Como fatores do solo influenciam em um vinho?

Em termos técnicos, o terroir exige um esforço de entendimento, mas tudo pode ser resumido em uma boa taça de vinho

Guilherme Pinz Publicado em 20/12/2021, às 16h00

Terroir, uma palavrinha do latim que expressa um significado bastante extenso

Plantamos videiras para fazer sucos e vinhos há mais de 5.000 anos e isso significa que tivemos várias experiências positivas e negativas no processo.

Isso implicou na evolução dos aspectos tecnológicos e conhecimento mais apurados das coisas que se relacionam a este mundo fascinante. Não cabe elencar aqui elementos históricos dessa evolução, mas há um termo que continuamente movimenta empolgadas e acaloradas discussões no mundo vitícola: o terroir. 

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Uma pequena palavra que tem origem linguística no latim e expressa/explica de uma maneira bem simples a configuração de um determinado espaço geográfico para produção de um gênero agrícola. Este termo é aplicado para outros cultivares, mas ao longo do tempo, colou nos aspectos da vitivinicultura. 

Em termos técnicos, o terroir realmente exige um esforço de entendimento, pois envolve um universo de variáveis físicas e bióticas para se consolidar. Estas variáveis estão vinculadas ao contexto da geologia, geoquímica, solos, água, clima e a própria planta da uva. Cada planta se sente melhor no lugar que mais lhe agrada; assim como nós humanos, que escolhemos um lugar para morarmos e ali vivermos e nos abastecermos das coisas que precisamos para nos mantermos vivos. E este lugar é o terroir em que ela efetivamente se adapta.  

Cada casa, um sabor

Este terroir correto é o que lhe dá a possibilidade de melhor se desenvolver. Naquele local, a própria planta desenvolve um sistema radicular que se desenvolve conforme a necessidade de suprir suas carências nutritivas.

Terroir envolve diversas variáveis como geologia, geoquímica, solos, água, clima e a própria planta da uva

Esse processo de assimilação do substrato estimula um start bioquímico que libera e formata a estrutura da característica organoléptica futura do vinho. Ou seja, traz o DNA do substrato do local com toda a cartela de elementos químicos desde a rocha até a fruta; numa espécie “estrada química-orgânica”. Outrossim, particularmente, cada varietal capta e processa os elementos necessários para o seu desenvolvimento (de sua família). Isso implica que cada um precisa estar no seu ambiente de terroir correto para o seu pleno desenvolvimento.  

Temos que ter em mente que o fator terroir é nada mais que uma relação de troca entre a planta e o local onde ela está plantada. Essa relação envolve mudanças iônicas, açucares, seiva, água, minerais, aminoácidos e outros tantos. E essas são diferentes conforme o contexto local. Por exemplo, locais onde existem rochas calcárias no substrato devem liberar mais cálcio e magnésio para a planta. Locais onde existem granitos tendem a liberar mais potássio e alumínio. Locais onde existem rochas vulcânicas (basalto) tendem a liberar mais ferro e manganês, e assim sucessivamente.  

Essa relação de troca ocupa espaços geográficos distintos – que podem ir de poucos metros a dezenas de metros quadrados, nunca a centenas. Esses espaços se devem à formação dos solos oriundos do “apodrecimento” das rochas. Esse processo gera uma gama de minerais e elementos químicos que ficam disponíveis no solo, e eles se compartimentam em espaços não muito grandes. E aí entra o termo microterroir.  

As rochas

Em uma simplificação e generalização, os distintos terroirs no planeta estão sobre quatro grandes compartimentos geológicos (rochas): 

Todas as regiões vitivinícolas no mundo estão sobre um ou outro compartimento acima listado. Cada compartimento gera vários tipos de solo devido à alternância de minerais que ali na rocha existem, formando “bolsões” geoquímicos. Cada compartimento possui a tendência de disponibilizar elementos químicos padrões em cada um deles, ou seja, é possível saber com isso o tipo de rocha que existe lá embaixo só com a identificação dos elementos químicos disponíveis no solo. 

Cada compartimento gera vários tipos de solo devido à alternância de minerais que ali na rocha existem

Ainda, o solo pode ter as seguintes granulometrias (tamanho dos grãos minerais): 

Textura/Granulometria (em mm) e sua definições populares: 

Argila: <0,002 - Argilosos, limo, carbonáceos, marga, micoso, terra rossa 

Silte/limo: 0,002 a <0,06 

Areia fina, média a grossa: 0,06 a < 2 - Arenosos, friável 

Grânulo: 2 a < 60Granulosos 

Seixo/cascalho: 60 a <200 - Pedregoso, cascalhento 

Mas os solos podem ter inúmeras denominações mundo afora. Se alguém quiser ir mais a fundo sugiro pesquisar a “Classificação Brasileira de Solos – Embrapa (2006)”. 

O impacto das diferentes rochas nos vinhos

Então, quando estiverem visitando um determinado terroir, sugiro utilizar a seguinte lógica: 

 

 

Claro que outros elementos podem - e vão - influenciar no vinho, trazendo casracterísticas marcantes e, por vezes, similares. Mas o solo é sem dúvida um dos fatores principais. 

Assim, busque na sua próxima degustação fazer esse comparativo e veja na prática a influência do solo sobre o vinho.

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