Além do trocadilho, o espumante canadense não é nem mesmo feito com a uva Glera
Silvia Mascella Rosa Publicado em 26/04/2022, às 05h30 - Atualizado às 08h00
Dois amigos canadenses, coincidentemente ambos chamados Jason, decidiram há alguns anos, fazer um vinho em homenagem à amizade e que tivesse a pegada de leveza de seus encontros ao redor de taças e garrafas. Homenageando o que, aqui no Brasil, a gente traduz como “brodagem, eles criaram um vinho espumante chamado “Brosecco”.
Os italianos do Consórcio de Tutela da DOC de Prosecco não acharam a piada engraçada, não "compraram" o trocadilho da irmandade com o principal espumante do país e, através da empresa de advocacia Bereskin & Parr, processaram os dois amigos no Canadá, que agora procuram os meios jurídicos legais de manter o nome que criaram.
O problema, além do trocadilho, é que o espumante não é nem mesmo feito com a uva Glera, única uva permitida na região de Prosecco. O enlatado é feito com a uva Vidal, uma uva híbrida (criada em laboratório na França através da combinação das uvas Ugni Blanc (vinífera) com a Seibel 4986 (não vinífera) que é a segunda uva branca mais plantada na área da Península de Niagara, na Província de Ontario, zona de origem do vinho.
Há quase duas décadas o Consorzio di Tutela della Denominazione di Origene Controllata Prosecco, o conselho regulador da DOC italiana, vem trabalhando para conter as imitações do produto que é um símbolo da região nordeste da Itália e cujo valor de marca é altíssimo. Há muita briga para comprar pelo mundo, pois os italianos esperam que o Prosecco tenha o mesmo tratamento que tem a região de Champagne. Já entraram em disputa com uma "Rota do Prosecco" na Alemanha, com o Prošek croata e até mesmo com produtores do sul do Brasil.
"Nós estamos tentando, através dos advogados, dar opções para que eles nos permitam utilizar ao menos 'secco' (que significa apenas 'seco' em italiano). Já tentamos colocar na lata 'não é Prosecco' ou escrever grande 'feito no Canadá', mas eles são irredutíveis", disse Jason Meyers, um dos brothers. Como o custo do processo contra o governo italiano é enorme e os amigos não podem arcar com esses valores, eles estão quase decididos a trocar o nome do vinho para Bro/XO.