da época. O escritor Samuel Johnson declarou: “Quem aspira a ser um bebedor de vinho sério deve beber clarete.”

Olho de perdiz

Outro vinho famoso da Idade Média também era um rosado. Acredita-se que o estilo de vinho Oeil de Perdrix tenha se originado na região de Champagne, antes do desenvolvimento naquela região do estilo de vinho espumante que levaria seu nome.

A cor ligeiramente pálida das primeiras tentativas de criar um rosé no Marne deu origem aos vinhos conhecidos como "œil de Perdrix" ou "olho de perdiz"

Durante um período, os champenois competiram com a Borgonha pelos favores da corte real e do mercado parisiense. O vinho tinto foi particularmente popular durante esse período e a região norte de Champagne teve dificuldades em competir com os vinhos mais encorpados da Borgonha. 

Sendo assim, os produtores de Aÿ, no Marne, começaram a experimentar a criação de um vinho branco mais encorpado a partir de uvas para vinho tinto.

Apesar dos seus esforços, os champenois não possuíam conhecimentos técnicos para fazer um vinho verdadeiramente "branco" a partir de uvas tintas, produzindo em vez disso vinhos de cor ligeiramente pálida que ficaram conhecidos como "œil de Perdrix" ou "olho de perdiz".

O nome é uma referência à cor rosa pálido do olho de uma perdiz agonizante antes da morte. Oeil de Perdrix é uma denominação antiga para o vinho rosé muito claro elaborado não pelo método saignée, mas sim por "pressão direta", em que o mosto das uvas tintas é extraído e fermentado com muito pouco contato com as peles. Com a modernização da viticultura e a separação das uvas, o termo Oeil de Perdrix desapareceu na França, mas permaneceu no cantão de Neuchâtel, na Suíça.

White Zin

Aliás, as primeiras origens do vinho americano White Zinfandel, um estilo rosado de grande sucesso, podem ser atribuídas à tentativa de um enólogo da Califórnia de fazer um produto no estilo Oeil de Perdrix.

Diz-se que, na década de 1970, os vinhos brancos eram tão procurados na Califórnia que os produtores do estado não conseguiam acompanhar, então tiveram que recorrer à produção a partir de uvas tintas através do método saignée. Este método tira um pouco do suco do vinho tinto enquanto está sendo macerado para concentrar a cor, e esse líquido reservado é vinificado formando um vinho rosa claro, que originalmente ficou conhecido como “vinho blush”. 

Na década de 1970, Bob Trinchero, da Sutter Home Winery, criou o Zinfandel “branco”, que ele chamou de Oeil de Perdrix. A história que a vinícola conta é que ocorreu uma fermentação interrompida e o açúcar do vinho não se converteu totalmente em álcool.

O White Zinfandel resultante então era ligeiramente doce. Em vez de tentar corrigir o problema, a Sutter Home lançou o vinho assim mesmo e viu ele se tornar um fenômeno, pois era um estilo semelhante ao do Mateus e do Lancers, dois rosés portugueses que haviam sido uma febre no mercado mundial nos anos 1940, 1950 e 1960, e ainda estavam na mente de muitos norte-americanos.

Vinho sério?

No entanto, graças a esse estilo mais adocicado e às ocasiões de consumo descontraídas, como à beira-mar nas idílicas praias do sul da França, os rosés muitas vezes não eram considerados vinhos sérios, e sim uma espécie de subcategoria.

No entanto, nos últimos anos, essa visão vem mudando. Produtores, especialmente os de Provence, passaram a elaborar rosés premium, tendência que vem sendo seguida por muitos ao redor do planeta, principalmente depois que questões como frescor e acidez voltaram a estar em voga. Números do mercado global mostram que os rosés hoje respondem por 10% dos vinhos consumidos no mundo.

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