As cavernas abaixo das entradas de granito de 60.000 toneladas da ponte do Brooklyn eram escuras e frescas
André De Fraia Publicado em 03/06/2022, às 11h45
Em 1876 – sete anos antes da Ponte do Brooklyn ser aberta ao tráfego em 1883 – o engenheiro-chefe da obra, Washington Roebling, buscava um fluxo de receitas adicionais para compensar os gastos extras com a estrutura que elevaram os custos da construção para US$ 15 milhões, valor que equivale a aproximadamente US$ 370 milhões hoje.
Pegando o projeto de seu falecido pai, John Roebling, o engenheiro conhecia a ponte por dentro e por fora – o que significa que ele conhecia todo o potencial da ponte que outros podiam não ver, figurativa e literalmente.
Foi aí que surgiu a ideia, vendo que o ambiente formado dentro dos arcos da ponte eram escuros e mantinham uma temperatura constante por volta dos 15°, Roebling entendeu de onde poderia vir parte do dinheiro extra que precisava.
Assim, Washington Roebling fez um acordo com o proprietário de uma loja de vinhos do Brooklyn, a Rackey's Wine Company, que usou as abóbadas na base da ponte do Brooklyn como uma adega para armazene seu inventário – ali ele armazenava o principal entre seus produtos, o local era o esconderijo ideal para seus Champagne Pol Roger.
Já do lado de Manhattan a Luyties & Co foi a agraciada com uma adega. O movimento, além de gerar algum dinheiro para a construção, serviu para apaziguar os ânimos de duas empresas que tinham visto suas instalações de armazenamento serem demolidas para a construção da ponte.
As adegas tinham a capacidade de armazenar mais de cinco milhões de garrafas cada e viraram um verdadeiro labirinto, que, para ajudar na localização, receberam nomes de ruas francesas como Avenue Les Deux Oefs,e Avenue Des Châteux Haut Brion e pinturas que lembravam vinhedos europeus.
Outros locais sob a ponte foram abertos e alugados a comerciantes que armazenavam diversos produtos que se beneficiavam da atmosfera fresca das construções. Alguns registros mostram aluguéis que variavam dos US$ 500 aos US$ 5.000 dependendo do espaço e da localização, sendo o lado de Manhattan até dez vezes mais cara que o outro extremo no Brooklin.
Por cerca de 40 anos o local foi utilizado inclusive para degustações de vinhos até que na década de 1910 um forte movimento de moderação alcóolica tomou conta dos Estados Unidos e culminou na 18ª emenda e a chamada Lei Seca que proibiu a produção, comercialização e consumo de bebidas alcóolicas.
A legislação perdurou até 1933 quando os comerciantes retomaram parcialmente as adegas sob a ponte, porém com a chegada da Segunda Guerra Mundial o local deixou de abrigar o comércio de vinho.
Hoje em dia os locais são utilizados pela prefeitura de Nova York para armazenar equipamentos de manutenção e poucos são os sortudos que podem vagar por esse labirinto e ver a história que ali está escrita.