O vinho mais velho do mundo

Urna encontrada em tumba na Espanha continha o vinho mais velho do mundo, com 2 mil anos

Sílvia Mascella Publicado em 21/06/2024, às 08h00

Urna de 2 mil anos que continha vinho branco - (C) Juan Manuel Román

O vinho mais velho do mundo ainda em estado líquido foi identificado numa urna de vidro dentro de uma tumba romana na Espanha. O estudo, publicado pelo “Journal of Archeological Science”, afirma que o vinho era originalmente branco e que tem aproximadamente 2 mil anos de idade.

A tumba, descoberta 30 km a oeste de Sevilha, em Carmona, era um mausoléu romano provavelmente familiar, que continha 8 nichos, dois deles estavam vazios e seis deles continham urnas de vidro, pedra sabão e argila, com diferentes produtos dentro, sendo que um deles continha cinzas, provavelmente de uma cremação.

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A urna número 7 continha um unguento e pedras de âmbar, enquanto a urna número 8, muito bem preservada, como afirma o estudo, era uma “olla ossuaria” de vidro com alças em formato de M. Essa urna estava dentro de outra com uma tampa. A urna continha um líquido ligeiramente avermelhado que, a princípio, os pesquisadores imaginaram que se tratava de algum produto ritualístico utilizado na cremação, pois a pesquisa comprovou que essa urna também continha cinzas.

(a) Visão geral da tumba, (b) altura do local, (c)urna de vidro onde estava o vinho, (d) urna de barro que continha a urna de vidro - Imagens de Juan Manuel Román

 

No entanto, os pesquisadores da Universidade de Córdoba, responsáveis pelo estudo, alertam sobre o valor religioso do vinho na civilização romana antiga e afirmam que não era raro encontrar recipientes que podiam ter contido originalmente vinho e água nas tumbas. A raridade está em encontrar o produto em sua forma líquida, passados milênios.

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Para confirmar que se tratava de vinho, os pesquisadores fizeram diversas análises. A primeira mostrou que o o pH era de 7,5, o que é mais alto que os Jerez Fino produzidos atualmente na mesma região. Isso indicou que o produto já estava em fase de intenso decaimento. No entanto, o perfil dos minerais encontrados na urna, sugerem que o vinho é compatível com os Jerez Fino de Montilla-Moriles, uma DO que não fica distante de Carmona.

Os pesquisadores também fizeram análises para saber se o líquido avermelhado continha polifenóis e o resultado foi positivo para vários marcadores de polifenóis, embora já bastante decaídos. Por fim, foram feitas análises para determinar se o vinho era tinto ou branco, através do ácido siríngico, que se forma pela decomposição dos principais pigmentos dos vinhos tintos. Mas, como esse ácido não estava presente, os pesquisadores concluíram que o líquido da urna era um vinho branco e que ainda apresentava uma concentração baixa de álcool.

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