Praga que ataca vinhedos pode fazer desaparecer um dos Champagnes da Bollinger
Silvia Mascella Publicado em 13/12/2023, às 08h00
Na segunda metade do século 19 um pequeno inseto mudou para sempre a vitivinicultura mundial, a Phylloxera vastatrix. Enormes extensões de vinhedos desapareceram, vinícolas foram à falência, houve desabastecimento do mercado e, o pior, a praga nunca sumiu completamente.
A ciência descobriu, depois de décadas de profunda crise, como replantar os vinhedos atacados pela praga (o inseto, que vive no solo, suga a seiva da videira e vai matando a planta aos poucos), através da enxertia das videiras de uvas finas em 'cavalos' de uvas não viníferas, resistentes ao inseto.
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Apenas um país ficou imune à filoxera, o Chile, por conta das barreiras naturais das Cordilheiras e do frio do Oceano Pacífico. Mas no restante do mundo do vinho ela seguiu fazendo estragos em quase todos os lugares, com poucas exceções.
Uma delas é um pedaço de terra em Aÿ, perto de Épernay, em Champagne. Mais especificamente dois vinhedos, o Les Chaudes Terres e o Clos St Jacques, que constituem terras lendárias que abrigam as Vieilles Vignes Françaises (Velhos Vinhedos Franceses) da Maison Bollinger, jamais atacados pela filoxera.
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Desses vinhedos de Pinot Noir, que guardam parte da história mais antiga da própria região de Champagne, saem as uvas produzidas com o que a enologia chama de 'pé franco', ou seja, uma planta não atacada pela praga e portanto nascida originalmente no local.
Com essas uvas é feito um dos produtos mais especiais da Maison, o Vieilles Vignes Françaises, um Champagne cujo vinho base é amadurecido 100% em barricas de carvalho e que possui apenas 6 gramas de açúcar residual por litro. A safra disponível no mercado é a de 2012, que teve apenas 2193 garrafas.
No entanto, o tempo foi implacável e a natureza tomou seu curso, mesmo com todo o cuidado que a empresa tem para preservar os vinhedos, a praga se aproximou e já derrubou a produção, que foi de mais de duas mil garrafas em 2012 e neste ano não vai chegar a mil garrafas.
"Nós nunca entendemos realmente como esses vinhedos sobreviveram tanto tempo à filoxera, que está presente em toda a região de Champagne. Uma das hipóteses é o fato de que os invernos eram muito frios, com temperaturas abaixo de zero, e isso mata a larva do inseto. Mas com a mudança climática e o aquecimento, a planta está sob stress, o que facilita a ocorrência de doenças e a aproximação da filoxera", explicou Charles-Armand de Belenet, da Bollinger em recente entrevista a um site inglês.
Com a produção desses vinhedos especiais tendo caido já quase 80% segundo a empresa, é provável que esse Champagne tão especial deixe de existir nos próximos anos. Se você puder dispor de aproximadamente 7.500 reais, é o momento de comprar sua garrafa e degustar, antes que acabe. Mas se não puder, a Bollinger segue tendo outras linhas de Champagne que não estão sendo afetados pela praga antiga.