Durante a primavera é que acontece o famoso choro da videira, veja como a estação das flores influencia no vinho
Redação Publicado em 23/09/2022, às 12h15
O silêncio do inverno no parreiral começa a ser quebrado pela discreta aparição de lágrimas. O chamado "choro da videira" é quem anuncia a chegada da primavera aos vinhedos. Mas como essa estação influencia o vinho?
O aumento da temperatura e a alteração das horas de sol do dia fazem com que a seiva volte a circular com força dentro da planta, através da raiz e do caule, subindo para os galhos podados.
A poda seca, quando feita no final do inverno, estimula a planta a pegar a seiva das raízes e fazê-la circular até as extremidades. A seiva, rica em nutrientes do solo (como nitrogênio, fósforo e potássio) será a garantia de que a planta terá como se sustentar daí em diante.
Os agrônomos, nessa fase, precisam estar atentos para que a vinha esteja recebendo os nutrientes de que precisa, pois, solos mais áridos são mais pobres em nutrientes e algumas correções podem ser necessárias. No entanto, o excesso de nutrientes pode resultar em plantas vigorosas e bonitas, mas em frutos pouco concentrados e debilitados, além de maior chance de pragas.
Na primavera, as videiras começam a brotar de acordo com as cepas, algumas são mais tardias e só romperão as gemas no final de setembro ou até início de outubro, outras são mais precoces e o final do inverno, de algumas regiões, já traz o espetáculo dos verdes-claros e muito vivos dos brotos irrompendo nos galhos marrons.
A poda verde ou desbaste são procedimentos que também ocorrem nessa estação. Visam não somente permitir a passagem de ar e de sol através da remoção das folhas, como também alguns pequenos cachos serão arrancados, fazendo com que os nutrientes se concentrem nos cachos restantes
A beleza, no entanto, vem acompanhada de preocupação para os vinhateiros. Na poda seca, eles já praticamente determinaram sua produção do próximo ano, e alguns rigores da natureza (como uma geada de primavera) podem comprometer essa delicada fase e toda a produção que está por vir.
O contínuo e crescente aquecimento do solo também favorece o aparecimento de pragas, que muitas vezes coincidem com a época da floração.
Bela e delicada, essa fase dura cerca de 20 dias e, em condições ideais de sol e brisa, fica garantida a polinização das flores, a fertilização e a fixação dos frutos.
Chuva pesada, geada, ventos fortes ou (pior dos piores) granizo são pesadelos recorrentes nessa época. Mesmo no Brasil, de vitivinicultura tão jovem, já são utilizadas telas protetoras nas áreas mais altas de Santa Catarina, braseiros estrategicamente colocados no meio dos vinhedos (como o que vimos na França em 2021), que mantêm a geada à distância e outras defesas mecânicas que visam minimizar os riscos para a colheita.
Para o enófilo, a época marca a volta do calor, ou em alguns casos a continuação depois de um inverno quente como foi 2022. Porém o fato é que as tardes um pouco mais longas convidam para uma bela taça de vinho ao ar livre.
Com o clima ainda ficando quente e ainda não estável, as opções são diversas, dos espumantes aos tintos:
Um Prosecco Rosé elaborado a partir de 85% Glera e 15% Pinot Noir. Grata surpresa, chama atenção pela textura fina e cremosa e pela acidez refrescante. Gostoso de beber, tem final persistente, com toques cítricos que convidam a uma segunda taça.
Um branco fresco, nascido sob influência atlântica a partir de Arinto, Fernão Pires e Viognier, sem passagem por madeira, mas mantido 5 meses em tanques de aço inox. O resultado é um vinho cativante, repleto de notas florais e de ervas que pedem a companhia de peixes brancos grelhados.
Esse vinho é uma parceria do grande produtor do Languedoc, Gérard Bertrand, o rock star Jon Bon Jovi e seu filho mais velho, Jesse Bongiovi. O rosé é um blend de 60% Grenache, 15% Cinsault, 15% Mourvèdre e 10% Syrah, com estágio de parte do vinho durante 2 meses em barricas de carvalho francês. Capaz de encantar os amantes de brancos e de tintos, alinha finesse e personalidade. Tem fruta lembrando cereja madura associada a bastante ervas no ponto exato para encantar e torná-lo mais longo e persistente, além de equilibrar o conforto de dulçor com muito boa acidez, ampliando assim sua capacidade gastronômica.
Biodinâmico, este 100% Bonarda, cultivadas em Agrelo, destaca-se pela sua fruta, acompanhada por notas florais, de ervas e de especiarias. Gostoso de beber, tem acidez afiada, taninos numerosos e de ótima textura e final frutado e saboroso, com toques de amoras e cerejas pretas.