Selecionamos rótulos muito especiais feitos com a uva Carmenere, que se tornou um símbolo do Chile
Sílvia Mascella Publicado em 23/04/2024, às 08h00
Antes de mais nada, duas coisas importantes: a uva Carménère é originalmente francesa e é uma variedade bem antiga, que tem parentesco com a Merlot e a Cabernet Sauvignon. E a controvérsia em sua história começa já aí, entre os parentes. A gente já conta.
Outra coisa é que, sendo francesa, o nome se escreve com dois acentos, o que não existe na língua portuguesa, mas em nossas listas e textos nós respeitamos muito as grafias originais dos nomes das uvas, apesar de aí em cima no título ela estar sem os acentos. É só para facilitar a pesquisa na internet dos apreciadores que não sabem dessa particularidade. Daqui pra baixo ela já vai aparecer como se escreve na sua França natal: Carménère.
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A Carménère aparece pela primeira vez num livro em 1783, descrita (junto da Malbec e da Petit Verdot) como sendo parte dos vinhedos em Médoc (Bordeaux) que produziam vinhos de grande qualidade. Por lá mesmo ela foi sendo comparada por muitos como tendo o mesmo potencial de produzir excelentes vinhos que a Cabernet Sauvignon. Mas ela era temperamental e menos produtiva, assim, quando a praga da filoxera chegou e dizimou seus vinhedos, ela não foi replantada e deixou de entrar nos cortes de Bordeaux, quase desaparecendo do mundo. Quase.
No Chile, uns bons cem anos depois, os vinhateiros se debatiam com a baixa qualidade de sua uva Merlot. Até que resolveram chamar um estudioso especializado em videiras (um ampelógrafo), que identificou que em meio às parreiras de Merlot estava a Carménère que amadurece várias semanas depois da Merlot, embora ambas tenham folhas parecidas e formato de cacho também.
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Quando foi separada de sua parente mais precoce (a Merlot), deixada para amadurecer em seu tempo correto, ela passou a produzir vinhos que conquistaram o paladar do mundo e que permitiram que algumas mudas fizessem o caminho de volta para a França, para serem replantadas em seu terroir original. Mas foi só a partir de 1998 que o Chile pode colocar o nome Carménère nos rótulos de seus vinhos. Em ADEGA degustamos centenas de rótulos todos os anos dessa uva e de cortes com ela. Aqui nesta lista estão exemplares muito especiais acima de 90 pontos. Aproveite!